Agrava-se a crise humanitária em Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique, depois que uma recente onda de violências por parte de grupos armados não estatais obrigou mais 100.000 pessoas — incluindo 61.000 crianças — a fugir em busca de segurança. Trata-se da maior deslocação nos últimos 18 meses, denunciou numa nota a organização humanitária Save the Children.
Particularmente atingidos pelas violências são os distritos de Macomia, Chiure, Mecufi, Metuge, Mocímboa da Praia, Quissanga, Muidumbe e Ibo, onde foram destruídas inteiras áreas residenciais, bem como estruturas religiosas e comunitárias, escolas e centros de saúde. A destruição na província de Cabo Delgado (rica em gás, na fronteira com a Tanzânia), agravou a já desastrosa situação humanitária em Moçambique, também a braços com os efeitos dramáticos das mudanças climáticas.
As violências e os repetidos conflitos entre as forças militares governamentais e os grupos armados jihadistas, que têm um impacto devastador em termos de vidas humanas, duram há sete anos e não se vê o seu fim. «São constantes as denúncias de decapitações e raptos, com muitas crianças entre as vítimas», referiu Save the Children. Os grupos armados ativos em Cabo Delgado dependem em geral de um grupo de inspiração jihadista chamado Ahlu al-Sunnah Wal-Jamaah (Aswj), localmente conhecido como al-Shabaab, homónimo da organização somali, à qual contudo não está ligado. O grupo afiliou-se ao autodenominado Estado islâmico ( ei ) em 2019. Até agora, os combates já deslocaram 540.000 pessoas, mais de metade das quais são menores, de acordo com as últimas estimativas oferecidas pela Organização internacional para as migrações ( oim ). Os menores também são raptados e teme-se que os jihadistas os tenham destinado a campos de treino para depois ser usados como crianças-soldado.