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Brasil
Da arte uma ponte
para a vida

Brazilian artist Maxwell Alexandre shows one of his studios at the Rocinha favela in Rio de Janeiro, ...
25 abril 2024

Nas favelas do Rio de Janeiro multiplicam-se galerias e espaços de exposição para arrancar os jovens de um quotidiano de violência e narcotráfico

A arte como fuga da violência e da pobreza. É a visão de um grupo de artistas brasileiros que aceitou o desafio de abrir galerias e organizar exposições em espaços localizados no coração das favelas do Rio de Janeiro. Chamam-se Maxwell Alexandre, Allan Weber e Malvo: têm em comum a ideia de que a arte não é «algo exclusivo», para poucos, explica à agência Afp Maxwell Alexandre, que no ano passado abriu o espaço “Pavilhão 2” na Rocinha, a segunda favela mais populosa do Brasil, onde nasceu há 33 anos. Isto não significa que as suas obras nunca atravessaram as fronteiras do país: em 2023, realizou uma exposição na França, e antes também na Espanha e nos Estados Unidos.

Algumas das suas obras representam cenas inspiradas na vida diária da Rocinha, favela de 180.000 habitantes onde, na pobreza generalizada, se travam guerras de gangues pelo domínio do tráfico de drogas e negócios ilícitos. Mas o artista não se contenta em expor as suas obras. Quer também vendê-las a um preço acessível: 1.000 reais, cerca de 185 euros. Valores que, ainda que distantes do mercado da arte, estão fora do alcance de muitos residentes. Mas a professora Mariana Furloni está entusiasmada com a exposição: «É fantástica, porque a arte é geralmente muito elitista» e as galerias do Rio, explica, concentram-se sobretudo nos bairros ricos.

Alguns km mais a norte, há outra galeria: Allan Weber, artista de 31 anos da favela Cinco Bocas, abriu-a em 2020. As suas obras foram recentemente expostas na Feira de arte contemporânea de Miami, mas no seu espaço de exposição no Rio de Janeiro tenciona dar destaque a artistas menos conhecidos. «É um lugar de intercâmbio entre a favela e quantos vêm de fora», afirma, explicando que a fundou pensando naqueles que não têm acesso aos grandes museus, bem como nos que sempre tiveram receio de visitar as periferias. Desde setembro, a galeria exibe “Tô de Pé”, uma exposição do jovem artista Cassio Luís Brito da Silva, 22 anos, conhecido como Malvo, que expõe fotos de festas ao ritmo da música carioca, esculturas feitas de cigarros e pinturas impressas em telefones antigos. Mas as atividades da galeria não se limitam a isto. Há também um projeto social que visa aproximar todos os jovens da favela à arte como “ponte”. Entre eles está o filho de Cíntia Santos de Lima. «Ele sofre de autismo e antes quase não saía», afirma a senhora: a galeria tornou-se, garante, «um bem para todos nós». (giada aquilino)