· Cidade do Vaticano ·

Para se revestir de misericórdia

 Para se revestir de misericórdia  POR-009
29 fevereiro 2024

Há dois anos que uso o distintivo da bandeira da Ucrânia para não esquecer que há guerra, que morrem tantas pessoas todos os dias nas duas nações em conflito. Há tantos órfãos, tantas viúvas e tantos feridos. Há dois anos que me sinto ucraniano e sofro com eles.

Há dois anos que rezo pela paz e todos os dias, quando celebro a Santa Missa, faço uma pausa em silêncio depois do Pai-Nosso, quando pronuncio as palavras: «Livrai-nos, Senhor, de todos os males e concedei-nos a paz nos nossos dias».

Há dois anos, todos os dias, rezo para que os dois presidentes e os seus conselheiros se sentem à volta de uma mesa: isto salvaria vidas humanas. Enquanto não o fizerem, o rasto de mortos continuará.

Estive sete vezes na Ucrânia em nome do Santo Padre e vi o que nunca deveria acontecer: um homem que mata outro homem e um irmão que mata o irmão. A guerra parece ser desencadeada pela vingança contra um povo que tem o direito de viver em paz.

Nestes dois longos anos, vi também muita solidariedade, o que é incrível!

Encontrei muitas pessoas de boa vontade que dedicam o seu tempo, os seus recursos, para ajudar o próximo, ou seja, milhões de refugiados que foram obrigados a fugir de casa por causa da guerra com apenas um saco de plástico. Ainda hoje muitas pessoas de boa vontade continuam a hospedar refugiados ucranianos em casa. Eis a segunda face da guerra maldita, que dá esperança.

Dou graças ao Senhor porque só de Roma, através de tantas pessoas, conseguimos enviar mais de 240 contentores de ajuda humanitária para os territórios devastados pela guerra.

É verdade que cada guerra é uma derrota, diz o Papa Francisco.

É verdade que todos os Estados produzem armas, que as vendem e que ganham muito dinheiro. E é igualmente verdade que quase ninguém fala de paz, exceto o Santo Padre. Apenas repetem esta frase: «Quem quer a paz tem que se preparar para a guerra». Tem que comprar as armas.

Então pergunto-me: «Quando reina a paz no meu coração? Quando poderei tornar-me um homem capaz de semear a paz e de conceder a paz?». Pessoalmente, sinto-me cheio de paz quando experimento a misericórdia. Quando os meus pecados são perdoados após a confissão e quando começo a perdoar. Naquele momento, sinto-me cheio de paz, de uma paz que não vem do mundo, mas diretamente de Deus. Nesse momento, começo a ser a sua imagem viva.

Misericórdia é o segundo nome de Deus, o primeiro é Amor. O mandamento mais importante convida-nos a amar a Deus e ao próximo. Paz não significa apenas extinguir o fogo, fazer uma trégua, mas revestir-se de misericórdia, isto é, perdoar e pedir perdão.

É preciso pôr Deus em primeiro lugar, o próximo em segundo e o “eu” em terceiro, todos antes de mim, todos são mais importantes do que eu, a vida deles é mais importante do que a minha. Quem põe Deus em primeiro lugar, Deus que ama a vida, cada vida humana, constrói a paz.

A 24 de fevereiro, da basílica de Santa Sofia, em Roma, partiu outro contentor com alimentos destinados ao povo ucraniano. É uma ajuda para as pessoas que estão exaustas devido à guerra, mas não desanimadas e convencidas de que a paz ainda é possível.

Devemos apoiá-los com a oração, que para os crentes pode mover montanhas, muito mais impedir esta guerra sem sentido.

Senhor, peço-te humildemente o milagre da paz.
Tu, que és Todo-Poderoso, sabes que precisamos de paz,
aquela que somente Tu podes dar.
Concede àqueles que a promovem
perseverar no bem
e a quantos a impedem
que encontrem a cura,
que se reconciliem contigo
e com os irmãos,
afastando-se do mal,
pois cada guerra é sempre
uma derrota!

*Cardeal esmoler

Konrad Krajewski*