Davi Kopenawa
«Não tenho receio do homem branco, mas tenho muito medo das máquinas que destroem a terra e derrubam árvores e abrem valas no chão para extrair os minerais. Temo que esta exploração mineira arruíne as nossas comunidades, os nossos rios, a nossa saúde, a nossa sobrevivência e a nossa própria riqueza. Preocupa-me o nosso futuro, as próximas gerações terão necessidade da floresta». Estas foram as palavras de Davi Kopenawa, xamã e representante dos Yanomamis do Brasil, aos meios de comunicação do Vaticano, depois do encontro particular que teve na manhã de 10 de abril com o Papa Francisco, no ambiente adjacente à Sala Paulo vi , antes da audiência geral de quarta-feira. «Eu sabia que era muito importante para mim e para a causa do meu povo falar com o Papa Francisco. Fui recebido muito bem, com respeito», conta, explicando que chamou a atenção do Pontífice para a situação «calamitosa» em que vivem há muito tempo as comunidades indígenas da Amazónia, uma situação que, segundo ele, se agravou muito nos últimos tempos. «Embora a proteção destes territórios tenha sido reconhecida internacionalmente, eles são invadidos continuamente porque as autoridades o permitem», frisa, «e houve também autoridades que encorajaram isto. Solicitei», relata, «que o Papa peça ao presidente da República do Brasil para o convencer a fazer retirar os garimpeiros e outros exploradores».
O etnógrafo francês Bruce Albert, que viveu com eles durante décadas, escreveu sobre os Yanomamis, que vivem na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, em La caduta del cielo (Nottetempo, 2018), uma obra que recria a sua forma genuína de entender o mundo, a vida e as relações humanas, longe da lógica do lucro e da conveniência. Foi precisamente isto que atraiu o irmão Carlo Zacquini, dos missionários da Consolata, que estabeleceu uma relação com este grupo a partir do final dos anos 60 e nunca mais o abandonou. É ele que acompanha Davi nas suas visitas à Itália: «Quem me dera ter tanta fé como eles», confessa. «Para mim, foi uma dádiva extraordinária estar com eles. Desde o início, fiquei chocado com a forma como eles foram tratados. Eu tinha ido para lá com um objetivo diferente e acabei por ficar. A sabedoria deles», explica, «pode ser um dom para a Igreja universal e para todos os povos, pois é feita de espontaneidade, de confiança profunda, de sentido de comunidade e de capacidade de superar as dificuldades, que não faltam».
O irmão Carlo lamenta que, embora a Igreja local tenha dado passos gigantescos, oferecendo muitas orientações para a proteção deste legado da humanidade, ainda há muito a fazer para garantir que sejam postos em prática os desejos do Papa expressos na Exortação Apostólica de há quatro anos Querida Amazonia. «Para resolver estes problemas», observa Davi, «o importante é escolher pessoas que amem os índios e conheçam a sua realidade por dentro. Os políticos locais e nacionais não permitem que a saúde do povo Yanomami seja protegida, e isto também acontece com outros grupos. Os fazendeiros, os madeireiros não permitem que as nossas terras sejam respeitadas». A denúncia de Davi também atinge a própria Funai (Fundação nacional do índio) — encarregada de garantir o cumprimento dos direitos estabelecidos pela Constituição brasileira e pelo Estatuto do índio — que, segundo ele, «foi desmantelada a tal ponto que não se consegue fazer com que ela atenda às necessidades para as quais foi criada».
Desde os anos 80 até aos dias de hoje, Davi tem sido um porta-voz no estrangeiro da proteção dos direitos indígenas e da preservação da floresta tropical para benefício da humanidade. Vencedor em 1989 do prestigioso Right Livelihood Award, Prémio Nobel alternativo atribuído à Survival International — a associação que também fundou para promover projetos educativos — pelo seu «compromisso extenuante, consistente e inabalável» com os povos mais ameaçados da Terra, Kopenawa sofre ameaças de morte por parte de criminosos alegadamente coniventes com garimpeiros ilegais que invadem o território Yanomami. «Mas a floresta pode curar?», perguntamos-lhe antes de nos despedirmos. «Não», responde laconicamente, «a floresta já foi desmatada. Só Deus a pode curar. As pessoas não vão conseguir». Que sesalve o que resta — é a esperança partilhada — para que os índios, com os seus cocares de penas e colares de missangas multicoloridas, sejam ouvidos no seu grito. Está em causa o apelo à ecologia integral de que tanto fala o Papa Francisco, que deve ser renovado e implorado em coro, para que destes povos restem fora das suas fronteiras uma gratidão e uma solidariedade comoventes, e não apenas um elemento folclórico a fotografar.
Antonella Palermo