![People attend the Angelus prayer led by Pope Francis at the Vatican December 26, 2023. Vatican ... People attend the Angelus prayer led by Pope Francis at the Vatican December 26, 2023. Vatican ...](/content/dam/or/images/pt/2023/12/001/varobj22201537obj2035841.jpg/_jcr_content/renditions/cq5dam.thumbnail.cropped.500.281.jpeg)
«À intercessão do primeiro mártir confio a invocação de paz dos povos dilacerados pela guerra. Os meios de comunicação mostram-nos o que» ela «produz: vimos a Síria, vemos Gaza. Pensemos na martirizada Ucrânia. Um deserto de morte», frisou o Papa no final do Angelus de 26 de dezembro, festa de Santo Estêvão. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, Francisco — antes de presidir à recitação da prece mariana com os cerca de quinze mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação — comentou o Evangelho do dia, centrado na narração do martírio de Estêvão.
Prezados irmãos e irmãs
bom dia!
Hoje, imediatamente depois do Natal, celebramos Santo Estêvão, o primeiro mártir. Encontramos a narração do seu martírio nos Atos dos Apóstolos (cf. cap. 6-7), que o descrevem como um homem de boa reputação, que servia à mesa e administrava a caridade (cf. 6, 3). E é precisamente por causa desta integridade generosa que ele não pode deixar de testemunhar o que lhe é mais precioso: testemunhar a fé em Jesus, o que desencadeia a ira dos adversários, que o matam apedrejando-o sem piedade. E tudo isto acontece diante de um jovem, Saulo, zeloso perseguidor dos cristãos, que serve “fiador” da execução (cf. 7,58).
Consideremos por um momento esta cena: Saulo e Estêvão, o perseguidor e o perseguido. Parece haver entre eles um muro impenetrável, tão duro como o integralismo do jovem fariseu e as pedras atiradas ao condenado à morte. Mas, para além das aparências, há algo mais forte que os une: através do testemunho de Estêvão, de facto, o Senhor está já a preparar no coração de Saulo, sem que ele o saiba, a conversão que o levará a ser um grande Apóstolo. Estêvão, o seu serviço, a sua oração e a fé que proclama, a sua coragem e sobretudo o seu perdão à beira da morte, não são em vão. Dizia-se, nos tempos da perseguição — e também hoje o devemos dizer — “o sangue dos mártires é semente de cristãos”. Parecem não dar em nada, mas na realidade o seu sacrifício lança uma semente que, correndo na direção oposta à das pedras, se planta, de forma oculta, no peito do seu pior rival.
Hoje, dois mil anos depois, infelizmente, vemos que a perseguição continua: há perseguição dos cristãos... Há ainda — e são muitos — aqueles que sofrem e morrem para dar testemunho de Jesus, assim como há aqueles que são penalizados a vários níveis por se comportarem de forma coerente com o Evangelho, e aqueles que lutam todos os dias para permanecerem fiéis, sem alarido, aos seus bons deveres, enquanto o mundo se ri deles e prega outra coisa. Estes irmãos e irmãs podem também parecer fracassados, mas vemos hoje que não é assim. De facto, hoje como então, a semente dos seus sacrifícios, que parecia morrer, brota e dá fruto, porque Deus, através deles, continua a fazer maravilhas (cf. At 18, 9-10), a mudar os corações e a salvar os homens.
Perguntemo-nos, então: preocupo-me e rezo por aqueles que, em várias partes do mundo, continuam a sofrer e a morrer pela fé? Muitos são assassinados por causa da fé. E, por minha vez, procuro testemunhar o Evangelho com coerência, com mansidão e com confiança? Acredito que a semente do bem dará fruto, ainda que eu não veja resultados imediatos?
Maria, Rainha dos mártires, ajudai-nos a dar testemunho de Jesus!
Após a prece mariana do Angelus, o Pontífice agradeceu a todos os que lhe transmitiram mensagens de bons votos, assegurou a sua proximidade às comunidades cristãs perseguidas e lançou um apelo a favor da paz nos países atingidos por guerras. Concluindo, convidou os presentes a parar diante do grande presépio da praça de São Pedro para se deixar «impressionar perante o nascimento do Senhor».
Amados irmãos e irmãs!
Renovo a todos vós os votos de paz e de bem que brota do Natal do Senhor. E aproveito a oportunidade para agradecer a todos os que me enviaram mensagens de boas festas de Roma e de muitas partes do mundo. Obrigado, sobretudo, pelas vossas orações! E continuai a rezar pelo Papa! É necessário.
No sinal do testemunho de Santo Estêvão, estou próximo das comunidades cristãs que sofrem discriminações e exorto-as a perseverar na caridade para com todos, lutando pacificamente pela justiça e pela liberdade religiosa.
À intercessão do primeiro Mártir confio também a invocação da paz por parte dos povos dilacerados pela guerra. Os meios de comunicação social mostram-nos o que a guerra produz: vimos a Síria, vemos Gaza. Pensemos na martirizada Ucrânia. Um deserto de morte. É isto que se quer? Os povos querem a paz. Rezemos pela paz. Lutemos pela paz.
Feliz dia de festa para todos! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!