«A guerra é em si mesma um crime contra a humanidade. Os povos precisam de paz! O mundo precisa de paz», salientou o Papa no final do Angelus de domingo, 14 de janeiro. Ao meio-dia, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, antes da recitação da prece mariana com os dez mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, o Pontífice comentou o Evangelho dominical, focado sobre o encontro de Jesus com os primeiros discípulos.
Amados irmãos e irmãs
bom domingo!
O Evangelho de hoje apresenta o encontro de Jesus com os primeiros discípulos (cf. Jo 1, 35-42). Esta cena convida-nos a recordar o nosso primeiro encontro com Jesus. Cada um de nós teve o seu primeiro encontro com Jesus: quando era criança, adolescente, jovem, adulto, adulta... Quando encontrei Jesus pela primeira vez? Podemos fazer uma recapitulação. E depois deste pensamento, desta recordação, renovar a alegria de o seguir e perguntar-nos: que significa ser discípulo de Jesus? Segundo o Evangelho de hoje, podemos considerar três palavras: procurar Jesus, viver com Jesus, anunciar Jesus.
Primeiro, procurar. Dois discípulos, graças ao testemunho do Batista, começaram a seguir Jesus e ele, «percebendo que o seguiam, perguntou-lhes: “Que procurais?”» (v. 38). Estas são as primeiras palavras que Jesus lhes dirige: antes de mais, convida-os a olhar para dentro de si mesmos, a interrogarem-se sobre os desejos que trazem no coração. “Que procurais?” O Senhor não quer prosélitos, não quer “followers” superficiais, o Senhor quer pessoas que se questionem e se deixem interpelar pela sua Palavra. Por isso, para ser discípulo de Jesus, é preciso antes de mais procurá-lo, ter um coração aberto e perscrutador, não um coração saciado ou satisfeito.
O que procuravam os primeiros discípulos? Vemo-lo através do segundo verbo: morar. Não procuram notícias ou informações sobre Deus, nem sinais ou milagres, mas desejam encontrar-se com o Messias, falar com ele, estar com ele, ouvi-lo. Qual é a primeira pergunta que fazem: «Onde moras?» (v. 38). E Cristo convida-os a estar com ele: «Vinde ver» (v. 39). Estar com Ele, permanecer com Ele, é a atitude mais importante para o discípulo do Senhor. A fé, em síntese, não é uma teoria, não, é um encontro, é ir ver onde mora o Senhor e permanecer com Ele. Encontrar o Senhor e habitar com Ele.
Procurar, morar e, por fim, anunciar. Os discípulos procuraram Jesus, depois foram com ele e ficaram com ele toda a noite. E agora anunciar. Regressam e anunciam. Procuram, moram, anunciam. Procuro Jesus? Moro em Jesus? Tenho a coragem de anunciar Jesus? Aquele primeiro encontro com Jesus foi uma experiência tão forte que os dois discípulos recordam para sempre a hora: «Eram quase quatro horas da tarde» (v. 39). Isto mostra a força daquele encontro. E os seus corações estavam tão cheios de alegria que sentiram imediatamente a necessidade de comunicar o dom que tinham recebido. De facto, um deles, André, apressou-se a partilhá-lo com o seu irmão, Pedro, conduzindo-o ao Senhor. Procurai o Senhor, ficai com Ele.
Irmãos e irmãs, também nós comemoramos hoje o nosso primeiro encontro com o Senhor. Cada um de nós teve o seu primeiro encontro, quer na família, quer fora dela... Quando encontrei o Senhor? Quando tocou o Senhor o meu coração? E perguntemo-nos: somos ainda discípulos apaixonados pelo Senhor, procuramos o Senhor, ou instalámo-nos numa fé feita de hábitos? Moramos com Ele na oração, sabemos estar em silêncio com Ele? Sei estar em oração com o Senhor, estar em silêncio com Ele? E depois sentimos o desejo de partilhar, de proclamar esta beleza do encontro com o Senhor?
Que Maria Santíssima, a primeira discípula de Jesus, nos conceda o desejo de o procurar, de estar com Ele e de o anunciar.
No final do Angelus, o Papa saudou os grupos presentes e exortou-os a rezar pelas vítimas de um deslizamento de terra na Colômbia. Por fim, apelou a que se ponha fim aos conflitos em curso na Ucrânia, na Palestina e em Israel.
Dirijo a minha saudação a todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de muitas partes do mundo. Em particular, saúdo os membros da Hermandad Sacramental de Nuestra Señora de los Remedios, de Villarrasa (Espanha).
Não nos esqueçamos de rezar pelas vítimas do deslizamento de terra na Colômbia, que causou muitas vítimas.
E não esqueçamos aqueles que sofrem a crueldade da guerra em tantas partes do mundo, especialmente na Ucrânia, na Palestina e em Israel. No início do ano trocámos bons votos de paz, mas as armas continuaram a matar e a destruir. Rezemos para que aqueles que detêm o poder sobre estes conflitos reflitam sobre o facto de que a guerra não é a forma de os resolver, porque semeia a morte entre os civis e destrói cidades e infraestruturas. Por outras palavras, a guerra é hoje, em si mesma, um crime contra a humanidade. Não esqueçamos isto: a guerra é, em si mesma, um crime contra a humanidade. Os povos precisam de paz! O mundo precisa de paz! Ouvi, há poucos minutos, no programa “A Sua Immagine”, o Padre Faltas, Vigário da Custódia da Terra Santa em Jerusalém: falava de educar para a paz. Temos de educar para a paz. Vê-se que ainda não estamos — a humanidade inteira — suficientemente educados para acabar com todas as guerras. Rezemos sempre por esta graça: educar para a paz.
Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!