· Cidade do Vaticano ·

Entrevista ao cardeal Pierbattista Pizzaballa

A libertação dos reféns é um primeiro passo para pôr fim ao conflito

Family members hug released Palestinian prisoner Fatima Amarneh as they welcome her, amid a ...
30 novembro 2023

Alibertação de alguns reféns é um primeiro passo para o fim do atual conflito entre Israel e o Hamas. Foi o que afirmou o patriarca de Jerusalém dos Latinos, cardeal Pierbattista Pizzaballa, contactado telefonicamente pelos meios de comunicação do Vaticano.

Como comenta as notícias das últimas horas?

Ter chegado a um acordo sobre a libertação de pelo menos uma parte dos reféns é positivo, porque até agora o único canal de comunicação era militar. É um primeiro passo para aliviar a tensão interna e internacional. É também uma forma de começar a dar início a outras soluções que não sejam militares: refiro-me a soluções para pôr fim ao conflito.

As reações à notícia da libertação dos reféns foram diversas, certamente de satisfação. Mas também houve alguns comentadores que consideraram que, na realidade, a negociação em si é, de certa forma, uma derrota...

Aqueles que — chamemos-lhes “falcões” — querem identificar a paz com a vitória, podem talvez pensar assim. Mas a paz, a resolução do conflito, não pode ser uma vitória absoluta. Não existe! Por isso, é claro que a solução não pode ser deixada apenas aos militares. Certamente, a política deve retomar a situação nas suas próprias mãos e, sobretudo, dar perspetivas, porque os militares não as têm. É evidente, portanto, que as negociações, a libertação dos reféns, são os primeiros passos para, depois desta guerra, abrir caminhos de perspetivas políticas para Gaza. Isto é necessário.

Temos notícias de que as pessoas deslocadas na parte norte de Gaza procuram regressar àquilo que, imagino, na maioria dos casos são casas destruídas. O que significa?

Do que pude entender, ainda não existe essa possibilidade. Algumas pessoas querem regressar porque a situação, até no sul de Gaza, onde estão amontoados milhões de pessoas, não é fácil. Por isso, querem sair dali, compreendo-o muito bem. Mesmo os nossos cristãos, que estão fechados no espaço daquela pequena igreja, dificilmente conseguem sair. Mas enquanto não houver uma perspetiva política clara ou clareza sobre os próximos passos, isso ainda não é possível e pode até ser perigoso.

Como pode ser derrotado o terrorismo? Como se pode derrotar uma ideologia como a do Hamas?

Não é simples. Há que eliminar, pouco a pouco, com paciência — os tempos são longos — tudo o que alimenta essa ideologia. Por isso, há que eliminar as raízes. É inútil cortar os ramos, porque eles podem voltar a crescer. Antes de mais, é preciso dar uma perspetiva aos palestinianos. Já disse isto e sei que muitos não gostaram: uma perspetiva nacional que ainda não têm. Esta guerra é um testemunho muito claro de que os dois povos não podem viver juntos, pelo menos neste momento. Têm de ter uma perspetiva clara, definida, precisa, que até agora não têm. Depois, há outro aspeto. O Hamas é também uma ideologia religiosa; por conseguinte, o diálogo inter-religioso é muito importante, tal como é muito importante alimentar, fazer crescer, um discurso religioso que não esteja centrado no ódio.

O que podemos fazer como cristãos, mas em geral como pessoas que, embora vivendo longe desses lugares, os sentem próximos, porque são os lugares da vida, da existência terrena de Jesus? O que podemos fazer também a nível da opinião pública?

Antes de mais, há a oração pelos crentes, que é a primeira coisa a fazer. Depois, há também a necessidade de um apoio efetivo, incluindo o apoio humanitário. Outro aspeto importante: constatei que existem fortes divisões no mundo, uns contra os outros. Quase parece que é impossível amar ambos. Penso que é importante, como cristãos, sermos claros também no nosso discurso, mas não exclusivos. Chamar as coisas pelo seu nome, na sua verdade, e ao mesmo tempo procurar manter relações abertas com todos e dizer a todos, a ambos, que os amamos.

Andrea Tornielli