· Cidade do Vaticano ·

Discurso de Francisco aos participantes numa conferência internacional interuniversitária

Violência, desigualdades e injustiças escandalosas sofridas pelas mulheres

 Violência, desigualdades e injustiças  escandalosas sofridas pelas mulheres  POR-011
14 março 2024

«No mundo, onde as mulheres ainda sofrem tantas violências, desigualdades, injustiças e maus-tratos — e isto é escandaloso, ainda mais para quem professa a fé no Deus “nascido de mulher” — existe uma grave forma de discriminação, que está ligada à formação das mulheres», denunciou o Papa Francisco na manhã de 7 de março, recebendo em audiência na Sala Clementina os participantes na Conferência internacional «Mulheres na Igreja: artífices do humano», que decorreu até sexta-feira 8, Dia da mulher, na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. Eis o discurso preparado pelo Pontífice e lido por um dos seus colaboradores.

Queridos irmãos e irmãs
bom dia!

Dirijo uma cordial saudação a todos vós, que viestes de vários países para participar na Conferência Mulheres na Igreja: artífices do humano. Obrigado pela vossa presença e por terdes organizado e promovido este evento.

Nele exalta-se particularmente o testemunho de santidade de dez mulheres. Faço questão de as nomear: Josefina Bakhita, Madalena de Jesus, Elizabeth Ann Seton, Mary MacKillop, Laura Montoya, Kateri Tekakwitha, Teresa de Calcutá, Rafqa Pietra Choboq Ar-Rayès, Maria Beltrame Quattrocchi e Daphrose Mukasanga.

Todas elas, em diversos tempos e culturas, com estilos próprios e diferentes e mediante iniciativas de caridade, educação e oração, deram provas de como o “génio feminino” pode refletir, de forma única, a santidade de Deus no mundo. De facto, precisamente em épocas nas quais as mulheres eram mais excluídas da vida social e eclesial, “o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja”. Além disso, apraz-me «lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho» ( Exort. ap. Gaudete et exsultate, 12). E a Igreja precisa disto, porque a Igreja é mulher: filha, esposa e mãe, e quem mais do que a mulher pode revelar o seu rosto? Sem constrangimentos nem dissensões, mas com um cuidadoso discernimento, dóceis à voz do Espírito e fiéis na comunhão, ajudemo-nos a encontrar caminhos adequados para que a grandeza e o papel das mulheres sejam mais valorizados no Povo de Deus.

Na expressão escolhida para designar o vosso Convénio, definis as mulheres como «artífices do humano». São palavras que fazem apelo, ainda mais claramente, à natureza da vossa vocação: ser «artesãs», colaboradoras do Criador ao serviço da vida, do bem comum, da paz. Gostaria de sublinhar dois aspetos desta missão, relativos ao estilo e à formação.

Antes de mais, o estilo. O nosso tempo aparece dilacerado pelo ódio, em que a humanidade, carecida de se sentir amada, acaba frequentemente ferida pela violência, pela guerra e por ideologias que sufocam os mais belos sentimentos do coração. E, justamente neste contexto, é mais indispensável do que nunca a contribuição feminina: de facto as mulheres sabem unir com ternura. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que queria ser, na Igreja, o amor. E tinha razão, pois a mulher, com a sua capacidade única de compaixão, a sua intuição e a sua propensão natural para «cuidar», sabe ser de forma eminente, para a sociedade, «inteligência e coração que ama e une», colocando amor onde não há amor, humanidade onde o ser humano sente dificuldade em compreender-se a si mesmo.

Segundo aspeto: a formação. Organizastes esta Conferência com a colaboração de várias realidades académicas católicas. Com efeito, no âmbito da pastoral universitária, propor aos estudantes, além do aprofundamento académico da doutrina e da mensagem social da Igreja, testemunhos de santidade, especialmente de mulheres, encoraja-os a elevar o olhar, ampliar o horizonte dos próprios sonhos e do próprio modo de pensar e dispor-se a seguir ideais elevados. Assim a santidade pode tornar-se como que uma linha educativa transversal em toda a abordagem do conhecimento. Por isso desejo que os vossos ambientes, além de constituir lugares “informativos” — lugares de estudo, pesquisa e aprendizagem — sejam também contextos “formadores”, onde se ajuda a abrir a mente e o coração à ação do Espírito Santo. Por isso é importante dar a conhecer os Santos, e especialmente as Santas, em toda a profundidade e dimensão concreta da sua humanidade: desta forma, a formação será capaz de tocar ainda mais cada pessoa na sua integralidade e unicidade.

Uma última coisa, a propósito da formação: no mundo, onde as mulheres ainda sofrem tantas violências, disparidades, injustiças e maus-tratos — isto é ainda mais escandaloso para quem professa a fé no Deus «nascido de mulher» (Gl 4, 4) — existe uma grave forma de discriminação, ligada precisamente à formação da mulher. Na verdade, tem-se receio dela em muitos contextos, quando o caminho para sociedades melhores passa justamente pela instrução das meninas, adolescentes e jovens, da qual tira benefício o desenvolvimento humano. Rezemos e trabalhemos por isso!

Queridas irmãs e irmãos, confio ao Senhor os frutos da vossa Conferência e acompanho-vos com a minha bênção. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.

Obrigado!