No discurso de sábado passado na Arena de Verona sobre a guerra e a paz, o Papa Francisco disse que todos os conflitos têm algo de labiríntico, um lugar onde o homem fica como que atolado, paralisado, incapaz de encontrar a saída. Não é a primeira vez que o Papa, dirigindo-se aos governantes das nações e aos jovens, utiliza a imagem do labirinto. No final do livro-entrevista com Austen Ivereigh, Let us dream, de 2020, por exemplo, fez também algumas referências literárias, como Borges e Chesterton, para explicar certas situações: o mundo contemporâneo está fechado num labirinto, ou melhor, fechou-se num labirinto do qual «só pode sair de duas maneiras: para cima, descentralizando e transcendendo, ou deixando-se guiar pelo fio de Ariadne. Neste momento, dentro de um labirinto está o mundo inteiro, e nós vagueamos dentro dele procurando não ser devorados por vários “minotauros”».
Portanto, sai-se quer “horizontalmente”, graças a um “fio”, quer “verticalmente”, para cima; em Verona, o Papa utilizou também o verbo “salir”, que em espanhol significa “sair”: «De um conflito nunca se sai sozinho, é necessária a comunidade, é necessária a ajuda da família e dos amigos, mas de um conflito nunca se pode sair sozinho. E, em segundo lugar, só se sai de um conflito “de cima”. Caso contrário, desce-se».
Uma “recapitulação” do mito grego do labirinto pode revelar-se útil. Este famoso edifício de Creta foi construído pelo grande arquiteto e inventor Dédalo, que era também um dos três homens que dele saíram vivos. Isto já nos diz algo: são os próprios homens que constroem os labirintos em que se perdem. Dédalo consegue sair da armadilha que tinha construído, criando “asas” de cera que lhe permitem voar, como diz o Papa: do labirinto sai-se “por cima”. Com criatividade. No sábado, em Verona, comparando as guerras e os conflitos com o labirinto, afirmou que «o conflito é precisamente um desafio à criatividade».
Mas Dédalo não é o único que sai, há também Teseu, que segue o outro caminho, “horizontalmente”, graças a um “fio”: «No mito grego, Ariadne cede a Teseu um novelo», recordou o Papa no livro de 2020, «para que ele possa encontrar a saída. Para superar a lógica do labirinto, para nos descentrarmos e transcendermos, foi-nos oferecido o fio condutor da nossa criatividade».
Por conseguinte, também este caminho, o da comunidade, exige um esforço criativo, a capacidade de encontrar um “fio”. Sair de si, para cima rumo aos outros, é o passo fundamental que permite a libertação do pesadelo do labirinto. Sim, o labirinto «é um pesadelo», observa o Papa, citando o conto de Borges El jardin de senderos que se bifurcan, «porque não deixa aberta nenhuma saída real». Vale a pena insistir sobre isto, porque o homem contemporâneo começou a fazer uma coisa estranha, antinatural, que é não chamar as coisas pelo seu nome. No conto Teseu, o romancista francês André Gide, narrando o antigo mito grego, imaginou que o labirinto constituía um lugar de onde era impossível sair, não porque fosse escuro, cheio de armadilhas e perigos mas, pelo contrário, porque era luminoso, cheio de delícias e prazeres. Ninguém saía de lá, não porque fosse difícil, mas porque o desejo de liberdade se extinguia. Perturbadora, deste ponto de vista, é a recente entrevista do padre Armando Matteo nestas páginas sobre o tema da vida contemporânea, em que a existência foi reduzida à de um “parque de diversões”.
Mas Teseu consegue descentralizar-se, indo ao encontro dos outros; daí vem a salvação, do fio de Ariadne. Assim, o dom do fio adquire outro significado maior, que assume um valor ainda maior precisamente na festa de Pentecostes: «O dom de Ariadne é o Espírito que nos chama para fora de nós mesmos», explicou o Papa no livro-entrevista, «o “puxão do fio” de que falava G.K. Chesterton nos contos do padre Brown. São os outros ao nosso redor que, como Ariadne, nos ajudam a encontrar saídas, a dar o melhor de nós próprios [...] Quando sentimos este “puxão do fio”, há muitas maneiras de sair do labirinto», o importante, continua o Papa, é a nossa reação ao puxão: «Acompanha o puxão, deixa-te comover, deixa-te desafiar [...] Quando sentires o puxão, detém-te e reza. Lê o Evangelho, se fores cristão. Ou abre um espaço dentro de ti e escuta. Abre-te... descentraliza-te... transcende. E depois age!».
