A «vulnerabilidade» não pode ser «um tema “politicamente correto”, nem uma mera organização de práticas» ao serviço de «indivíduos sem rosto»: pelo contrário, é necessário encontrar e acolher as pessoas com o estilo da proximidade, compaixão e ternura ensinado por Cristo, recordou o Papa no discurso aos participantes na segunda “Cátedra do acolhimento”, reunidos a 27 de fevereiro na Fraterna Domus de Sacrofano para o evento de formação dedicado ao tema «Vulnerabilidade e comunidade. Entre acolhimento e inclusão». Durante a audiência realizada na manhã de 1 de março na Sala Clementina, o Pontífice confiou a monsenhor Filippo Ciampanelli, oficial da Secretaria de Estado, a leitura do texto preparado para a ocasião.
Nestes últimos dias estivestes reunidos na Fraterna Domus de Sacrofano para a segunda “Cátedra do acolhimento”. É um lugar adequado! Não só porque é amplo e equipado: é adequado porque é acolhedor! É um lugar onde são acolhidos idosos, famílias e jovens em dificuldade, migrantes. Por isso, é bom que as irmãs da Associação Fraterna Domus sejam um pouco o motor e as animadoras desta iniciativa. Obrigado, amadas irmãs!
Vi o vosso programa para estes dias: muito bom e interessante! Colocastes no centro a vulnerabilidade. Ou seja, fizestes “reagir” — como diríamos em química — acolhimento e vulnerabilidade, considerados nas suas diferentes formas. Aprecio esta escolha, tipicamente evangélica, e gostaria de vos propor alguns pontos de reflexão para o vosso caminho.
Em primeiro lugar: para acolher irmãos e irmãs vulneráveis, devo sentir-me vulnerável e acolhido como tal por Cristo. Ele vai sempre à nossa frente: fez-se vulnerável, até à Paixão; acolheu a nossa fragilidade para que, graças a Ele, possamos fazer o mesmo. São Paulo escreve: «Recebei-vos uns aos outros como Cristo vos recebeu» (cf. Rm 15, 7). Se permanecermos n’Ele, como ramos na videira, daremos bons frutos, inclusive neste vasto campo de hospitalidade.
Um segundo ponto. Jesus passou a maior parte do seu ministério público, sobretudo na Galileia, com os pobres e os doentes de todos os tipos. Isto diz-nos que a vulnerabilidade não pode ser uma questão “politicamente correta”, nem uma mera organização de práticas, por melhores que sejam. Digo isto porque, infelizmente, o risco está presente, sempre à espreita, apesar de toda a boa vontade. Especialmente em realidades maiores e mais estruturadas, mas também em realidades mais modestas, a vulnerabilidade pode tornar-se uma categoria; as pessoas, indivíduos sem rosto; o serviço, um “desempenho”; e assim por diante. Por isso, devemos permanecer firmemente ancorados no Evangelho, em Jesus, que não ensinou os seus discípulos a organizar um cuidado aos doentes e aos pobres. Jesus queria formar os discípulos num estilo de vida, permanecendo próximo dos vulneráveis, no meio deles. Os discípulos viram como Ele se encontrava com as pessoas, viram como Ele acolhia: a sua proximidade, a sua compaixão, a sua ternura. E depois da Ressurreição, o Espírito Santo imprimiu neles este estilo de vida. Em seguida, mais uma vez, o Espírito formou homens e mulheres que se tornaram santos amando pessoas vulneráveis como Jesus. Alguns foram canonizados e são modelos para todos nós; mas quantos homens e mulheres se tornaram santos acolhendo os mais pequeninos, os pobres, os frágeis, os marginalizados! E é importante, nas nossas comunidades, compartilhar com simplicidade e gratidão as histórias destas testemunhas escondidas do Evangelho.
Uma última sugestão que gostaria de vos dar. No Evangelho, os pobres, os vulneráveis, não são objetos, são sujeitos, são protagonistas com Jesus no anúncio do Reino de Deus. Pensemos em Bartimeu, o cego de Jericó (cf. Mc 10, 46-52). Esta narração é emblemática, convido-vos a relê-la com frequência, pois é muito bela. Estudando e meditando este texto, vemos que Jesus encontra naquele homem a fé que procurava: só Jesus o reconhece no meio da multidão e do barulho, escuta o seu grito cheio de fé. E aquele homem, que graças à sua fé no Senhor recupera a vista, põe-se a caminho, segue Jesus e torna-se sua testemunha, de tal modo que a sua história entrou nos Evangelhos. O vulnerável Bartimeu, salvo pelo vulnerável Jesus, compartilha a alegria de testemunhar a sua Ressurreição. Citei-vos esta narração, mas há muitas outras, com diferentes tipos de vulnerabilidade, não apenas física. Pensemos em Madalena: atormentada por sete demónios, tornou-se a primeira testemunha de Jesus ressuscitado. Em síntese: as pessoas vulneráveis, encontradas e acolhidas com a graça e o estilo de Cristo, podem ser uma presença evangélica na comunidade crente e na sociedade.
Queridos irmãos e irmãs, obrigado pelo vosso compromisso. Ide em frente! Que Nossa Senhora vos acompanhe sempre. Abençoo-vos de coração. E peço-vos, por favor, que oreis por mim. Obrigado!