Ser artífices de paz e fraternidade no mundo, pediu o Papa aos membros do Movimento dos Focolares, recebidos em audiência na manhã de 7 de dezembro, na sala do Consistório, por ocasião do 80º aniversário de fundação.
Amados irmãos e irmãs, bem-vindos!
Saúdo o cardeal Farrel, a vossa presidente, doutora Margaret Karram, o copresidente, padre Jesús Morán, os membros do Conselho geral, os delegados das áreas geográficas e todos vós. Obrigado por terdes vindo celebrar o 80º aniversário de fundação do Movimento dos Focolares, também conhecido como Obra de Maria. Obrigado!
Ela coincide com o dia em que a Serva de Deus Chiara Lubich decidiu consagrar-se totalmente ao Senhor. De uma inspiração recebida num contexto absolutamente normal da vida — enquanto fazia compras para a família — nasceu um ato radical de entrega a Deus, como resposta à vocação que sentia dócil e forte no coração. Era o dia 7 de dezembro de 1943, em Trento, no auge da guerra; precisamente na véspera da solenidade da Imaculada Conceição, o “sim” de Maria tornou-se o “sim” de Chiara, gerando uma onda de espiritualidade que se espalhou pelo mundo, para dizer a todos que é belo viver o Evangelho com uma simples palavra: unidade! Mas unidade significa também harmonia: unidade harmoniosa.
Nestes oitenta anos, fizestes ressoar esta mensagem no meio dos jovens, das comunidades, das famílias, das pessoas de vida consagrada, dos sacerdotes e dos bispos, mas também em vários ambientes sociais: no mundo da escola, da economia, da arte, da cultura, da informação e dos meios de comunicação social; e, em particular, nos âmbitos do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Assim fostes instrumentos ativos de um grande florescimento de obras, iniciativas, projetos e sobretudo “renascimentos”, conversões, vocações, vidas entregues a Cristo e aos irmãos. Hoje queremos dar graças a Deus por tudo isto!
Em fevereiro de 2021, dirigindo-me à vossa Assembleia geral, realcei três atitudes que são importantes para o vosso caminho: viver o vosso carisma com fidelidade dinâmica, acolher os momentos de crise como oportunidade para amadurecer, encarnar a espiritualidade com coerência e realismo (cf. Discurso, 6 de fevereiro de 2021). Vivei a espiritualidade! Quero recordá-las hoje para vos encorajar a vivê-las e promovê-las em três linhas: maturidade eclesial, fidelidade ao carisma e compromisso pela paz.
Maturidade eclesial. Convido-vos a trabalhar para que se realize cada vez mais o sonho de uma Igreja plenamente sinodal e missionária. Começai a partir das vossas comunidades, fomentando nelas um estilo de participação e corresponsabilidade, também a nível de governo. Os “focolares” incrementem e difundam ao seu redor um clima de escuta recíproca e de calor familiar, onde se respeite e se cuide uns dos outros, com especial atenção aos mais frágeis e aos mais necessitados de apoio. Para esta finalidade, ser-vos-á útil procurar vias de participação mútua e de consulta a todos os níveis, prestando particular atenção à comunicação e ao diálogo sincero.
No que diz respeito à segunda linha, a fidelidade ao carisma, gostaria de vos recordar algumas palavras da vossa Fundadora: «Que quantos te seguem só recebam o Evangelho. Se fizeres isto, permanecerá o ideal da unidade [...]. O que permanece e permanecerá sempre é o Evangelho, que não sofre o desgaste do tempo» (C. Lubich, in La Parola di Dio, Roma 2011, 112-113). Por favor, semeai a unidade levando o Evangelho, sem nunca perder de vista a obra da encarnação que Deus continua a desejar realizar em nós e à nossa volta através do seu Espírito, a fim de que Jesus seja uma boa notícia para todos, sem excluir ninguém, e «para que todos sejam um» (Jo 17, 21).
E assim chegamos à terceira linha: o compromisso pela paz, hoje tão importante! Com efeito, após dois mil anos de cristianismo, o anseio de unidade continua a assumir, em muitas partes do mundo, a forma de um grito angustiante que exige uma resposta. Chiara ouviu-o durante a tragédia da segunda guerra mundial e decidiu oferecer toda a sua vida para que aquele “testamento de Jesus” se pudesse realizar. Hoje, infelizmente, o mundo ainda está dilacerado por muitos conflitos e continua a precisar de artífices de fraternidade e paz entre os homens e as nações. Chiara dizia: «Ser amor e difundi-lo é o objetivo geral da Obra de Maria» (Vigília de Pentecostes, Praça de São Pedro, 30 de maio de 1998). Ser amor e difundi-lo: eis o objetivo principal. E sabemos que só do amor nasce o fruto da paz. Por isso, peço-vos que sejais testemunhas e construtores da paz que Cristo realizou com a sua cruz, vencendo a inimizade. Pensai que, desde o fim da segunda guerra mundial até agora, as guerras nunca acabaram. E não nos damos conta do drama da guerra. Vou fazer-vos uma confidência. Quando fui a Redipuglia, em 2014, para o centenário da primeira guerra, e vi aquele cemitério, chorei, chorei. Tanta destruição! E a cada 2 de novembro celebro num cemitério qualquer, a última vez fui ao cemitério da Commonwealth, e vejo a idade dos soldados: 22, 24, 18, 30... Todos, vidas destroçadas. Pela guerra. E a guerra não acaba. E na guerra todos perdem, todos! Só os fabricantes de armas ganham. E se não fossem fabricadas armas durante um ano, a fome no mundo poderia acabar. Isto é terrível! Devemos pensar neste drama.
Antes de terminar, gostaria de fazer um último convite, apropriado neste tempo de Advento: o da vigilância. A armadilha da mundanidade espiritual está sempre à espreita. Por conseguinte, também vós deveis ser capazes de reagir de modo decisivo, coerente e realista. Lembremo-nos de que a incoerência entre o que dizemos que somos e o que realmente somos é o pior antitestemunho. A incoerência. Por favor, tomai cuidado! E o remédio é sempre voltar ao Evangelho, a raiz da nossa fé e da vossa história: o Evangelho da humildade, do serviço abnegado, da simplicidade. E gosto de recordar sempre que estais muito próximos do segredo de Deus, dos quatro segredos de Deus. Há quatro coisas que Deus não consegue compreender: não sabe quantas congregações de religiosas existem; o que pensam os jesuítas; quanto dinheiro têm os salesianos; e do que riem os focolares!
Queridos irmãos e irmãs, como já dissemos, vós sois a Obra de Maria: Ela acompanhou-vos ao longo destes oitenta anos e bem sabeis que nunca deixará de o fazer. Portanto, que a Virgem de Nazaré seja a fonte da vossa consolação e força, para serdes apóstolos da unidade ao serviço da Igreja e da humanidade. Obrigado pelo que sois e pelo que fazeis! Continuai o vosso caminho com confiança. Abençoo-vos de coração. E recomendo-vos: não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!