Também aqui vale a pena rever o texto que o Papa citou. Na história policial The queer feet, Padre Brown (o famoso sacerdote-detetive que, por breves instantes, descobre ladrões e assassinos, mas apenas para os ajudar a converter-se), apresenta-se como é, um sacerdote, um “pescador de homens”, e depois fala do seu “fio” particular com que recupera até os criminosos mais inveterados: «Apanhei-o com o anzol invisível e com uma linha de pesca invisível, que é suficientemente longa para o deixar vaguear até aos confins do mundo e, no entanto, para o trazer de volta com um único puxão do fio».
Este puxão é a intervenção do alto do Espírito, da Graça que desce em socorro de cada homem. É ao Espírito ao qual nos devemos render, como recordou o Papa no domingo, na homilia da missa de Pentecostes. O Espírito desce e sopra onde quer, chegando a cada homem através das formas mais surpreendentes, muitas vezes mediante as pessoas mais simples, porque o Espírito muitas vezes sopra poderosamente através da vida das pessoas. Este foi outro tema que sobressaiu no discurso do Papa na Arena de Verona com os movimentos populares, no qual Bergoglio recordou um discurso anterior aos mesmos destinatários, proferido em Santa Cruz de la Sierra a 9 de julho de 2015: «Estou cada vez mais convencido de que “o futuro da humanidade não está apenas nas mãos dos grandes líderes, das grandes potências e das elites. Está sobretudo nas mãos dos povos — dos povos! — na sua capacidade de se organizar e também nas suas mãos que irrigam, com humildade e convicção, este processo de mudança”. O povo deve ter autoconsciência e agir como tal, agir com esta vontade de construir a paz». As mãos do povo, não dos “grandes”, mas das numerosas e pequeninas pessoas do povo.
Continuando a sua reflexão sobre o “puxão do fio”, em Let us dream, o Papa tinha dito que as diferentes saídas do labirinto têm em comum «a consciência de que nos pertencemos uns aos outros, de que fazemos parte de um povo e de que o nosso destino está ligado a um destino comum. “Certamente, os acontecimentos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história”, escrevia Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz). “E que almas devemos agradecer pelos acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal é algo que só saberemos no dia em que for revelado tudo o que está escondido”. Mas são almas capazes de dar um puxão ao fio».
Um filho espiritual de Chesterton, o romancista J.R.R.Tolkien, faz com que um dos seus personagens diga na sua obra-prima: «Nem a força nem a sabedoria nos levariam longe; este é um caminho que os fracos podem seguir com a mesma esperança que os fortes. No entanto, tal é o curso dos acontecimentos que movem as rodas do mundo, que muitas vezes são as mãos pequenas que agem por necessidade, enquanto o olhar dos grandes se vira para o outro lado... Chegou a hora do povo do Condado, e ele levanta-se dos campos silenciosos e tranquilos para sacudir as torres e os conselhos dos grandes!».
As mãos pequenas dos homens do povo são mais atentas, laboriosas e concretas do que o “olhar dos grandes”, sempre distraído por ideias menos importantes e vitais, como a luta pelo poder.
Pelo contrário, se nos rendermos ao Espírito, não ao mundo, mesmo sendo pequenos podemos realizar grandes ações, disse o Papa na homilia de Pentecostes, seremos capazes de «falar de paz a quem quer a guerra, falar de perdão a quem semeia a vingança, falar de hospitalidade e solidariedade a quem fecha a porta e levanta barreiras, falar de vida a quem escolhe a morte, falar de respeito a quem gosta de humilhar, insultar e descartar, falar de fidelidade a quem recusa todos os vínculos» e fazê-lo com a força da gentileza, pois «o cristão não é prepotente, a sua força é outra, é a força do Espírito». Uma força que «entra no coração e cura tudo», que dá a força e a coragem da alegria. Assim, talvez outro escritor, o alemão Michael Ende, tivesse razão quando escrevia que «o homem fechado num labirinto, para ser feliz deve sair, mas para sair deve ser feliz».
Andrea Monda