«À intercessão do primeiro mártir confio a invocação de paz dos povos dilacerados pela guerra. Os meios de comunicação mostram-nos o que» ela «produz: vimos a Síria, vemos Gaza. Pensemos na martirizada Ucrânia. Um deserto de morte», frisou o Papa no final do Angelus de 26 de dezembro, festa de Santo Estêvão. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, Francisco — antes de presidir à recitação da prece mariana com os cerca de quinze mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação — comentou o Evangelho do dia, centrado na narração do martírio de Estêvão.
Prezados irmãos e irmãs
bom dia!
Hoje, imediatamente depois do Natal, celebramos Santo Estêvão, o primeiro mártir. Encontramos a narração do seu martírio nos Atos dos Apóstolos (cf. cap. 6-7), que o descrevem como um homem de boa reputação, que servia à mesa e administrava a caridade (cf. 6, 3). E é precisamente por causa desta integridade generosa que ele não pode deixar de testemunhar o que lhe é mais precioso: testemunhar a fé em Jesus, o que desencadeia a ira dos adversários, que o matam apedrejando-o sem piedade. E tudo isto acontece diante de um jovem, Saulo, zeloso perseguidor dos cristãos, que serve “fiador” da execução (cf. 7,58).
Consideremos por um momento esta cena: Saulo e Estêvão, o perseguidor e o perseguido. Parece haver entre eles um muro impenetrável, tão duro como o integralismo do jovem fariseu e as pedras atiradas ao condenado à morte. Mas, para além das aparências, há algo mais forte que os une: através do testemunho de Estêvão, de facto, o Senhor está já a preparar no coração de Saulo, sem que ele o saiba, a conversão que o levará a ser um grande Apóstolo. Estêvão, o seu serviço, a sua oração e a fé que proclama, a sua coragem e sobretudo o seu perdão à beira da morte, não são em vão. Dizia-se, nos tempos da perseguição — e também hoje o devemos dizer — “o sangue dos mártires é semente de cristãos”. Parecem não dar em nada, mas na realidade o seu sacrifício lança uma semente que, correndo na direção oposta à das pedras, se planta, de forma oculta, no peito do seu pior rival.
Hoje, dois mil anos depois, infelizmente, vemos que a perseguição continua: há perseguição dos cristãos... Há ainda — e são muitos — aqueles que sofrem e morrem para dar testemunho de Jesus, assim como há aqueles que são penalizados a vários níveis por se comportarem de forma coerente com o Evangelho, e aqueles que lutam todos os dias para permanecerem fiéis, sem alarido, aos seus bons deveres, enquanto o mundo se ri deles e prega outra coisa. Estes irmãos e irmãs podem também parecer fracassados, mas vemos hoje que não é assim. De facto, hoje como então, a semente dos seus sacrifícios, que parecia morrer, brota e dá fruto, porque Deus, através deles, continua a fazer maravilhas (cf. At 18, 9-10), a mudar os corações e a salvar os homens.
Perguntemo-nos, então: preocupo-me e rezo por aqueles que, em várias partes do mundo, continuam a sofrer e a morrer pela fé? Muitos são assassinados por causa da fé. E, por minha vez, procuro testemunhar o Evangelho com coerência, com mansidão e com confiança? Acredito que a semente do bem dará fruto, ainda que eu não veja resultados imediatos?
Maria, Rainha dos mártires, ajudai-nos a dar testemunho de Jesus!
Após a prece mariana do Angelus, o Pontífice agradeceu a todos os que lhe transmitiram mensagens de bons votos, assegurou a sua proximidade às comunidades cristãs perseguidas e lançou um apelo a favor da paz nos países atingidos por guerras. Concluindo, convidou os presentes a parar diante do grande presépio da praça de São Pedro para se deixar «impressionar perante o nascimento do Senhor».
Amados irmãos e irmãs!
Renovo a todos vós os votos de paz e de bem que brota do Natal do Senhor. E aproveito a oportunidade para agradecer a todos os que me enviaram mensagens de boas festas de Roma e de muitas partes do mundo. Obrigado, sobretudo, pelas vossas orações! E continuai a rezar pelo Papa! É necessário.
No sinal do testemunho de Santo Estêvão, estou próximo das comunidades cristãs que sofrem discriminações e exorto-as a perseverar na caridade para com todos, lutando pacificamente pela justiça e pela liberdade religiosa.
À intercessão do primeiro Mártir confio também a invocação da paz por parte dos povos dilacerados pela guerra. Os meios de comunicação social mostram-nos o que a guerra produz: vimos a Síria, vemos Gaza. Pensemos na martirizada Ucrânia. Um deserto de morte. É isto que se quer? Os povos querem a paz. Rezemos pela paz. Lutemos pela paz.
Feliz dia de festa para todos! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!