· Cidade do Vaticano ·

Dois anos de guerra na Ucrânia

Até quando?

This photograph taken on February 24, 2024 shows religious icons in a damaged residential building ...
29 fevereiro 2024

Embora as terríveis notícias que nos chegaram da Terra Santa nos últimos meses, e agora a morte do dissidente russo Navalny, tenham feito passar para segundo plano as crónicas de guerra da Ucrânia, nós hoje queremos recordar. Fazemo-lo nestes dias, dando voz às testemunhas, àqueles que não se rendem à lógica do ódio, a quantos continuam a rezar e a agir para aliviar o sofrimento de uma população devastada por vinte e quatro meses de bombardeamentos. Fizemo-lo deixando falar os números, porque a realidade crua do que acontece, muitas vezes longe dos holofotes, descreve a desumanidade absurda desta guerra. Dezenas de milhares de vidas humanas são sacrificadas para conquistar alguns km de território, dezenas de milhares de homens, jovens e de meia-idade, estão feridos ou mutilados, cidades ucranianas inteiras foram arrasadas, milhões de pessoas deslocadas vivem no estrangeiro, milhares de minas destinam-se a ameaçar a vida futura da população inocente... O que deve acontecer ainda para que a agressão cesse e para que nos possamos sentar em volta de uma mesa para negociar uma paz justa?

Os inúmeros apelos do Papa Francisco para chamar a atenção para a “martirizada Ucrânia” foram deixados sem resposta. A guerra e a violência parecem ter-se tornado a forma de resolver as contendas. A corrida aos armamentos em vista de guerras futuras é agora um dado adquirido, também aceite como inevitável. O dinheiro que nunca se consegue encontrar para construir jardins de infância e escolas, para financiar cuidados de saúde eficazes, para combater a fome ou para promover a transição ecológica em vista da preservação do nosso planeta, está sempre disponível quando se trata de armamentos. A diplomacia está muda perante as sirenes beligerantes. Palavras como paz, negociação, trégua, diálogo, são vistas com desconfiança. A Europa ouviu-se muito pouco, para além do protagonismo solitário de líderes individuais.

Nunca como neste momento há tanta necessidade de não ceder à lógica da guerra. É preciso continuar a invocar de Deus o dom da paz, como incansavelmente continua a fazer o Sucessor de Pedro, sabendo discernir as brasas da esperança que ardem sob o manto cada vez mais denso das cinzas do ódio. São necessárias novas lideranças proféticas, criativas e livres, capazes de ousar, de apostar na paz e de assumir o futuro da humanidade. É necessário o compromisso responsável de todos para fazer ouvir com força e determinação a voz dos que não se rendem à lógica “cainista” dos “senhores da guerra” que corre o risco de nos conduzir à autodestruição.

Andrea Tornielli