· Cidade do Vaticano ·

Ao patriarca ecuménico por ocasião da festa de Santo André

Cesse o ruído das armas
e procure-se o caminho
do diálogo e da reconciliação

 Cesse o ruído das armas  e procure-se o caminho do diálogo e da reconciliação  POR-049
07 dezembro 2023

No âmbito do tradicional intercâmbio de delegações para as respetivas festas dos santos padroeiros, a 29 de junho em Roma para a celebração dos Santos Pedro e Paulo e a 30 de novembro em Istambul para a celebração de Santo André, o cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a promoção da unidade dos cristãos, chefiou a delegação da Santa Sé para a festa do Patriarcado ecuménico. O purpurado estava acompanhado por outros superiores do Dicastério, D. Brian Farrell, secretário, e monsenhor Andrea Palmieri, subsecretário. Com a delegação em Istambul estava presente também o núncio apostólico na Turquia, D. Marek Solczyński. A delegação da Santa Sé participou na solene divina Liturgia, presidida pelo patriarca ecuménico, Sua Santidade Bartolomeu, na igreja patriarcal de São Jorge no Fanar, e teve um encontro com o patriarca e um diálogo com a comissão sinodal encarregada das relações com a Igreja católica. O cardeal Koch entregou ao patriarca ecuménico a seguinte mensagem autografada pelo Papa Francisco.

A Sua Santidade Bartolomeu
Arcebispo de Constantinopla
Patriarca Ecuménico

Movido por cordiais sentimentos de afeto fraterno, e recordando os profundos laços de fé, esperança e caridade que unem as Igrejas irmãs de Roma e Constantinopla, dirijo-lhe, querido Irmão em Cristo, fervorosos votos pela festa do Santo Apóstolo André, irmão de São Pedro e protokletos, celeste padroeiro e protetor da Igreja de Constantinopla e do Patriarcado ecuménico.

Saúdo também os membros do Santo Sínodo, o clero, os monges e as monjas, bem como todos os fiéis reunidos na igreja patriarcal de São Jorge nesta solene ocasião.

A festa de hoje precede a comemoração de um acontecimento verdadeiramente histórico: o encontro em Jerusalém entre o Papa Paulo vi e o Patriarca ecuménico Atenágoras, em janeiro de 1964. Esse encontro constituiu um passo fundamental para abater a barreira da incompreensão, da desconfiança e até da hostilidade que existia havia quase mil anos. Vale a pena observar que hoje recordamos não tanto as palavras e as afirmações desses pastores proféticos, mas sobretudo o seu caloroso abraço. Com efeito, é muito significativo que este caminho de reconciliação, de aproximação crescente e de superação dos obstáculos que ainda impedem uma comunhão plena e visível, tenha começado com um abraço, um gesto que exprime de forma eloquente o reconhecimento mútuo da fraternidade eclesial.

O exemplo do Papa Paulo vi e do Patriarca Atenágoras mostra-nos que todos os autênticos caminhos para a restauração da plena comunhão entre os discípulos do Senhor se distinguem pelo contacto pessoal e pelo tempo passado juntos. Além disso, através do diálogo amistoso, da oração comum e da ação conjunta ao serviço da humanidade, especialmente de quantos são atingidos pela pobreza, pela violência e pela exploração, os membros das diferentes Igrejas acabam por descobrir cada vez mais profundamente a confiança comum na providência amorosa de Deus Pai, a esperança na vinda do Reino inaugurado por Jesus Cristo e o desejo comum de exercer a virtude da caridade inspirada pelo Espírito Santo.

Com a ajuda de Deus, pudemos continuar o caminho traçado pelos nossos veneráveis Predecessores, renovando muitas vezes a alegria de nos encontrarmos e abraçarmos. A este propósito, sinto-me particularmente feliz por recordar o nosso recente encontro em Roma e renovo a minha gratidão pela sua participação na Vigília Ecuménica de Oração, realizada na véspera da abertura da xvi Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, dedicada ao tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. O seu apoio pessoal e o do Patriarcado ecuménico, expressos também através da participação de um delegado fraterno nos trabalhos da Assembleia, são uma grande fonte de encorajamento para a continuação frutuosa do processo sinodal em curso na Igreja católica.

Nesta festa do Apóstolo André, oremos fervorosamente a Deus, nosso Pai misericordioso, para que cesse o ruído das armas, que só traz morte e destruição, e para que os líderes governamentais e religiosos procurem sempre o caminho do diálogo e da reconciliação. Que os Santos Apóstolos Pedro e André intercedam por todos os povos e implorem para eles os dons da comunhão fraterna e da paz.

Amado irmão em Cristo, enquanto renovo de bom grado os meus mais fervorosos votos, troco com Vossa Santidade um abraço fraterno de paz em Cristo nosso Senhor.

Roma, São João de Latrão 30 de novembro de 2023.

Francisco