«Trabalhar entre os últimos e trabalhar juntos»: eis as duas linhas de ação que o Papa Francisco indicou à Fundação “Dom Camilo Faresin” de Maragnole di Breganze, Vicenza (Itália), recebida em audiência na manhã de 16 de março, na Sala Clementina. Publicamos o texto do discurso preparado pelo Pontífice e lido por um dos seus colaboradores.
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
É com alegria que vos dou as boas-vindas por ocasião do 20º aniversário da vossa Fundação. Hoje trazeis convosco vinte anos ricos de iniciativas ao serviço dos últimos, percorridos no sulco de Dom Camilo Faresin, durante muito tempo bispo de Guiratinga, no Mato Grosso, exemplo de sensibilidade missionária e de fé na Providência, e também dos seus dois irmãos: padre Santo, igualmente missionário salesiano, e padre João Batista, sacerdote diocesano.
Quisestes recolher o testemunho da sua caridade, fazendo vossa a sua tenacidade e abertura ao serviço do próximo. E isto levou-vos a desenvolver a vossa obra no Brasil, na Itália e noutras partes do mundo, estendendo-a a vários campos: da formação para a assistência social, aos cuidados de saúde, à oferta de condições de vida dignas e de oportunidades de trabalho para tantas pessoas.
Olhando para o vosso compromisso, gostaria de salientar e encorajar duas importantes linhas de ação: trabalhar entre os últimos e trabalhar juntos.
Primeiro: trabalhar entre os últimos. Dom Faresin e os seus irmãos eram pessoas de origem humilde. Aprenderam o valor da caridade e o fervor missionário no contexto de uma família simples, devota, modesta e digna, uma família como muitas das nossas. Naquele ambiente souberam captar, com a graça de Deus, uma mensagem e um convite para o seu futuro de estar entre os últimos para ajudar os últimos, e fizeram-no com amor incansável, generosidade e inteligência, até no meio de grandes dificuldades. A este propósito, recordemos que o nome de Dom Camilo está inscrito no “Jardim dos Justos”, em Jerusalém, precisamente porque, ainda antes de poder partir para o Brasil, bloqueado em Roma devido à segunda guerra mundial, não deixou que as circunstâncias o impedissem, prodigalizando-se com caridade e coragem para ajudar os judeus perseguidos.
Foi assim durante toda a sua vida, como sacerdote e depois como bispo, com um impulso irresistível a estar próximo dos mais desafortunados. Por isso, no final do seu mandato episcopal, pediu e obteve autorização para permanecer no meio do seu povo, no Mato Grosso, até à sua morte, como humilde servidor dos humildes, continuando assim, em segredo, como amigo e companheiro de caminho, o mesmo ministério que exerceu durante tantos anos como guia e pastor.
O que nos deixou é um grande exemplo a imitar: estar com os últimos, sempre! De que maneira? Escolhendo e privilegiando, nos vossos projetos, as realidades mais pobres e desprezadas como lugares especiais onde permanecer e como “terras prometidas” para onde partir e onde “armar as vossas tendas” a fim de começar novas obras (cf. Dt 1, 8). E fazê-lo com uma presença concreta e próxima das comunidades que servis, a partir de dentro, in loco, trabalhando entre os pobres e compartilhando o mais possível a sua vida. Com efeito, só assim sentiremos “o pulsar” das necessidades reais dos irmãos e irmãs que o Senhor coloca no nosso caminho; e sobretudo enriquecer-se com a luz, a força e a sabedoria que vêm do estar com Jesus, presente de modo único nos membros mais sofredores do seu Corpo.
E vejamos o segundo ponto: trabalhar juntos. Nas vossas atividades, exorto-vos a procurar sempre a sinergia, entre vós e com outras realidades religiosas e associativas. Sei que já colaborais, em várias obras, com as Irmãs Missionárias da Divina Vontade, de Bassano del Grappa, e com outras organizações. É o caminho certo. Com efeito, trabalhar juntos é, por si só, anúncio do Evangelho vivido; e para vós, além de ser um modo inteligente de otimizar os recursos, é um caminho de formação na caridade e na comunhão. Frisastes isto dando a um dos vossos últimos eventos este título: “Agir juntos para progredir juntos”. É precisamente isto: sim, agir juntos não significa apenas praticar o bem, mas também e sobretudo crescer unidos no bem, servindo-se e apoiando-se uns aos outros.
Concluindo, agir em conjunto é também uma expressão de fé na Divina Providência. Dom Faresin chamava-lhe “a fonte que mais garante recursos” para as obras que Deus pede. E os recursos mais importantes para as obras do Senhor não são as coisas, mas nós, sabiamente colocados próximos uns dos outros para partilhar o que somos: a nossa paixão, a nossa criatividade, as nossas capacidades e experiências, mas também as nossas fraquezas e fragilidades. Desta partilha paciente, na valorização da contribuição de cada um, nascem frutos de grande dinamismo e consistência, como testemunha a história passada e presente da vossa Fundação.
Caros irmãos e irmãs, obrigado pelo que fazeis e como o fazeis; e porque assim mantendes viva a memória do grande e generoso coração pastoral de Dom Camilo Faresin. Que Nossa Senhora vos ampare na caridade humilde e corajosa. Abençoo cada um de vós e as vossas famílias; e peço-vos, por favor, que rezeis por mim!