E dirigiu o pensamento ao sofrimento das crianças na Ucrânia e e Gaza
«Neste tempo ainda marcado pela guerra, peço-vos que sejais artesãos da paz» e «que sejais sempre apaixonados pelo sonho da paz», disse o Papa Francisco a alunos e professores da Rede nacional de escolas para a paz, recebidos em audiência na manhã de 19 de abril, na Sala Paul vi .
Queridos meninos e meninas,
estimados professores, bom dia a todos!
Estou feliz por me encontrar mais uma vez com a rede nacional de “Escolas para a Paz”. Saúdo o Doutor Lotti e dou as boas-vindas a todos vós.
Em primeiro lugar, quero agradecer-vos. Obrigado por este caminho cheio de ideias, de iniciativas, de percursos de formação e de atividades, que tencionam promover uma nova visão do mundo. Obrigado por estardes cheios de entusiasmo na busca de objetivos de beleza e bondade, no meio de situações dramáticas, injustiças e violências que deturpam a dignidade humana. Obrigado porque, com paixão e generosidade, estais comprometidos em trabalhar no “canteiro de obras do futuro”, superando a tentação de uma vida nivelada apenas no hoje, que corre o risco de perder a capacidade de sonhar alto. Hoje, mais do que nunca, é necessário viver com responsabilidade, dilatando os horizontes, olhando em frente e lançando dia após dia as sementes de paz que amanhã poderão germinar e dar frutos. Obrigado, meninos e meninas!
No próximo mês de setembro, terá lugar em Nova Iorque o Encontro do Futuro, convocado pela onu para enfrentar os grandes desafios mundiais deste momento histórico e assinar um “Pacto para o Futuro” e uma “Declaração sobre as gerações futuras”. Trata-se de um acontecimento importante e precisamos também da vossa contribuição para que não permaneça apenas “no papel”, mas que se concretize e se realize através de percursos e ações de mudança.
Trazeis nos vossos corações este grande sonho: “Transformemos o futuro. Pela paz, com cuidado”. E é precisamente sobre isto que gostaria de fazer uma breve pausa para vos dizer algo em que acredito muito: que sois chamados — ouvi bem — sois chamados a ser protagonistas e não espetadores do futuro. Pergunto-vos: a que sois chamados? A ser o quê? [Os meninos respondem]. Não ouvi bem! [os meninos respondem em voz alta]. Coragem! Em frente! A convocação deste Encontro mundial recorda-nos que todos somos chamados a construir um futuro melhor e, sobretudo, que o devemos construir juntos! Pergunto-vos: podemos construir sozinhos o futuro? [Os meninos respondem “não”]. Não ouço... [um “não” em voz alta]. Devemos edificá-lo? [“Sim!”]. Muito bem! Não podemos simplesmente delegar as nossas preocupações sobre o “mundo que virá” e a resolução dos seus problemas às instituições mandatadas e com responsabilidades sociais e políticas específicas. É verdade que estes desafios exigem competências adequadas, mas é igualmente verdade que nos dizem diretamente respeito, tocam a vida de todos e exigem de cada um de nós uma participação ativa e um compromisso pessoal. Num mundo globalizado como este, onde todos somos interdependentes, não é possível proceder como indivíduos que apenas cuidam da própria “horta”, para cultivar os próprios interesses: pelo contrário, devemos estar em rede e tecer redes. O que é necessário? Estar em rede e tecer redes. O que é necessário? Estar em rede e tecer redes. Todos juntos! [os meninos respondem] Sim, muito bem, isto é importante, devemos entrar em ligação, trabalhar em sinergia e harmonia. Isto significa passar do “eu” para o “nós”: não “eu trabalho para o meu bem”, mas “nós trabalhamos para o bem comum, para o bem de todos”. Trabalhamos para o bem de todos. Juntos! [os meninos repetem]. Muito bem!
Com efeito, os desafios de hoje, e sobretudo os riscos que, como nuvens negras, se acumulam sobre nós ameaçando o nosso futuro, tornaram-se também globais. Atingem todos nós, interpelam toda a comunidade humana, exigem a coragem e a criatividade de um sonho coletivo que anima um compromisso permanente, para enfrentar juntos as crises ambientais, as crises económicas, as crises políticas e sociais que o nosso planeta atravessa.
Amados meninos e meninas, queridos professores, este é um sonho que exige que estejamos acordados e não adormecidos! Sim, porque se realiza trabalhando, não dormindo; caminhando pelas ruas, não deitados no sofá; utilizando bem os meios informáticos, sem perder tempo nas redes sociais; e depois — ouvi bem — este tipo de sonho realiza-se também através da oração, isto é, com Deus, e não apenas com as nossas forças.
Caros alunos, estimados professores, colocastes duas palavras-chave no centro do vosso compromisso: paz e cuidado. São duas realidades inter-relacionadas: com efeito, a paz não é apenas o silêncio das armas e a ausência de guerra; é um clima de benevolência, de confiança e de amor que pode amadurecer numa sociedade fundada em relações de cuidado, em que o individualismo, a distração e a indiferença dão lugar à capacidade de prestar atenção ao outro, de escutar as suas necessidades básicas, de curar as suas feridas, de ser para ele ou para ela um instrumento de compaixão e de cura. É este o cuidado que Jesus tem com a humanidade, especialmente com os mais frágeis, e do qual o Evangelho nos fala muitas vezes. Do “cuidado” recíproco nasce uma sociedade inclusiva, baseada na paz e no diálogo.
Neste tempo ainda marcado pela guerra, peço-vos que sejais artesãos da paz; numa sociedade ainda aprisionada pela cultura do descarte, peço-vos que sejais protagonistas da inclusão; num mundo assolado por crises globais, peço-vos que sejais construtores do futuro, para que a nossa casa comum se torne um lugar de fraternidade.
Gostaria de vos falar dois minutos sobre a guerra. Pensai nas crianças que estão em guerra, pensai nas crianças ucranianas que se esqueceram de sorrir. Rezai por estas crianças, colocai no vosso coração as crianças que estão em guerra. Pensai nas crianças de Gaza, metralhadas, que têm fome. Pensai nas crianças. Agora um pouco de silêncio, e cada um de nós pense nas crianças ucranianas e nas crianças de Gaza.
Desejo-vos que sejais sempre apaixonados pelo sonho da paz. Digo-vos isto com o lema do padre Lorenzo Milani, prior de Barbiana, que ao “não me importa”, típico da indiferença desinteressada, opôs o “I care”, ou seja, “preocupo-me”, “interessa-me”. Que tudo isto esteja no vosso coração. Que vos preocupeis sempre com o destino do nosso planeta e dos vossos semelhantes; que vos preocupeis com o futuro que se abre diante de nós, para que seja verdadeiramente como Deus o sonha para todos: um futuro de paz e beleza para toda a humanidade. E que vos preocupeis com as crianças da Ucrânia, que se esquecem de sorrir; com as crianças de Gaza, que sofrem sob o fogo das metralhadoras. Abençoo-vos de coração. Boa escola e feliz caminho! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Muito obrigado!