· Cidade do Vaticano ·

Audiência aos participantes nos capítulos dos Canossianos e dos Irmãos de São Gabriel

Partilhar a diversidade
num mundo dividido por egoísmos e particularismos

 Partilhar a diversidade num mundo  dividido por egoísmos e particularismos  POR-019
08 maio 2024

Num «mundo muitas vezes dividido por egoísmos e particularismos, a diversidade é um dom a partilhar»: eis a «importante mensagem» confiada pelo Papa aos participantes nos capítulos gerais dos Filhos da Caridade “Canossianos” e dos Irmãos de São Gabriel. Recebendo-os em audiência na manhã de 29 de abril, na sala Clementina, o Pontífice pronunciou o seguinte discurso.

Prezados irmãos e irmãs
bem-vindos!

Saúdo com alegria todos vós, Filhos da Caridade “Canossianos” e Irmãos de São Gabriel, e em particular os Superiores-gerais. Tenho o prazer de me encontrar convosco por ocasião dos vossos Capítulos, que são acontecimentos sinodais fundamentais para cada Congregação religiosa.

A eles é confiada sobretudo a salvaguarda do legado de intenções e projetos que o Espírito inspirou nos vossos Fundadores, e de todo o bem que deles brotou (cf. cic 578; 631). Trata-se, portanto, de momentos de graça — um Capítulo é um momento de graça — a viver sobretudo na docilidade à ação do Espírito Santo, recordando com gratidão o passado, prestando atenção ao presente — na escuta recíproca e na leitura dos sinais dos tempos (cf. Gaudium et spes, 4) — e olhando para o futuro com coração aberto e confiante, para a verificação e a renovação pessoal e comunitária. Passado, presente e futuro entram em Capítulo, para fazer memória, avaliar e progredir no desenvolvimento da Congregação.

Amados amigos Canossianos, é muito bom ver-vos aqui, homens comprometidos em seguir Cristo mais de perto (cf. Perfectae caritatis, 1; Catecismo da Igreja Católica, 916) no sulco de uma mulher, Madalena de Canossa, de quem se celebra o 250º aniversário de nascimento. Esta santa corajosa, num mundo não menos difícil do que o nosso, propôs-se «tornar conhecido e amado Jesus, que não é amado porque não é conhecido». E vós, que quereis continuar a sua obra missionária, escolhestes esta frase como tema dos vossos trabalhos: «Quem não arde, não se inflama». Fico triste quando vejo religiosos que mais parecem bombeiros do que homens e mulheres com o ardor para atear fogo. Por favor, não bombeiros! Já temos muitos. Por isso, estais comprometidos a arder para incendiar, reavivando e alimentando «o dom de Deus que existe em vós» para «dar testemunho do Senhor» (cf. 2 Tm 1, 6). E fazeis isto numa família que, em mais de dois séculos de história, se enriqueceu com tantos dons: presente em sete países e composta por membros de dez nacionalidades diferentes, sustentada pela comunhão e colaboração com as irmãs Canossianas e com uma realidade laical cada vez mais ativa e participativa. Isto é importante, manter os leigos ativos na espiritualidade de um instituto, colaborando no seu trabalho apostólico. Certamente, é uma herança que comporta também desafios, mas Santa Madalena mostrou-vos como se superam as dificuldades: com os olhos voltados para o Crucificado e os braços abertos para os últimos, os pequeninos, os pobres e os doentes, para cuidar, educar e servir os irmãos com alegria e simplicidade. Assim, quando o caminho se torna difícil, fazei como ela: olhai para Jesus Crucificado e fitai os olhos e as chagas dos pobres, e vereis que lentamente as respostas entrarão no vosso coração com clareza cada vez maior.

Como nos ensinaram também São Luís Maria Grignion de Montfort e o Padre Gabriel Deshayes, a cuja obra se deve a fundação dos Irmãos de São Gabriel, também vós, queridos irmãos, nestes dias estais comprometidos em discernir a vontade de Deus para o vosso caminho, na iminência de um aniversário importante: trezentos e cinquenta anos do nascimento de São Luís Maria. A vossa família, nascida de um pequeno grupo de leigos colaboradores do grande pregador, hoje conta com mais de mil religiosos, ativos na assistência pastoral, na promoção humana e social e na educação — especialmente a favor dos cegos e surdos-mudos — em trinta e quatro países. Para manter viva a vossa presença, que é profética, quisestes refletir sobre o tema «Escutar e agir com coragem». “Coragem”: aquela parrésia apostólica, a coragem que lemos, por exemplo, no Livro dos Atos dos Apóstolos. Aquela coragem. É o Espírito que nos incute aquela coragem, e devemos pedi-la.

São duas atitudes — escuta e coragem — que exigem humildade e fé, e que refletem bem o espírito e a ação de São Luís Maria e do Padre Deshayes, que também vos deixou um tríptico precioso como bússola para as vossas decisões: “Só Deus”, a “Cruz” — esculpida no coração — e “Maria”. A Providência concedeu-vos também a riqueza de uma internacionalidade variada: ela será muito boa para o vosso crescimento e apostolado, se souberdes vivê-la acolhendo e compartilhando construtivamente a diversidade entre vós e com todos. Trata-se de uma mensagem importante, especialmente no nosso mundo, muitas vezes dividido por egoísmos e particularismos: a diversidade é um dom a partilhar, a diversidade é uma dádiva preciosa! Sede profetas disto com a vossa vida. E quem edifica a harmonia entre as diversidades é o Espírito Santo, Mestre de harmonia. A uniformidade num instituto religioso, numa diocese, num grupo de leigos, mata! A diversidade em harmonia faz crescer. Não vos esqueçais disto. Diversidade em harmonia!

Caros amigos, o Capítulo é um «acontecimento de família, mas também de Igreja e de salvação» ( beato e.f. pironio , Discurso ao Capítulo Geral dos Salesianos, 14 de janeiro de 1984). Agradeço-vos o que fazeis e o trabalho que realizais todos os dias em muitos lugares e condições diferentes. Abençoo-vos e confio-vos a Maria; e peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!