· Cidade do Vaticano ·

Uma carga de esperança

 Uma carga de esperança  POR-005
01 fevereiro 2024

Às 21h37 de 29 de janeiro, aterrou no aeroporto militar de Ciampino o voo especial que trouxe para a Itália as primeiras onze crianças da Faixa de Gaza gravemente doentes ou feridas durante os intensos bombardeamentos e combates, para as quais o tratamento no local teria sido difícil ou até impossível. As crianças atravessaram a fronteira com o Egito e de lá embarcaram com destino ao aeroporto de Roma Ciampino. Com elas estava também um rapaz com pouco mais de 18 anos e 13 acompanhantes, familiares e enfermeiras.

As crianças serão todas tratadas nos hospitais pediátricos mais importantes: o Bambino Gesù, em Roma, que se encarregará do primeiro acolhimento e das primeiras colocações, o Gaslini, em Génova, o Rizzoli, em Bolonha, e o Meyer, em Florença.

A Itália é o primeiro país europeu a lançar uma operação internacional de resgate das vítimas da guerra em Gaza. Na quarta-feira 31 — explica o general Francesco Paolo Figliuolo, que fala a «L’Osservatore Romano» de «uma atividade sinérgica» entre vários ministérios italianos — foi a vez da partida para Itália do navio-hospital Vulcano, que estava ancorado na costa egípcia. O navio partiu com cerca de cinquenta menores acompanhados e, dentro de 4-5 dias, atracará num porto «baricêntrico em função do local onde as crianças serão hospitalizadas». Em fevereiro, terá início uma ponte aérea para transportar outras crianças atualmente hospitalizadas no Cairo para vários hospitais italianos.

Nas últimas horas, os hospitais da Universidade de Perugia e de San Marino também deram a sua disponibilidade. «Vamos trazer todas as que pudermos», garantiu o general Figliuolo que, ao ser um dos primeiros a entrar no avião que acabava de aterrar, não conseguiu esconder os sinais de uma emoção evidente.

A iniciativa que permitiu que as crianças de Gaza chegassem à Itália para receber assistência contou com o apoio, desde a fase de planeamento, do vigário da Custódia da Terra Santa, padre Ibrahim Faltas, que recentemente falou a «L’Osservatore Romano» sobre o seu trabalho pastoral com as famílias que vivem na Faixa de Gaza. Face aos pedidos que lhe chegavam de Gaza para fazer alguma coisa a fim de aliviar o sofrimento das criancinhas feridas ou doentes, ele «entrou imediatamente em contacto com as estruturas governamentais italianas, recebendo prontamente o seu apoio entusiástico».

Graças à densa rede de relações estabelecida ao longo dos anos, o padre Faltas pôde iniciar «uma intensa atividade de mediação que envolveu», disse, «israelitas, palestinianos e egípcios».

Ontem à tarde (29 de janeiro), enquanto aguardava a chegada das crianças ao hangar da xxxi esquadrilha da Força Aérea, o padre Faltas não conteve a sua emoção por aquilo a que chamou «um primeiro sinal de paz. Paz que precisa de escuta e humildade». O franciscano reiterou uma vez mais a sua gratidão ao povo italiano «pois a Itália é o primeiro país da Europa que recebe crianças de Gaza as quais, de outra forma, não poderiam ser tratadas. A Itália sempre esteve próxima desta causa, nós pedimos e ela aceitou. Quando as crianças estiverem verdadeiramente curadas, poderão regressar ao seu país».

Por seu lado, o ministro dos Negócios estrangeiros e da Cooperação internacional, Antonio Tajani, presente em Ciampino, declarou a «L’Osservatore Romano» que «trabalhámos intensamente com as autoridades israelitas, com as autoridades nacionais palestinianas e com as autoridades nacionais egípcias, durante a minha recente viagem ao Médio Oriente. Concluímos as negociações na quinta-feira em Israel. Foi um compromisso que assumimos». Daí a garantia de que «a Itália continua a mostrar a sua solidariedade para com aqueles que são certamente vítimas».

Um profundo «obrigado», por fim, da embaixadora palestiniana na Itália, Abeer Odeh, que se declarou «comovida» com o acolhimento dado a estas crianças vítimas de «ataques brutais» em Gaza: «Agradecemos, também através do vosso jornal, ao Governo italiano por ajudar os nossos menores. Esperamos que sejam acolhidas muitas mais crianças e que a iniciativa italiana seja seguida por outros países europeus».

Assim que aterraram, todas as crianças, embora com sinais evidentes de sofrimento físico, sorriram de satisfação por terem saído do inferno que viveram nos últimos três meses.

Roberto Cetera