· Cidade do Vaticano ·

Na prece mariana de 31 de dezembro, proximidade aos povos em conflito

Quem tem interesses na guerra ouça a voz da consciência

 Quem tem interesses na guerra  ouça a voz da consciência  POR-001
04 janeiro 2024

«No final de um ano, tenhamos a coragem de nos perguntar: quantas vidas humanas foram destruídas pelos conflitos armados? Quantas mortes? E quanta destruição, quanto sofrimento, quanta pobreza? Que aqueles que estão envolvidos nestes conflitos ouçam a voz da consciência», disse o Papa no último Angelus de 2023, recitado da janela do Palácio apostólico do Vaticano na manhã de domingo, 31 de dezembro, com os vinte mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam pelos meios de comunicação social. Falando ao meio-dia, o Pontífice introduziu a oração mariana com uma reflexão sobre a Sagrada Família, cuja festa litúrgica era celebrada nesse dia.

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje celebramos a festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. O Evangelho no-la mostra no templo de Jerusalém, para a apresentação do Menino ao Senhor (cf. Lc 2, 22-40). Chega ao templo onde leva como presente a mais humilde e simples das ofertas entre as previstas, testemunhando a sua pobreza. Por fim, Maria recebe uma profecia: «Uma espada trespassará a tua alma» (v. 35). Chegam na pobreza e partem com uma carga de sofrimento. Isto é surpreendente: como é que a Família de Jesus, a única família da história que se pode orgulhar da presença de Deus na carne, em vez de ser rica é pobre! Em vez de ser facilitada, parece ser dificultada! Em vez de estar livre de trabalhos, está mergulhada em grandes dores!

O que diz isto às nossas famílias, este modo de viver, a história da Sagrada Família, pobre, impedida, com grandes dores? Diz-nos uma coisa muito bonita: Deus, que muitas vezes imaginamos estar para além dos problemas, veio habitar a nossa vida com os seus problemas. Salvou-nos desta forma: não veio como adulto, mas como uma criança muito pequena; viveu numa família, filho de uma mãe e de um pai; passou a maior parte do seu tempo nela, crescendo, aprendendo, numa vida feita de quotidianidade, de escondimento e de silêncio. E não evitou as dificuldades, pelo contrário, escolheu uma família, uma família “perita em sofrimento”, e diz às nossas famílias: “Se estais em dificuldade, eu sei o que sentis, também passei por isso: a minha mãe, o meu pai e eu passámos por isso, dizei-o também à vossa família: não estais sós!”.

José e Maria «estavam admirados com as coisas que se diziam de Jesus» (cf. Lc 2, 33), porque não pensavam que o velho Simeão e a profetisa Ana estivessem ali para dizer estas coisas. Ficaram maravilhados. E hoje quero deter-me sobre isto: sobre a capacidade de admiração. A capacidade de admiração é um segredo para nos darmos bem na família. Não nos habituarmos à normalidade das coisas. Saber, antes de mais, maravilhar-se com Deus, que nos acompanha. E depois, maravilhar-nos em família. Penso que é bom, no casal, saber maravilhar-se com o cônjuge, por exemplo, pegando-lhe na mão e olhando-o nos olhos, à noite, durante alguns momentos, com ternura: a maravilha leva-nos à ternura, sempre. A ternura no casamento é bela. E depois, maravilhar-se com o milagre da vida, dos filhos, encontrar tempo para brincar com eles e para os ouvir. Pergunto-vos, pais e mães: encontrais tempo para brincar com os vossos filhos? Para os levar a passear? Ontem ouvi uma pessoa ao telefone e perguntei-lhe: “Onde estás?” — “Estou na praça, levei os meus filhos a passear”. Esta é uma bonita paternidade e maternidade. E depois, maravilhar-nos com a sabedoria dos avós. Muitas vezes, excluímos da vida os avós. Não, os avós são fontes de sabedoria. Aprendamos a maravilhar-nos com a sabedoria dos avós, com a sua história. Avós que restituem a vida ao essencial. E no final admirar-se com a sua própria história de amor — cada um de nós tem a sua: o Senhor fez-nos caminhar no amor, maravilhar-se com isso. A nossa vida tem certamente os seus aspetos negativos, mas admirar-se também com a bondade de Deus que caminha connosco, mesmo sendo nós tão inexperientes.

Que Maria, Rainha da família, nos ajude a admirar-nos: peçamos hoje a graça da admiração. Que Nossa Senhora nos ajude a maravilhar-nos todos os dias com a bondade e a sabermos ensinar aos outros a beleza do assombro.

Depois do Angelus, o Papa apelou a favor da Nigéria e da Libéria, dos povos ucraniano, palestiniano, israelita e sudanês e dos Rohingyas. Em seguida, recordou o primeiro aniversário da morte do predecessor Bento xvi e saudou os vários grupos presentes.

Caros irmãos e irmãs!

Infelizmente, a celebração do Natal na Nigéria foi marcada por graves violências no Estado de Plateau, com muitas vítimas. Rezo por elas e pelas suas famílias. Que Deus livre a Nigéria destes horrores! E rezo também por aqueles que perderam a vida na explosão de um camião-cisterna na Libéria.

Continuemos a rezar pelos povos que sofrem devido às guerras: o martirizado povo ucraniano, os povos palestiniano e israelita, o povo sudanês e muitos outros.

No final de um ano, tenhamos a coragem de nos interrogar: quantas vidas humanas foram destruídas pelos conflitos armados? Quantas mortes? E quanta destruição, quanto sofrimento, quanta pobreza? Aqueles que estão envolvidos nestes conflitos, ouçam a voz da consciência. E não esqueçamos os martirizados Rohingyas!

Há um ano, o Papa Bento xvi terminou o seu caminho terreno, depois de ter servido a Igreja com amor e sabedoria. Sentimos por ele tanto afeto, tanta gratidão, tanta admiração. Que o céu nos abençoe e nos acompanhe. Uma salva de palmas para Bento xvi !

Saúdo todos os romanos, os peregrinos, os grupos paroquiais, as associações e os jovens. Hoje dirijo uma saudação especial às famílias aqui presentes e àquelas que estão ligadas através da televisão e de outros meios de comunicação. Não esqueçamos que a família é a célula fundamental da sociedade: deve ser sempre defendida e apoiada!

Saúdo a seleção italiana masculina de voleibol sub-18; e saúdo os figurantes do Presépio Vivo de Marcellano, na Úmbria.

E desejo-vos a todos bom domingo. Uma bênção para as vossas famílias! E desejo-vos também um final de ano cheio de paz. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!