· Cidade do Vaticano ·

O Pontífice aos participantes no encontro Human fraternity

Como irmãos testemunhas de paz num planeta em chamas

 Como irmãos testemunhas de paz num planeta em chamas  POR-020
16 maio 2024

Na manhã de 11 de maio, na sala Clementina, o Pontífice recebeu os participantes — entre os quais vários prémios Nobel da paz — no encontro organizado pela Fundação “Fratelli tutti” e, no discurso, renovou os votos de paz, relançados também num post na conta x @Pontifex: «Num mundo dilacerado por divisões e conflitos, escreveu, o Evangelho de Cristo é a voz suave e forte que chama os homens a encontrar-se, a reconhecer-se irmãos». Eis as palavras proferidas pelo Papa durante a audiência.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Dou-vos as boas-vindas! Obrigado por estardes aqui, vindos de muitas partes do mundo, para o Encontro mundial sobre a fraternidade humana. Agradeço à Fundação Fratelli tutti, que se propõe promover os princípios expostos na Encíclica, «para suscitar em volta da Basílica de São Pedro e do abraço da sua colunata iniciativas ligadas à espiritualidade, à arte, à formação e ao diálogo com o mundo» (Quirógrafo, 8 de dezembro de 2021).

Num planeta em chamas, reunistes-vos para reiterar o vosso “não” à guerra, o vosso “sim” à paz, dando testemunho da humanidade que nos une e nos leva a reconhecer-nos irmãos, no dom mútuo das respetivas diferenças culturais.

A este respeito, lembro-me das palavras de um famoso discurso de Martin Luther King, quando disse: «Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a simples arte de viver juntos como irmãos» ( martin luther king , Discurso por ocasião da atribuição do prémio Nobel da paz, 11 de dezembro de 1964). É precisamente assim! Então, perguntemo-nos: como podemos, concretamente, voltar a fazer crescer a arte de uma convivência verdadeiramente humana?

Gostaria de retomar a atitude-chave proposta em Fratelli tutti: a compaixão. No Evangelho (cf. Lc 10, 25-37), Jesus narra a história de um samaritano que, movido pela compaixão, se aproxima de um judeu que os salteadores deixaram meio-morto à beira da estrada. Olhemos para estes dois homens. As suas culturas eram inimigas, as suas histórias diferentes e conflituosas, mas um torna-se irmão do outro no momento em que se deixa orientar pela compaixão que sente por ele — poderíamos dizer: deixa-se atrair por Jesus presente naquele homem ferido. Como um poeta, numa das suas obras, leva São Francisco de Assis a dizer: «O Senhor está onde estão os teus irmãos» ( e. leclerc , Sagesse d’un pauvre [“Sabedoria de um pobre”]).

À tarde, encontrar-vos-eis em doze pontos da Cidade do Vaticano e de Roma, para manifestar a vossa intenção de gerar um movimento de fraternidade em saída.

Neste contexto, as “mesas” de trabalho, que foram preparadas nos últimos meses, apresentarão à sociedade civil algumas propostas, centradas na dignidade da pessoa humana, para construir boas políticas, baseadas no princípio da fraternidade, que «tem algo de positivo a oferecer à liberdade e à igualdade» (Fratelli tutti, 103). Apreciei esta escolha e encorajo-vos a continuar o vosso trabalho de sementeira silenciosa. Dela pode nascer uma “Carta do humano” que inclua, além dos direitos, os comportamentos e as razões concretas daquilo que nos torna mais humanos na vida.

E convido-vos a não desanimar, pois o diálogo «perseverante e corajoso não faz notícia como as desavenças e os conflitos; contudo, de forma discreta, mas muito mais do que podemos notar, ajuda o mundo a viver melhor» (ibid., 198).

Em particular, gostaria de agradecer ao grupo de ilustres prémios Nobel presentes, quer pela Declaração sobre a fraternidade humana, redigida em 10 de junho do ano passado, quer pelo compromisso que assumistes este ano na reconstrução de uma “gramática da humanidade”, “gramática do humano”, na qual basear escolhas e comportamentos. Exorto-vos a progredir, a fazer crescer esta espiritualidade da fraternidade e a promover, através da vossa ação diplomática, o papel dos organismos multilaterais.

Estimados irmãos e irmãs, a guerra é um engano. A guerra é sempre uma derrota, como o é a ideia de uma segurança internacional baseada na dissuasão do medo. É outro engano! Para assegurar uma paz duradoura, é preciso voltar ao reconhecimento da humanidade comum e colocar a fraternidade no centro da vida dos povos. Só assim conseguiremos desenvolver um modelo de convivência capaz de dar um futuro à família humana. A paz política precisa da paz do coração, para que as pessoas se encontrem na confiança de que a vida triunfa sempre sobre todas as formas de morte.

Caros amigos, enquanto vos saúdo, penso no abraço desta noite, como no ano passado, entre tantos jovens. Observemo-los, aprendamos com eles, como nos ensina o Evangelho: se «não vos tornardes como as criancinhas, não entrareis no reino dos céus» (Mt 18, 3). Façamos todos deste abraço um compromisso de vida e um gesto profético de caridade.

Obrigado pelo que fazeis! Estou próximo de vós e peço-vos que rezeis por mim. E agora, todos juntos, em silêncio, peçamos e recebamos a bênção de Deus!