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O drama indescritível de 150 dias de conflito

O drama indescritível de 150 dias de conflito

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07 março 2024

Quem pode afirmar que ganhou esta guerra até agora? O Hamas não o pode dizer, após o ataque de 7 de outubro contra civis inocentes, pois são os palestinianos que pagam o preço mais alto em perda de vidas humanas. Não o podem dizer os israelitas que, além da perda de vidas, de soldados e de reféns, vivem uma divisão muito evidente na sociedade civil. Nenhum dos dois povos pode vencer, pois quem vence é a desconfiança mútua, o ódio, a violência, a vingança ao mais alto nível na Terra Santa, desde há 75 anos até hoje.

A comunidade internacional não pode dizer que a paz podia vencer, porque não houve intervenções concretas a favor de uma verdadeira pacificação. Até agora, quem tem nas mãos a possibilidade de impedir a guerra não tem a coragem de derrotar interesses e hipocrisias que a desencadeiam. O escândalo é o mesmo que, no terceiro domingo da Quaresma, nos mostra um Jesus inusitado e diferente, que exige maior honestidade e clareza de coração. É o exemplo certo para compreender o que significa silenciar a consciência lançando ajudas do céu, condenando a violência com palavras, sem intervir de modo concreto para deter as armas em mãos homicidas. O Papa Francisco pede vigorosamente que se deponham as armas, pois «o desarmamento é um dever moral». É um pedido forte, justo e urgente, mas até agora não foi ouvido. Aparentemente, as palavras e gestos de caridade não tiram a responsabilidade de quem, verdadeira e decididamente, poderia impedir a guerra mas não o faz.

O balanço de 150 dias de guerra é chocante pelo número de mortos e feridos, pela destruição total de casas, hospitais, mesquitas, igrejas, escolas.

São números impressionantes, pois por detrás de cada pessoa morta ou ferida há histórias de vida, propósitos que não se realizarão, esperanças destroçadas num futuro incerto. Os edifícios destruídos são o símbolo visível de uma humanidade assolada: como reconstruiremos a confiança entre os seres humanos?

Ambos os povos perderam o sentimento de segurança, que a casa representa. Os colonatos israelitas, nas fronteiras com o Líbano, a norte, e com Gaza, a sul, estão vazios por motivos de segurança, e também os colonos estão sem casa. Em Gaza, um milhão e meio de pessoas viram as suas casas destruídas.

Os hospitais já não podem curar nem salvar. Destruí-los e torná-los inoperacionais tira a esperança de ajuda a quem quer ajudar: tantos médicos e enfermeiros foram mortos e feridos, enquanto trabalhavam sem horário nem meios. Os lugares de culto eram lugares de refúgio para a alma: destruí-los ou privá-los de eletricidade e de água tirou a muitos também o refúgio para se salvar. As escolas destruídas tiram a esperança no futuro de tantas crianças e jovens que, através da educação, podem crescer para melhorar a sociedade humana.

Quem devolverá o sorriso, a esperança e a confiança aos 40.000 órfãos de Gaza? As crianças e os seus acompanhadores que chegaram à Itália contaram-me as suas histórias, sofrimentos, temores e traumas que ferem a alma como as armas ferem os corpos. É um balanço desanimador. 150 dias de dor que se acrescentam ao grande sofrimento da Terra Santa ferida e ultrajada.

Neste caminho quaresmal, procuremos ter um coração puro e cheio de fé, esperança e caridade. Confiemos em Jesus Ressuscitado, que vence a morte e oferece esperança à humanidade oprimida pelo mal.

*Vigário da Custódia da Terra Santa

Ibrahim Faltas *