· Cidade do Vaticano ·

Encontro com o camaronês que perdeu a esposa e a filha no deserto

O Pontífice abraça a dor dos migrantes

 O Pontífice abraça a dor dos migrantes  POR-047
23 novembro 2023

Nas mãos, a fotografia de uma família feliz: dois jovens pais e uma menina de apenas seis anos, em cujo rosto o Papa Francisco deixa correr ternamente os dedos, quase como se o quisesse acariciar. Porque aquela menina e a sua mãe já não vivem: vítimas do drama das migrações, morreram em julho passado no deserto entre a Líbia e a Tunísia.

Quem apresenta esta imagem de cores garridas, ainda não desbotadas pelo tempo, é único sobrevivente dos três: chama-se Mbengue Nyimbilo Crepin, mas todos o conhecem por Pato, tem 30 anos, vem dos Camarões e, numa viagem da esperança rumo a um futuro melhor, perdeu a esposa Matyla, da mesma idade, e a filha Marie, depois de terem sido detidos pelas autoridades tunisinas e levados de volta para o deserto, onde as duas morreram de calor, fome e sede.

O Papa encontrou-se com Pato a 17 de novembro, na Casa Santa Marta. Acompanhava-o o padre Mattia Ferrari, sacerdote de Modena e capelão de Mediterranea Saving Humans, que participou em muitas missões de resgate da Associação italiana de promoção social (Aps). Com eles, o cardeal jesuíta Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, e alguns migrantes e colaboradores de organizações e realidades ativas no acolhimento e na integração dos refugiados, que contribuíram de várias maneiras para facilitar a chegada do jovem camaronês, que vestia uma t-shirt azul com o emblema de Mediterranea.

No final do encontro, o Pontífice agradeceu o empenho dos presentes e recordou-lhes o privilégio de terem nascido em lugares onde se pode estudar e trabalhar: «O privilégio é uma dívida», disse, «o que fazeis não é um suplemento, é um dever». Depois, antes de se despedir, rezou por todos, pedindo ao Senhor que vele sobre quantos «trabalham pelo próximo», sobre as pessoas que não conseguiram participar no encontro, sobre aqueles que vivem em campos de detenção e sobre as «numerosas pessoas que sofrem».