· Cidade do Vaticano ·

Seja ouvido o grito do povo pela paz

 Seja ouvido o grito do povo pela paz  POR-005
01 fevereiro 2024

«Onde quer que se combata», em Myanmar como no Médio Oriente e na Ucrânia, «por favor respeitai as pessoas! Por favor, escutai o grito do povo, que está cansado da violência e quer que a guerra termine». Este foi o novo e veemente apelo para que se ponha fim aos vários conflitos que ensanguentam o mundo, lançado pelo Papa Francisco no final do Angelus dominical. Ao meio-dia de 28 de janeiro, da janela do Palácio apostólico do Vaticano recitou a oração mariana com os vinte mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o seguiam através dos meios de comunicação social, o Pontífice inicialmente comentou o Evangelho proposto pela liturgia, centrado no episódio de Jesus que liberta uma pessoa possuída por um «espírito maligno» (Mc 1, 21-28). Eis a sua meditação.

Amados irmãos e irmãs
bom dia!

O Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus que liberta uma pessoa possuída por um “espírito maligno” (cf. Mc 1, 21-28), que a atormentava e continuava a fazê-la gritar (cf. vv. 23.26). É isto que o demónio faz: quer possuir para “nos acorrentar a alma”. Acorrentar-nos a alma: é o que o demónio quer. E nós devemos estar atentos às “correntes” que sufocam a nossa liberdade. Pois o demónio tira-nos a liberdade, sempre. Procuremos, então, dar nomes a algumas dessas correntes que podem agrilhoar o nosso coração.

Penso nos vícios, que nos tornam escravos, sempre insatisfeitos, e devoram energias, bens e afetos; penso nas modas dominantes, que nos empurram para um perfeccionismo impossível, no consumismo e no hedonismo, que mercantilizam as pessoas e estragam as relações. E outras correntes: há as tentações e os condicionamentos que minam a autoestima, a serenidade, a capacidade de escolher e amar a vida; outra corrente: o medo, que faz olhar para o futuro com pessimismo, e a impaciência, que atribui sempre a culpa aos outros; e há ainda a corrente muito má: a idolatria do poder, que gera conflitos e recorre a armas que matam ou faz uso da injustiça económica e da manipulação do pensamento. Quantas correntes há na nossa vida!

E Jesus veio para nos libertar de todas essas correntes. E hoje, perante o desafio do demónio que lhe grita: «Que queres [...]? Vieste para nos arruinar?» (v. 24), ele responde: «Cala-te! Sai dele!» (v. 25). Jesus tem o poder de expulsar o demónio. Jesus liberta do poder do mal. Mas atenção: ele expulsa o demónio, mas não conversa com ele! Jesus nunca conversou com o demónio; e quando foi tentado no deserto, as suas respostas foram palavras da Bíblia, nunca um diálogo. Irmãos e irmãs, com o demónio não há diálogo! Cuidado: com o demónio não há diálogo, porque se dialogarmos com ele, ele ganha, sempre. Cuidado!

O que fazer então quando nos sentimos tentados e oprimidos? Negociar com o demónio? Não, não se negoceia com ele. É preciso invocar Jesus: invocá-lo ali, onde sentimos as correntes do mal e do medo apertarem com mais força. O Senhor, com a força do seu Espírito, quer repetir também hoje ao maligno: “Afasta-te, deixa esse coração em paz, não dividas o mundo, as famílias, as comunidades; deixa-as viver em paz, para que nelas floresçam os frutos do meu Espírito, não os teus — diz Jesus — para que entre elas reine o amor, a alegria, a mansidão, e em vez de violência e gritos de ódio haja liberdade e paz”.

Perguntemo-nos então: quero realmente libertar-me dessas correntes que prendem o meu coração? E depois, será que sei dizer “não” às tentações do mal, antes que elas se insinuem na minha alma? Por fim, invoco Jesus, deixo-o agir em mim, curar-me interiormente?

Que a Virgem Santíssima nos proteja do mal.

Depois do Angelus e dos apelos a favor da paz em Myanmar, no Médio Oriente e na Ucrânia, o Papa recordou a libertação das religiosas raptadas no Haiti, garantindo a sua proximidade à comunidade da igreja de Istambul que sofreu um ataque armado durante a missa. Em seguida, falou sobre o Dia mundial da lepra e saudou os presentes. Entre eles estavam os jovens da Ação católica diocesana de Roma, por ocasião da anual Caravana da paz. Dois deles, Paolo Pantano e Ginevra Sgarlato, da paróquia de São Justino mártir, estavam ao seu lado, em representação das duas mil crianças, educadores, pais, professores e sacerdotes.

Amados irmãos e irmãs!

Desde há três anos, o choro da dor e o estrondo das armas substituíram o sorriso que caracteriza a população de Myanmar. Por isso, associo-me à voz de alguns Bispos birmaneses, «para que as armas de destruição se transformem em instrumentos para crescer em humanidade e justiça». A paz é um caminho e convido todas as partes envolvidas a darem passos de diálogo e a revestirem-se de compreensão, para que a terra de Myanmar possa alcançar o objetivo da reconciliação fraterna. Seja consentida a passagem das ajudas humanitárias para garantir o necessário a cada pessoa.

E que o mesmo aconteça no Médio Oriente, na Palestina e em Israel, e onde quer que haja combates: que as pessoas sejam respeitadas! Penso sempre, de forma muito sentida, em todas as vítimas, sobretudo civis, causadas pela guerra na Ucrânia. Por favor, que o seu grito de paz seja ouvido: o grito do povo, que está cansado da violência e quer que a guerra, que é um desastre para os povos e uma derrota para a humanidade, acabe!

Foi com alívio que tomei conhecimento da libertação das religiosas e de outras pessoas raptadas no Haiti, na semana passada. Peço que sejam libertados todos os que continuam sequestrados e que terminem todas as formas de violência; todos ofereçam o seu contributo para o desenvolvimento pacífico do país, para o qual é necessário um apoio renovado da comunidade internacional.

Expresso a minha proximidade à comunidade da Igreja de Santa Maria Draperis, em Istambul, que durante a missa foi vítima de um ataque armado que causou a morte de uma pessoa e vários feridos.

Hoje é o Dia mundial da lepra. Encorajo todos aqueles que estão empenhados na assistência e na reintegração social das pessoas afetadas por esta doença que, embora em declínio, continua a ser uma das mais temidas e afeta os mais pobres e marginalizados.

Saúdo todos vós que viestes de Roma, de Itália e de muitas partes do mundo. Em particular os alunos do Instituto “Puente Ajuda”, de Olivença (Espanha), e os do Instituto “Sir Michelangelo Refalo” de Gozo.

Dirijo-me agora a vós, meninos e meninas da Ação Católica, das paróquias e das escolas católicas de Roma. Chegastes no final da “Caravana da Paz”, durante a qual refletistes sobre o chamamento a ser guardiães da criação, dom de Deus. Obrigado pela vossa presença! E obrigado pelo vosso empenho na construção de uma sociedade melhor. Escutemos agora a mensagem que estes vossos amigos, aqui ao meu lado, nos vão ler.

[leitura da mensagem].

Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Vistes que os jovens, os meninos da Ação Católica são bons! Coragem! Bom almoço e até à próxima!