· Cidade do Vaticano ·

Visita de Francisco à paróquia de São João Maria Vianney na periferia leste de Roma

Quando o catequista
é o Papa

 Quando o catequista é o Papa  POR-016
18 abril 2024

Inauguração da “Escola de oração” desejada pelo Pontífice no Ano de preparação para o Jubileu de 2025


«Uau, o Papa! Não posso acreditar...». O pároco não fez a mínima menção («Segredo quase mantido!»), mas o pequeno grupo de jornalistas e câmaras à porta da paróquia de São João Maria Vianney, no bairro de Borghesiana, na periferia leste de Roma, e todas as pessoas que acorreram em grande número de casas, bares e lojas com smartphones nas mãos, avisaram as cerca de 200 crianças reunidas para a catequese. Não era a hora semanal de sempre, algo de importante estava prestes a acontecer no teatro do salão paroquial. Houve um sobressalto quando, por volta das 16 horas, o Fiat 500 l branco scv apareceu na rampa exterior.

O “alarido” de 200 crianças


«Olá!». Depois de cumprimentar o pároco Marco Gandolfo e D. Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a evangelização e organizador do encontro, o Papa Francisco acenou com a mão desencadeando o que ele mesmo gosta de chamar de lío, «alarido» — aquele bom — das crianças que, quase subindo umas por cima das outras, se atiravam para a frente a fim de apertar a mão ao Pontífice. «Disseram-me: “Tenha cuidado, senhor Papa, porque as crianças fazem alarido. É verdade?».

Com meninos e meninas de escolas básicas e secundárias, que se preparam para a Primeira Comunhão, Jorge Mario Bergoglio passou cerca de uma hora para inaugurar a «Escola de oração», o primeiro de uma longa série de encontros que marcarão o Ano da oração lançado em preparação espiritual para o Ano Santo de 2025. Um novo ciclo que, idealmente, liga o próximo Jubileu ao Jubileu da Misericórdia de 2016, com a série de «Sextas-feiras da Misericórdia», em que o Papa, uma sexta-feira por mês, durante um ano, fez uma visita de surpresa a um lugar da capital para saudar quantos vivem à margem ou em condições de dificuldade.

Em diálogo por cerca de uma hora


Para esta série de encontros, decidiu começar pelas crianças. Elas, de São João Maria Vianney, não se deixaram intimidar pelo incomum catequista que foi à paróquia e fizeram-lhe perguntas — muito constrangedoras na sua ingenuidade — sobre a morte, os afetos à família e aos amigos, as dores e as alegrias da vida, a importância da oração. Cheias de entusiasmo e ativas, como se viu já no momento dos cumprimentos, quando Francisco procurou bater na palma das mãos de cada um ou pousar a mão na testa de cada um. Só no final se deteve por alguns segundos com a pequena Alice, de 10 anos, na primeira fila, numa cadeira de rodas, para lhe acariciar a cabeça coberta com um lenço.

«Não vou fazer um discurso porque sou tedioso, mas vou responder às perguntas», disse no início. E assim fez durante cerca de 50 minutos, repetindo em coro as palavras a fixar bem na mente («Obrigado, com licença, desculpa», absolutamente as primeiras), indicando quem devia responder («Tu já falaste, agora outro!»), convidando os que eram demasiado tímidos a ser corajosos («Vem cá, fala ao microfone») ou agradecendo às crianças que faziam perguntas elaboradas («És competente, és filósofo!»).

«Obrigado, com licença e desculpa»


Em particular, o Papa Francisco quis reiterar às crianças a importância de «dizer obrigado por tudo»: aos pais, amigos, professores e catequistas, mas sobretudo a Deus. «É importante dizer obrigado por tudo. Por exemplo, se entrarmos na casa de alguém e não lhe dissermos obrigado, ou não a cumprimentarmos, é bom?». Portanto, a primeira palavra é «obrigado», a segunda «com licença», a terceira «desculpa»: «Uma pessoa que nunca pede desculpa é boa? É difícil pedir desculpa, às vezes a vergonha e o orgulho entram em cena. Mas quando escorregamos é importante pedir desculpa. Três palavras: obrigado, com licença, desculpa».

Rezar até nos momentos difíceis


No centro do diálogo, o tema da oração, que nunca deve faltar, disse o Papa, até nos «momentos sombrios» da vida. «Quais são?». «Quando alguém morre, quando alguém desmaia, quando discutes com um amigo», gritaram as crianças. Uma das perguntas mais comoventes foi a da Alice: «Como posso dar graças ao Senhor na doença?». «Até nos momentos sombrios, devemos dar graças ao Senhor, porque Ele nos dá a paciência para tolerar as dificuldades. Digamos juntos: obrigado Senhor por nos dar a força para tolerar a dor», respondeu o Pontífice.

«Mas vós rezais? Como rezais? O que podemos dizer ao Senhor?», perguntou. Uma das crianças levantou-se e recordou que reza com a sua família sempre antes de comer. «Ele disse uma coisa importante. Mas sabes que muitas crianças não têm o que comer? Dou graças ao Senhor que me dá de comer? Agradeço-lhe por me ter dado uma família?».

A última pergunta foi relativa à fé. «Sois cristãos?», perguntou o Papa Francisco, «tendes fé? Digamos juntos: obrigado Senhor por me ter dado a fé». Outras crianças perguntaram porque existem a morte e a solidão, enquanto Sofia, que receberá a Comunhão daqui a alguns dias, se disse abalada pelas notícias das guerras. Também aqui, uma pergunta: como se pode dizer «obrigado» a Deus num momento tão trágico? «Devemos agradecer-lhe sempre, em todos os momentos. Dou-vos um conselho», concluiu o Papa, «antes de dormir pensai: pelo que posso dar graças ao Senhor hoje? Agradecei!».

Orações e presentes


Entre gracejos — «Estai aborrecidos? Agora vou-me embora» — e outras perguntas, Francisco terminou o encontro recitando com as crianças uma Oração de ação de graças composta para tal ocasião e impressa num folheto com o símbolo do Jubileu, distribuindo rosários: «Trouxe-vos terços e ovos de chocolate: quereis os terços ou os ovos? Coros divididos, risos dos catequistas. A eles e aos sacerdotes, o Pontífice ofereceu os primeiros seis volumes publicados da coletânea “Anotações sobre a Oração”, subsídios preparados pelo Dicastério para a evangelização, com a finalidade de apoiar a vida pastoral em vista do Jubileu.

Saudação aos habitantes do bairro


Um canto de Aleluia acompanhou a saída do salão. Fora, à espera do bispo de Roma, atrás das barreiras, os pais das crianças: «Olá Papa! Papa abençoa-nos!», gritavam. Foi uma passagem rápida; muito mais longo foi o percurso de regresso à rua, com os paroquianos e os habitantes que procuravam aproximar-se do carro gritando « w o Papa», ou pedindo a bênção para os seus filhos. Francisco pediu que parassem o carro várias vezes para acariciar crianças em carrinhos ou para distribuir terços. Depois, despediu-se da área periférica da cidade e regressou a Santa Marta, no meio do trânsito e do olhar perplexo de quantos passavam.

Salvatore Cernuzio