· Cidade do Vaticano ·

O Papa pediu aos responsáveis e funcionários da tv 2000 e Radio inBlu que não se nivelem às lógicas dominantes

Uma informação contra a corrente

 Uma informação contra a corrente  POR-007
15 fevereiro 2024

«A comunicação corre o risco de se nivelar a certas lógicas dominantes, de se curvar ao poder ou até de construir “fake news”. Não cedais à tentação de vos alinhardes, ide contra a corrente, gastando sempre a sola dos sapatos, indo ao encontro das pessoas»: eis a “lição de jornalismo” dada pelo Papa Francisco aos responsáveis e funcionários da tv 2000 e Radio inBlu — meios de comunicação ligados à Conferência episcopal italiana — recebidos em audiência na manhã de 29 de janeiro, na sala Paulo vi .

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Estou feliz por vos dar as boas-vindas, por ocasião do 25º aniversário do nascimento da tv 2000 e do circuito inBlu2000. Saúdo D. Giuseppe Baturi, Secretário-Geral da Conferência Episcopal Italiana, e D. Piero Coccia, Presidente da Fundação “Comunicação e Cultura” e da “Rete Blu”, e todos vós que trabalhais nestes meios de comunicação.

Passaram dez anos desde o nosso último encontro e muita coisa mudou no panorama mediático. A inovação tecnológica transformou as modalidades de produção dos conteúdos, assim como a sua fruição; e agora a inteligência artificial «modifica também de modo radical a informação e a comunicação e, através delas, algumas das bases da convivência civil» (Mensagem para o lviii Dia Mundial das Comunicações Sociais).

Mas neste turbilhão, que parece arrastar não só os agentes do setor, mas um pouco todos nós, existem alguns princípios que permanecem fixos, como estrelas para as quais olhar para se orientar e não perder a rota. E isto refere-se em particular a vós que, com o diário “Avvenire” e a Agência Sir, tendes uma pertença muito específica: a Conferência Episcopal Italiana. Isto não é um limite, aliás, é expressão de grande liberdade, porque recorda que a comunicação e a informação estão sempre enraizadas no humano. E realça ainda a importância de encarnar a fé na cultura, particularmente através do testemunho, narrando histórias em que a escuridão ao nosso redor não apague a chama da esperança. É fundamental recordar e viver esta pertença. Por isso, gostaria de vos indicar três palavras para continuar no caminho do vosso trabalho.

A primeira é proximidade, estar próximo. Todos os dias — através da televisão ou da rádio — estais próximos de tantas pessoas, que encontram em vós amigos de quem receber informações, com quem passar momentos agradáveis ou ir à descoberta de novas realidades, experiências e lugares. E esta proximidade abrange também os territórios e as periferias onde as pessoas vivem. Gosto de pensar que a proximidade é uma das qualidades de Deus que se fez próximo de nós. Três coisas mostram Deus: proximidade: faz-se próximo; ternura: Deus é terno; compaixão: perdoa sempre. Não vos esqueçais disto: proximidade, compaixão e ternura. Encorajo-vos a continuar a criar redes, a tecer vínculos, a narrar o que há de belo e bom nas nossas comunidades — com proximidade — a tornar protagonistas quantos normalmente acabam por ser figurantes ou nem sequer são considerados. A comunicação — como sabemos — corre o risco de se nivelar a certas lógicas dominantes, de se curvar ao poder ou até de construir fake news. Não cedais à tentação de vos alinhardes, ide contra a corrente, gastando sempre a sola dos sapatos e indo ao encontro das pessoas. Só assim podereis ser “autênticos por vocação”, como diz um dos vossos slogans. E nunca esqueçais quantos estão à margem, as pessoas pobres, as pessoas sozinhas e, pior ainda, as pessoas descartadas.

A primeira palavra era proximidade, a segunda que vos deixo é coração, na intensidade do seu sentido bíblico e da tradição cristã. Nestes últimos anos, encontraste-la frequentemente nas Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Poderia parecer fora de lugar aproximar o coração ao mundo tecnológico, como é hoje o âmbito da comunicação, mas tudo parte dali. Não se pode observar um acontecimento, não se pode entrevistar alguém, não se pode narrar algo, a não ser a partir do coração. Com efeito, a comunicação não se resolve na transmissão de uma teoria, nem na execução de uma técnica, mas é uma arte que tem no centro a «capacidade do coração que torna possível a proximidade» (Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 171). Isto permite dar espaço ao outro — limitando um pouco o do ego — libertar-nos das cadeias dos preconceitos, dizer a verdade sem a separar da caridade. Nunca separar as ações do coração! E depois, ter coragem. Não é por acaso que “coragem” deriva de cor. Quem tem coração tem também a coragem de ser alternativo, mas sem se tornar polémico ou agressivo; de ser credível, sem ter a pretensão de impor o próprio ponto de vista; de ser construtor de pontes. E isto é muito importante: o comunicador pode ser considerado uma ponte, pois o comunicador é necessariamente construtor de pontes.

E a terceira palavra é responsabilidade. Cada um deve fazer a própria parte para garantir que todas as formas de comunicação sejam objetivas, respeitadoras da dignidade humana e atentas ao bem comum. Deste modo, podemos reparar as fraturas, transformar a indiferença em acolhimento e relação. A vossa profissão tem o caráter da vocação: estais chamados a ser mensageiros que informam com respeito e competência, combatendo as divisões e as discórdias. E recordando sempre que no centro de cada serviço, de cada artigo, de cada programa está a pessoa: não o esqueçais! É precisamente isto que dá sentido à comunicação.

Caros amigos, há dez anos começastes uma fase de revisão e reorganização do vosso trabalho; nestes dias acrescentastes mais uma peça, com o lançamento da vossa “App”. Que também ela contribua para comunicar com proximidade, coração e responsabilidade. Ide em frente por este caminho, recordando o que dizia o vosso Padroeiro São Francisco de Sales: «Não é pela grandeza das nossas ações que agradaremos a Deus, mas pelo amor com que as praticarmos» (Acompanhamento espiritual). Abençoo-vos de coração. E peço-vos por favor que rezeis por mim. Obrigado!