«Um lugar para conhecer as religiões e continuar o diálogo para a casa comum»: assim Gilbraz Aragão, professor da Universidade Católica de Pernambuco (em Recife, Brasil) define o Parque das Religiões, do qual é coordenador, em construção em Olinda. Fizemos-lhe algumas perguntas sobre este projeto apoiado por uma pluralidade de sujeitos académicos, religiosos e civis.
De onde surgiu a ideia de um Parque das Religiões?
O interesse pelo diálogo entre as religiões é um ponto central na vida da Universidade Católica do Recife; há anos que funciona um Observatório transdisciplinar das Religiões, que tem fomentado o conhecimento ativando caminhos de diálogo não só de natureza científica; com este organismo houve também o desejo de declinar no presente o legado de D. Hélder Pessoa Câmara, arcebispo de Olinda e Recife de 1964 a 1985. A encíclica Laudato si’ suscitou um amplo debate sobre o que as religiões poderiam fazer juntas para denunciar a exploração da criação e formular propostas para acabar com a desigualdade e a pobreza. A publicação do documento sinodal para a Amazónia despertou então um novo interesse no campo do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, de tal modo que se tornou urgente a questão de saber o que fazer em conjunto para apoiar reflexões e ações em prol de uma ecologia integral. Nesta fase, foi fundamental o contributo dos franciscanos e dos jesuítas, que relançaram, também à luz da sua história, a exigência de um diálogo global capaz de envolver a sociedade sobre estas questões. Daí surgiu a ideia da criação de um Parque das Religiões, que deu um passo significativo com a decisão da Província franciscana do Nordeste de disponibilizar o convento de Olinda, o mais antigo.
O que se propõe com a construção do Parque das Religiões?
O objetivo é promover um conhecimento transdisciplinar e criticamente fundamentado da dimensão espiritual dos homens e mulheres na história, através da identificação de experiências que unem arte, tecnologia e natureza, prestando especial atenção à tradição de diálogo que tem caraterizado a vida religiosa no Nordeste do Brasil, sem esquecer as páginas que relatam intolerâncias e conflitos. Trata-se de partilhar uma herança religiosa a partir do conhecimento dos textos escritos, das representações e das memórias orais, evitando uma lógica comparativa, mas procurando as riquezas espirituais de cada tradição. No centro desta reflexão estava a relação das religiões com a “casa comum”, precisamente porque, desde a primeira formulação do projeto, havia grande necessidade de uma educação para o cuidado da criação em espírito de fraternidade, como tantas vezes exortou o Papa Francisco. Gostaria de recordar que nesta fase houve numerosos contributos, inclusive de estudantes do curso de Ciências Religiosas da Universidade Católica de Pernambuco, onde a referência ao Papa Francisco era constante, também para os não-católicos.
Em que fase se encontra a realização do projeto?
Na definição do projeto, um passo particularmente significativo foi a conferência que teve lugar nos dias 10 e 11 de outubro de 2023, na qual se fez o balanço das várias propostas, se discutiu o projeto de ecoparque formulado pelo curso de arquitetura e urbanismo da universidade e se definiram os órgãos de gestão da estrutura: um conselho de gestão formado pelos fundadores, um conselho científico de estudiosos das religiões de fora do Brasil e um conselho consultivo formado por representantes de tradições religiosas e espirituais. Nos últimos meses, também graças à contribuição de especialistas em museologia do sagrado, começamos a avaliar as opções na realização dos roteiros do parque, de modo a apresentar as diferentes experiências espirituais, historicamente contextualizadas, num mesmo lugar: o Parque das Religiões em Olinda será o testemunho do acolhimento e do compromisso com a promoção de saberes que apoiem o diálogo para a paz no cuidado da criação.
Riccardo Burigana