No domingo, 14 de janeiro, passaram 100 dias desde que o meu único filho, Hersh, me foi tirado.
Hersh é um civil que estava a participar num festival de música. Antes de ser raptado, o seu braço foi amputado ao nível do cotovelo. Tem dupla nacionalidade, americana e israelita.
Não há palavras que possam descrever adequadamente o que têm sido os últimos 100 dias para mim e para a minha família.
Desde que foi raptado, não sabemos mais nada sobre ele.
Mas durante este período sombrio fomos envolvidos por compaixão, graça, amor e apoio. O que tem sido particularmente significativo é a ajuda da comunidade cristã de todo o mundo. Recebemos centenas de milhares de mensagens de cristãos bondosos e atenciosos que nos enviaram a sua bênção para que o Hersh seja forte e volte para casa. Fotografias de mesas de família no jantar de Natal, com um prato vazio com o nome do Hersh, e de pessoas a acenderem velas por ele na missa da meia-noite. Sentir tanta beleza e ternura dos nossos vizinhos cristãos de todo o mundo comoveu-nos profundamente.
Tive a oportunidade única de me encontrar com o Santo Padre, fazendo parte de um pequeno grupo de outras famílias de reféns. Ele ouviu-nos e partilhou a nossa dor. O Papa Francisco disse-me algo que me transformou. Concretamente, que o que tínhamos vivido era terror e que o terror é “a ausência de humanidade”. Foi simples, sábio e inspirador. Até esse momento, eu tinha começado a duvidar da humanidade. Mas depois de ouvir estas palavras, recuperei a minha esperança no mundo.
Desde que Hersh foi raptado, uso um pedaço de fita adesiva sobre o meu coração com o número de dias que passaram desde o seu desaparecimento. Uso um marcador preto e escrevo o número todas as manhãs. Recentemente, comecei a pedir ao mundo que se una a mim e coloque a fita, tal como eu faço. É um símbolo de solidariedade no nosso mundo fragmentado. Peço a todas as pessoas, de todas as religiões, etnias, nacionalidades e idades, que se unam a mim.
No nosso mundo que sofre tanto, em tantos sítios e de tantas maneiras, esta é uma forma simples de todos nos unirmos e dizermos chega. Chega de sofrimento para as pessoas de ambos os lados do conflito. Chega de lágrimas. Chega de derramamento de sangue. Chega de dor. Chega.
O primeiro passo para a compaixão é a unidade. O primeiro passo em direção à unidade é a solidariedade. E o primeiro passo para a solidariedade pode ser um símbolo.
Uni-vos a mim no símbolo de uma mãe que sofre. Tal como chorou a Mãe Maria, também eu choro pelo nosso mundo dilacerado.
Rezo e acredito que a salvação para Hersh e os outros queridos reféns chegará em breve; e para todos os milhares de pessoas inocentes que sofrem em Gaza. Chegou a hora. Amém. Que assim seja!
*100 dias após o ataque do Hamas e o rapto dos reféns, Rachel Goldberg Polin (mãe de Hersh), porta-voz dos familiares dos reféns, que se encontrou com o Papa Francisco em novembro passado, escreveu este artigo exclusivamente para «L’Osservatore Romano», que temos o prazer de publicar.
de Tel Aviv
Rachel Goldberg Polin *