· Cidade do Vaticano ·

Impedir a carnificina

 Impedir a carnificina  POR-007
15 fevereiro 2024

Ocardeal secretário de Estado Pietro Parolin, imediatamente após o massacre perpetrado pelos terroristas do Hamas, a 7 de outubro de 2023, contra famílias israelitas pacíficas, definiu o ataque “desumano”. Disse que a prioridade era a libertação dos reféns, falando também do direito de defesa de Israel e indicou o necessário parâmetro da proporcionalidade. Na terça-feira, 13 de fevereiro, no final do encontro com as autoridades italianas por ocasião do encontro anual para celebrar os Pactos Lateranenses, falando aos jornalistas Parolin usou palavras inequívocas sobre os acontecimentos em Gaza. Reiterou a «condenação clara e sem reservas de qualquer tipo de antissemitismo», mas ao mesmo tempo reiterou o «pedido para que o direito à defesa de Israel, invocado para justificar esta operação seja proporcional, e com 30.000 mortos certamente não é». O cardeal acrescentou: «Creio que estamos todos indignados com o que está a acontecer, com esta carnificina, mas devemos ter a coragem de ir em frente, sem perder a esperança». Um convite a não se deixar levar pelo desânimo, pela presumível inevitabilidade de uma espiral de violência que nunca poderá ser um prenúncio de paz, mas que infelizmente corre o risco de gerar novo ódio.

Entrevistada por Il Fatto quotidiano também a escritora e poetisa Edith Bruck — que na primavera de 1944, com treze anos, foi capturada no gueto húngaro de Sátoraljaújhely e deportada para Auschwitz — manifestou posições semelhantes. Criticou duramente o atual primeiro-ministro israelita, afirmando que «prejudicou os judeus da diáspora porque revigorou o antissemitismo que nunca desapareceu e que agora aumentou». Bruck acrescentou a convicção de que, com esta política, os terroristas nunca serão eliminados.

As palavras do purpurado e da poetisa judia são palavras ditadas por um olhar realista sobre o drama em curso. Para a Santa Sé, a escolha de campo é sempre a das vítimas. E, portanto, dos israelitas massacrados em casa nos kibutzim, quando se preparavam para celebrar o dia de Simchat Torah, dos reféns arrancados às suas famílias, como dos civis inocentes — um terço dos quais são crianças — mortos pelos bombardeamentos em Gaza. Ninguém pode definir o que acontece na Faixa de Gaza um “dano colateral” da luta contra o terrorismo. O direito à defesa, o direito de Israel a levar à justiça os responsáveis pelo massacre de outubro, não pode justificar esta carnificina.

No Angelus de 17 de dezembro passado, após o assassinato de duas cristãs que se tinham refugiado na paróquia de Gaza, o Papa Francisco disse: «Civis indefesos são objeto de bombardeamentos e tiros... Alguns dizem: “É terrorismo, é guerra!”. Sim, é guerra, é terrorismo! Por isso, a Escritura afirma que “Deus acaba com as guerras... rompe os arcos e quebra as lanças» (cf. Sl 46, 9). Rezemos ao Senhor pela paz». No início da Quaresma, enquanto continua a macabra contagem das vítimas inocentes, este apelo torna-se ainda mais insistente, para invocar o silêncio das armas antes que seja demasiado tarde para o nosso mundo, à beira do abismo.

Andrea Tornielli