· Cidade do Vaticano ·

As lágrimas e o sorriso

 As lágrimas e o sorriso  POR-014
04 abril 2024

Por que se chora? As razões podem ser muitas: raiva, alegria, emoção. O que é certo é que, se as lágrimas saem dos olhos, nascem do coração. E é por isso que as lágrimas nunca deixam ninguém indiferente, tocam o coração de quem as vê. Foi o que aconteceu quando o Papa Francisco lavou os pés de doze prisioneiras, durante a missa in Coena Domini, celebrada na prisão feminina de Rebibbia, em Roma. Algumas delas, perante o Papa idoso que se deslocava de cadeira de rodas, lhes lavava os pés e depois os beijava, desataram em lágrimas. Um pranto comovido, que parecia libertador, num lugar que, por definição, delimita a liberdade. Certamente um pranto que brotava do coração.

Não sabemos que pensamentos lhes passavam pela cabeça naqueles instantes, que emoções, que imagens de uma vida dura, sobrecarregada por tantas quedas. Nem o Papa o sabia naquele momento. As lágrimas são uma dádiva, disse-nos tantas vezes nestes primeiros onze anos de Pontificado. As lágrimas são também um mistério. Essas pequenas gotas, que têm um sabor salgado, mas deixam um gosto amargo na boca, contêm no fundo o condensado de uma vida. Um mistério no Mistério são as lágrimas de Jesus. Não nos perguntamos porventura, pelo menos uma vez, lendo os Evangelhos, por que o Senhor chorou diante do túmulo do amigo Lázaro, sabendo que em breve lhe restituiria a vida? E não nos causou profunda emoção e admiração ler sobre as suas lágrimas, enquanto olhava para Jerusalém, e sobre aquelas da noite dramática no Getsémani, quando suou gotas de sangue?

Aquelas lágrimas são verdadeiramente um mistério que só podemos tocar mediante o sentido da fé. No entanto, é precisamente este ato tão humano que torna Jesus tão próximo de quem sofre nesta e em todas as épocas. Cada mãe que chora por um filho enviado para a guerra por homens já incapazes de chorar pode sentir-se compreendida por Aquele que derramou lágrimas por quem amava. Cada pai que luta todos os dias a fim de trazer o pão para casa, para os seus filhos, e que talvez chore em segredo para não ser visto por eles, pode reconhecer que o Filho de Deus derramou lágrimas precisamente como ele. E, portanto, pode compreendê-lo.

Às lágrimas das mulheres que encontrou em Rebibbia, o bispo de Roma respondeu com um sorriso cheio de ternura. É o sorriso do pastor que ama as suas ovelhas e, sobretudo, aquelas que julgava tresmalhadas. É o sorriso do pai que abraça o filho pródigo pacientemente esperado, como tantos pais que ainda hoje não se cansam de aguardar o regresso dos filhos perdidos nos labirintos da nossa sociedade. Mas aquele sorriso do Papa Francisco — num mundo ferido por tantos medos e violências que esperávamos que tivessem sido relegados para a história — é para todos nós. É um sorriso que infunde esperança e dá testemunho do amor de Deus. Um amor rico de misericórdia, de um Pai que “nunca se cansa de perdoar”. E do qual precisamos hoje como nunca, pois como nos ensina a Sexta-feira Santa: só se soubermos perdoar e aceitar o perdão dos outros conseguiremos acreditar verdadeiramente que a morte não tem a última palavra.

Alessandro Gisotti