· Cidade do Vaticano ·

Discurso do Pontífice lido pelo cardeal Parolin durante a celebração

Posição clara contra quem alimenta o ódio
e não se opõe à violência

Cardinal Pietro Parolin, left, addresses the Global Faith Leaders Summit, Tuesday, Nov. 7, 2023, in ...
07 dezembro 2023

Publicamos a seguir a saudação do Santo Padre preparada por ocasião da inauguração do “Faith Pavilion” em Dubai, realizada no domingo 3 de dezembro. O texto foi lido pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin.

Alteza
Senhor Secretário-Geral
Queridos irmãos e irmãs!

Quero agradecer ao Doutor Ahmad Al-Tayyeb, Grande Imã de Al-Azhar, que me manifestou a sua solidariedade; ao Muslim Council of Elders, que encontrei há um ano, ao Programa das Nações Unidas para o Ambiente ( unep ) e a todos os parceiros que organizaram e promoveram este pavilhão religioso. É o primeiro do género no coração de uma Cop e mostra que todo o credo religioso autêntico é fonte de encontro e de ação.

Primeiramente, fonte de encontro. É importante encontrar-nos, mais além das nossas diferenças, como irmãos e irmãs em humanidade e sobretudo como crentes, para nos recordarmos a nós e ao mundo que, como peregrinos com a própria tenda nesta terra, somos obrigados a salvaguardar a nossa Casa Comum. As religiões, como consciência da humanidade, lembram-nos que somos criaturas finitas, habitadas pela necessidade de infinito. Sim, somos mortais, somos limitados, e salvaguardar a vida significa também opor-nos ao delírio de omnipotência voraz que está a devastar o planeta. Aquele surge quando o homem se considera senhor do mundo; quando, vivendo como se Deus não existisse, se deixa cativar pelas coisas que passam. Então o ser humano, em vez de dispor da tecnologia, deixa-se dominar por ela, comporta-se como mercadoria e torna-se indiferente: incapaz de chorar e compadecer-se, fica sozinho consigo mesmo e, sobrepondo-se à moral e à prudência, chega até mesmo a destruir o que lhe permite viver. É por isso que a tragédia climática é também uma tragédia religiosa: pois a sua raiz está na presunção de autossuficiência da criatura. Mas, «sem o Criador, a criatura não subsiste» (Const. past. Gaudium et spes, 36). Possa este pavilhão ser um lugar de encontro, e as religiões revelarem-se sempre «lugares hospitaleiros» que deem profeticamente testemunho da necessidade da transcendência, falem ao mundo de fraternidade, de respeito e de cuidado uns dos outros, sem de modo algum justificar os maus-tratos da criação (cf. Papa Francisco e Imã Ahmad Al-Tayyeb , Documento sobre a Fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum, Abu Dhabi, 4 de fevereiro de 2019).

Isto leva-nos ao outro tema-chave deste pavilhão e do credo religioso: a ação. É urgente agir em prol do ambiente, mas utilizar mais recursos económicos não basta: torna-se necessário mudar o modo de viver e, por conseguinte, educar para estilos de vida sóbrios e fraternos. Trata-se de uma ação irrenunciável para as religiões, chamadas também a educar para a contemplação, porque a criação é um dom a acolher, e não apenas um sistema a preservar. Um mundo pobre em contemplação será um mundo poluído na alma, que continuará a descartar pessoas e a produzir resíduos; um mundo sem oração dirá muitas palavras, mas, desprovido de compaixão e de lágrimas, viverá apenas de um materialismo feito de dinheiro e de armas.

A propósito, sabemos como estão interdependentes a paz e a salvaguarda da criação: salta aos olhos de todos como guerras e conflitos danificam o ambiente e dividem as nações, dificultando um empenho compartilhado em temas comuns como a salvaguarda do planeta. De facto, uma casa só é habitável por todos, se reinar no seu interior um clima de paz. O mesmo acontece com a nossa Terra, cujo solo parece unir-se ao grito das crianças e dos pobres para fazer chegar ao céu a mesma e única súplica: paz! Salvaguardar a paz é tarefa também das religiões. Nisto, por favor, não haja incoerências. Não se negue com os factos aquilo que se diz com os lábios: não se limite a falar de paz, mas tome-se claramente posição contra quem, declarando-se crente, alimenta o ódio e não se opõe à violência. Recordo as palavras de Francisco de Assis: «A paz que proclamais com os vossos lábios, tende-a ainda mais abundante nos vossos corações» (Legenda dos três companheiros, xiv , 5: ff 1469). Irmãos, irmãs, que o Altíssimo abençoe os nossos corações para podermos, juntos, ser construtores de paz e guardiões da criação. Obrigado!