· Cidade do Vaticano ·

Rica em fé e humildade

 Rica em fé e humildade  POR-008
22 fevereiro 2024

Tinha olhos claros como as águas de um lago alpino, e toda a simplicidade e inocência das criancinhas, as preferidas do Senhor. Em velhas fotografias em preto e branco, o pequeno rosto de Santa Jacinta Marto (1910 — 1920), a mais nova dos três famosos pastorinhos de Portugal, emerge com vivacidade. No dia 20 de fevereiro, a Igreja celebrou a sua memória litúrgica com a do seu irmão Francisco (1908 — 1919). Ambos foram beatificados por São João Paulo ii a 13 de maio de 2000 e canonizados pelo Papa Francisco a 13 de maio de 2017. Na basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, realiza-se solenemente a sua festa, precedida de um concerto a 18 de fevereiro e de uma vigília de oração no dia seguinte. A 22 de junho passado a irmã Lúcia de Jesus e do Imaculado Coração de Maria (1907 — 2005) foi proclamada Venerável. As suas Memórias são uma fonte preciosa. A irmã Lúcia tinha uma grande estima pela sua priminha. Por isso, escreveu: «A Jacinta foi, pelo que vejo, aquela a quem a Santíssima Virgem comunicou a maior abundância de graças e o maior conhecimento de Deus e da virtude». A primeira e a terceira Memórias tratam precisamente da Jacinta, descrevendo a sua história em páginas por vezes poéticas e outras animadas por vivos diálogos. A quarta Memória dedica-lhe também um amplo espaço.

Jacinta nasceu em Aljustrel a 5 de março de 1910. Era a mais nova dos sete filhos de Manuel Pedro Marto e Olímpia de Jesus. A sua família era pobre de meios materiais, mas rica na fé e na ternura que a todos unia. Entre as humildes paredes da casa, reinava o amor. Perto dali, ficava a casa de Lúcia. Ambas as habitações podem ser visitadas ainda hoje e chamam a atenção pela sobriedade do seu ambiente, embora não sejam tão degradadas como o Cachot, a antiga prisão onde viveu Santa Bernadette Soubirous. Como muitas das suas coetâneas, também Jacinta era analfabeta. Os seus pais ensinaram-lhe, com o seu exemplo, a participar na Eucaristia todos os domingos, a rezar e a amar o Rosário, a ser sincera e respeitosa com todos, a ajudar os outros e a ser caridosa com os pobres. Com uma alma profundamente sensível, a criança comovia-se até às lágrimas quando lhe contavam a paixão do Senhor. A irmã Lúcia escreveu: «A Jacinta entusiasmava-se nas belas noites de lua cheia. Desafiávamo-nos a ver quem conseguia contar as estrelas, a que chamávamos as lanternas dos anjos. A lua era de Nossa Senhora e o sol era do Senhor». A Jacinta tinha um caráter alegre, gostava de brincar com as outras crianças e divertia-se a dançar danças populares. Gostava muito da Lúcia e pedia aos pais se podia ir com os rebanhos para poder estar em sua companhia. Na estrada, levava os cordeirinhos ao colo, quando os via cansados. Encantava-se ao ouvir os ecos que ressoavam pelas montanhas. Foi enquanto pastoreava com Lúcia e Francisco que se deram as três aparições do Anjo da Paz em 1916 e, no ano seguinte, as da «Senhora mais brilhante que o Sol». A mensagem de Fátima, que pertence à categoria das revelações privadas, foi vivida intensamente por Jacinta que, com amor ardente, renunciou aos seus antigos humildes divertimentos para se entregar inteiramente à oração e à penitência. Sem se deixar abater pela incompreensão e pela dureza de alguns, repetia a Lúcia: «Não devemos ter medo de nada! Aquela Senhora ajuda-nos sempre, ama-nos tanto!».

A irmã Lúcia escreveu: «Como a Jacinta, tão pequenina, se deixou penetrar e compreendeu tal espírito de mortificação e penitência? Parece-me que foi, primeiro, por uma graça especial que Deus, pelo Coração Imaculado de Maria, lhe quis conceder; segundo, olhando para o inferno e vendo a desgraça das almas que nele caem». Com as suas orações e sacrifícios, Jacinta queria reconduzir para Deus aqueles que se tinham afastado d’Ele. Tinha também grande afeto pelo Papa, sentindo muita dor por causa das pessoas que «lhe atiravam pedras, praguejavam e diziam muitos palavrões». Já perto da morte, repetiu a Lúcia que dissesse «a todos que Deus nos concede graças através do Imaculado Coração de Maria. Que peçam a paz ao Imaculado Coração de Maria, porque Deus lha confiou!».

Donatella Coalova