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Brasil Metal pesado

 Brasil  Metal pesado  POR-015
11 abril 2024

«As nossas crianças nascem doentes, o nosso povo morre por causa da extração de ouro»: quem fala é Dário Vitório Kopenawa, vice-presidente da associação “Hutukara Yanomami”, que reúne os líderes comunitários deste povo indígena que vive no Brasil. O alarme de Kopenawa confirma um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao ministério da Saúde, que mostra como as crianças Yanomamis sofrem cada vez mais de deficiências e de perturbações cognitivas devido à contaminação do ambiente pelo mercúrio, utilizado na extração ilegal de ouro. O metal pesado, de facto, “captura” os depósitos de ouro nas areias e nos detritos mineiros. A amálgama resultante é então aquecida para concentrar o ouro e vaporizar o mercúrio, que, no entanto, acaba por contaminar tudo ao seu redor.

O coordenador da pesquisa, Paulo Basta, explica que foram coletadas amostras de cabelo e saliva de 293 indígenas que vivem em nove aldeias próximas ao rio Mucajaí, no coração da floresta tropical, no estado de Roraima. Ali vivem cerca de 29.000 membros da comunidade Yanomami, mas é também onde se concentra a maior parte da extração ilegal de ouro. Com consequências dramáticas, pois o valor médio do qi das crianças que participaram no estudo foi de 68, quando em condições adequadas deveria aproximar-se de 100. Além disso, segundo os cientistas, 55,2% das crianças têm deficiências cognitivas, enquanto que mais de 30% dos nativos sofrem de doenças nervosas degenerativas.

A exposição ao mercúrio é um dado irrefutável: os cientistas encontraram vestígios deste metal pesado em todas as amostras recolhidas. Em 84% dos casos, o nível de contaminação era o dobro do limite recomendado pela Organização mundial da saúde, que é de 2 microgramas por grama de cabelo. Até 10,8% das amostras continham mais de 6 microgramas por grama de cabelo, quantidade que «requer atenção médica especial».

É de notar que, em janeiro de 2023, o governo brasileiro reconheceu uma emergência humanitária para os Yanomamis, uma vez que os garimpeiros ilegais perpetram constantemente assassinatos, violência e abusos contra eles. Não menos importante, envenenam o meio ambiente. A Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), em união com a Igreja do Brasil, também reafirmaram repetidamente o compromisso na salvaguarda dos povos locais: numa declaração recente no ano passado, por exemplo, frisaram a urgência de «denunciar os ataques contra a vida das comunidades indígenas, os projetos que prejudicam o meio ambiente, a falta de demarcação dos seus territórios, bem como o modelo de economia de desenvolvimento predatório e ecocida».

«A nossa resposta como Igreja», concluem os prelados, «é a defesa da vida, da terra e dos direitos dos povos».