«Ainiciativa humanitária de trazer para a Itália crianças de Gaza doentes ou feridas, e que teve entre os seus promotores o nosso padre Ibrahim Faltas, é um bom testemunho da nossa missão na Terra Santa. Que não é apenas a custódia cuidadosa daquelas pedras que nos falam de Jesus, mas é também o encontro com Cristo nos nossos irmãos e irmãs que sofrem nesta terra», diz de Jerusalém o padre Francesco Patton, atual guardião da Terra Santa.
Na manhã de 5 de fevereiro o navio-hospital militar italiano “Vulcano” atracou no porto de La Spezia, proveniente da cidade egípcia de Al Arish, trazendo para Itália um segundo grupo de crianças de Gaza, doentes ou feridas. O navio tinha prestado serviços de primeiros socorros nas semanas anteriores, ancorado no Egito. Este é o segundo grupo de crianças assistidas em Itália, após a chegada de um avião da Força aérea italiana a Ciampino na segunda-feira, 29 de janeiro. Em ambos os casos, o ministro dos Negócios estrangeiros italiano, Antonio Tajani, e o vigário da Custódia da Terra Santa, padre Ibrahim Faltas, estiveram presentes para acolher as crianças. «Neste segundo grupo», explicou o frade franciscano, «as crianças chegaram em condições mais graves. A situação sanitária em Gaza está agora irremediavelmente comprometida. Na parte norte da Faixa de Gaza não existem atualmente instalações sanitárias viáveis, e no sul as poucas estruturas que restam estão sobrelotadas e incapazes de resolver as situações mais graves. Até antes da intervenção italiana, alguns dos casos mais graves tinham sido tratados em hospitais do Egito e de outros países árabes que se tinham disponibilizado. Há três tipos de emergências médicas que não podem ser tratadas localmente. Em primeiro lugar, os feridos, a maior parte dos quais necessitam de tratamento ortopédico por terem sido retirados dos escombros das casas destruídas. Em seguida, os doentes crónicos (diabéticos, cardiopatas, oncológicos) para os quais não é possível assegurar a continuidade do tratamento, que é uma garantia de sobrevivência. E, por fim, a mais generalizada, as epidemias de doenças infecciosas: promiscuidade forçada, alimentos fora de prazo ou estragados, esgotos e fossas sépticas rebentados, falta de água para higiene e para beber, favorecem a propagação de vírus e bactérias. «A minha mãe cozinhava arroz e legumes recolhendo a água da chuva das poças», conta uma das crianças que chegaram ontem no navio “Vulcano”. «Muitas das crianças que chegaram têm sinais evidentes de sofrimento físico, mas, mais do que isso, o que me impressionou e comoveu foi ouvir as suas histórias», diz o padre Faltas antes de partir para Jerusalém, onde vai organizar a formação de novos grupos de crianças que serão enviadas para Itália. «Ontem de manhã, eu era o único a bordo do navio que falava árabe, e as crianças estavam ansiosas por contar as suas histórias. Falando e contando, apercebi-me que, para elas, é terapêutico exorcizar o medo viveram durante quatro meses». O frade mostra-nos alguns vídeos que recolheu das crianças. Vê-se uma menina a ser carregada pelo pai, inerme, para a sala de emergência. A mãe entra a correr na sala de reanimação gritando «está morta, está morta, mataram-na» e, ao lado, o irmão Ibrahim mostra-nos o vídeo gravado no hospital Mayer de Florença, enquanto, com a cabeça enfaixada, mas finalmente a sorrir, conta a sua história. E um igual “antes e depois”, mostra uma criança a ser retirada dos escombros da sua casa com uma perna mutilada, e agora a receber um pequeno brinquedo dado pelo frade. «São histórias de cortar o coração», acrescenta o padre Ibrahim. Todas as crianças do navio recebem alguns presentes das suas mãos, brinquedos simples como os de antigamente, feitos pelas pequenas mãos dos seus coetâneos que frequentam a escola católica da Custódia de Jerusalém.
A emoção do franciscano ao encontrar as crianças dentro do navio é igual à do ministro Tajani: «Ver o sorriso destas crianças e das suas mães — disse a “L’Osservatore Romano” — que viveram a tragédia dos bombardeamentos dá-nos uma grande satisfação, não só política mas interior. Ter devolvido um sorriso e momentos de serenidade a estas vítimas inocentes recompensa-nos por todo o trabalho árduo que foi feito. Dar-lhes a possibilidade de viverem finalmente em paz no nosso país ajuda-nos a recordar sempre que a política é, antes de mais, um serviço. E isto é ainda mais verdadeiro para um pai e um avô». Tajani explicou ainda que «o Governo italiano trabalha para acolher mais crianças. O compromisso inicial era que 100 crianças fossem tratadas nos hospitais pediátricos italianos, embora não seja fácil acolhê-las todas ao mesmo tempo. Agora o compromisso continua com o precioso apoio das embaixadas italianas em Israel e no Egito e do consulado geral da Itália em Jerusalém. Procuraremos acolher e cuidar do maior número possível de crianças». O ministro concluiu a sua breve entrevista a «L’Osservatore Romano» com uma homenagem ao papel desempenhado pelo padre Faltas e pela Custódia da Terra Santa. «O padre Ibrahim foi um dos protagonistas desta operação que trouxe para a Itália crianças de Gaza feridas ou doentes. Sem este sacerdote que dedica a sua vida à Terra Santa, não teríamos podido realizar tudo o que fazemos. Além dos brinquedos para as crianças, ofereceu-nos a todos um terço benzido na Terra Santa, para dar graças ao Senhor por este grande dom que nos concedeu, a nós e a todas estas crianças, para que possam finalmente viver em serenidade».
Roberto Cetera