· Cidade do Vaticano ·

O arcebispo Paglia num congresso por ocasião do Dia internacional pela eliminação da violência contra as mulheres

Pensar numa “escola” de sentimentos que ensine a aceitar o valor dos limites

 Pensar numa “escola” de sentimentos  que ensine a aceitar o valor dos limites   POR-048
30 novembro 2023

Numa sociedade neurótica, «obcecada pela fúria do caos e da desordem», em que as pessoas são cada vez mais incapazes de parar e olhar para dentro do próprio coração, é urgente «uma educação profunda dos sentimentos, das emoções e da capacidade de os gerir, de os satisfazer ou de os conter». Esta é a firme convicção do arcebispo Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia academia para a vida (Pav), que interveio no congresso “Um direito negado”, realizado na tarde de 24 de novembro na Câmara dos deputados italianos e promovida pelo Rotary Club de Roma Urbe Eterna, por ocasião do Dia internacional pela eliminação da violência contra as mulheres.

É um mundo perigoso que vive «o eclipse do sentido dos limites», alertou o prelado. Por isso é necessário «pensar numa “escola” de sentimentos» que ensine «a aceitar o valor dos limites nas relações humanas». Em última análise, é preciso «voltar a dar dignidade à palavra e à arte do confronto, do diálogo e da conversação», observou o arcebispo, estigmatizando as atitudes generalizadas em que prevalecem «o desabafo e o julgamento impiedoso, o pelourinho público, a calúnia, a blasfémia, a ofensa gratuita e o insulto». Nada poderia estar mais longe da verdadeira essência da palavra, realçou. Com efeito, «pode ser um instrumento precioso para construir uma ponte com o outro. Não é por acaso que o cristianismo se alicerça na Palavra, no Logos: Deus é Palavra que se oferece, se propõe, não força, convida, não obriga».

Portanto, a intervenção formativa deve ser implementada, ensinando os jovens «a olhar para além dos músculos dos seus braços, para a maior expansão do seu esqueleto, para a maior força física de que são dotados»; a lidar com as fraquezas e fragilidades, quando se sentem superados «afetiva e socialmente pelas mulheres», sem reagir com raiva e ódio. É aqui, reiterou o arcebispo, que se abrem “pradarias” de labuta e de compromisso educativo para a sociedade, as famílias, as escolas e a Igreja: a verdadeira força está no serviço, que se alimenta da «arte do cuidado»; e «o antídoto mais eficaz contra a violência é acompanhá-la até ao seu exato oposto». É aqui que se lançam as bases para «concretizar uma passagem fundamental da nossa época, que aliás é um enorme progresso, fruto de batalhas pacientes: a conquista da igual dignidade para as mulheres nos mais diversos âmbitos da sociedade civil, das instituições e da cultura», acrescentou.

Trata-se de um compromisso que requer a cooperação de todos e no qual a família desempenha um papel fundamental. Ser pai, insistiu D. Vincenzo Paglia, é mais do que simplesmente gerar filhos. É «colocar-se ao serviço deles, inserindo-os no mundo, na Igreja. É tornar-se apoio firme e fiel da própria família e esposa, que não será apenas uma companheira, mas uma mulher que se realiza ainda mais como mulher graças ao marido».