· Cidade do Vaticano ·

A história de Aisha, 16 anos

Quando o Hamas rapta muçulmanos

 Quando o Hamas rapta muçulmanos  POR-048
30 novembro 2023

Não se sabe nada sobre Aisha. Dezasseis anos, de origem beduína, muçulmana com passaporte israelita. Naquela maldita manhã de 7 de outubro, tinha seguido o seu pai Youssef para o trabalho, juntamente com os seus dois irmãos Hamza e Bilal. Todas as manhãs, Youssef saía de Rahat, a cidade beduína do Negev onde vivia, para ir trabalhar na quinta de Holit.

Naquela manhã, tinha levado consigo os seus três filhos: os quatro foram raptados por terroristas do Hamas enquanto ordenhavam vacas. Não são os únicos beduínos raptados: segundo as autoridades beduínas, há talvez mais sete, todos trabalhadores dos kibutzim dos arredores de Gaza.

Teme-se pelo destino de Youssef, que sofre de uma forma grave de diabetes e necessita de administração constante de insulina. Mas há ainda mais preocupação com Aisha, porque nestas horas a libertação dos reféns deu prioridade, entre outros, a meninas e moças jovens, mas Aisha não foi incluída.

O receio é que o Hamas esteja a tentar esconder da opinião pública palestiniana que também é responsável pelo rapto de muçulmanos, ou pior ainda, que considera toda a família como “colaboracionista”, simplesmente porque trabalha numa quinta israelita. Ainda hoje, para muitos dos reféns, não há a certeza da detenção nos túneis do Hamas, mas no caso de Aisha e da sua família, a hipótese prevalecente é que a falta de informação se deve ao embaraço do Hamas em admitir o rapto de muçulmanos. Há cerca de 220.000 beduínos a viver em Israel, a maioria na zona desértica do Negev, mas também no norte, entre a Galileia e o vale de Jezreel, e pequenas comunidades também na Judeia, ao longo da estrada que liga Jerusalém a Jericó. A maior parte deles tem cidadania israelita, embora nos últimos anos as relações com Israel se tenham tornado mais conflituosas devido ao plano do governo de deslocalizar muitas comunidades que sempre viveram no deserto para novos povoamentos semiurbanizados. O caso da jovem Aisha foi também objeto de uma mensagem de preocupação em x do embaixador de Israel no Azerbaijão, George Deek, o único diplomata israelita de religião cristã.

O embaixador Deek, contactado por «L’Osservatore Romano», afirmou: «É evidente que Aisha, ao contrário de outras meninas e moças jovens, não é libertada pelo Hamas porque este tem vergonha de admitir que também raptou muçulmanos. O seu caso deve permanecer no centro das atenções pois mostra como o desprezo pelas vidas humanas é superior à solidariedade religiosa no Hamas. Decidi publicar este apelo a favor de Aisha para que chegue aos ouvidos do Hamas, mas também seja ouvido em Israel e por toda a comunidade internacional. Queremos que Aisha regresse imediatamente a casa, como todos os seus coetâneos».

Isto também é Israel: um diplomata israelita cristão que defende uma adolescente muçulmana raptada por fundamentalistas muçulmanos.

de Jerusalém
Roberto Cetera