· Cidade do Vaticano ·

O Papa Francisco e a coragem de ser pacificadores

Procurando uma brecha através das nuvens

16 novembro 2023

«Quando chegámos a Aquila não podíamos aterrar: nevoeiro espesso, tudo escuro, não se podia. O piloto do helicóptero girava, girava, girava... No final, viu um pequeno buraco e entrou nele: conseguiu». Muitos recordam estas palavras que o Papa Francisco pronunciou na homilia improvisada em Aquila, a 28 de agosto de 2022, por ocasião do Perdão Celestiniano. Uma experiência que o Pontífice ligou ao tema da nossa miséria, que é precisamente como um nevoeiro espesso, e da misericórdia do Senhor que abre uma brecha onde parece haver apenas escuridão.

De certa forma, esta atitude obstinada e confiante do piloto descrita pelo Papa é também a marca dos pacificadores e do seu modo de atuar. Também eles sabem encontrar uma fresta, por mais estreita que seja, nas nuvens sombrias da guerra. É preciso coragem para ser pacificador. Thomas Merton observou que «a paz exige o empenhamento mais heroico e o sacrifício mais difícil. Exige maior heroísmo do que a guerra». Claro que isto não significa que os pacificadores sejam imunes ao que se passa à sua volta, ao sofrimento que experimentam todos os dias. A tempestade que se abate sobre eles assusta-os, no entanto não os paralisa.

É preciso coragem e criatividade, como nos recorda sempre o Papa Francisco. Para ser pacificadores e construtores de um mundo melhor é preciso visão, capacidade criativa para abrir novos caminhos. «Há quem olhe para as coisas como elas são e se pergunte porquê — disse Robert F. Kennedy num famoso discurso tantas vezes citado, mas talvez não tão bem compreendido. Sonho com coisas que nunca aconteceram e pergunto-me por que não?».

Nestes anos terríveis, caraterizados por uma escalada que marca cada vez mais o perfil lúgubre da “terceira guerra mundial em pedaços”, o Papa nunca se cansa de indicar essa passagem no meio do nevoeiro espesso. Indica-a com coragem e confiança, convidando cada um de nós a procurá-la. Encoraja-nos a não ficar parados, a não olhar para as nuvens do desespero, mas — como o piloto no céu sobre Aquila — a “girar, girar, girar”, a mover-nos em busca de uma brecha por onde a luz possa passar. A luz da paz.

O Papa apela aos dirigentes do mundo, certamente, àqueles que podem determinar o curso dos acontecimentos. No entanto, a sua exortação dirige-se a cada um de nós, onde quer que nos encontremos no caminho da nossa vida. Todos nós estamos chamados a ser agentes de paz e de reconciliação. Como já sublinhava Madre Teresa de Calcutá quando, interrogada sobre o que poderia fazer para promover a paz no mundo, respondeu de forma desarmante: «Vai para casa e ama a tua família».

Na sua busca dessa brecha de esperança no meio da escuridão, os pacificadores também têm em conta que, por vezes, não serão compreendidos. No entanto, não deixam de lutar pelo bem do outro. Não diminuem os esforços para salvar vidas, mesmo a de uma só pessoa. Pois sabem que quem salva uma vida, salva o mundo inteiro. E salva também o mundo que há de vir.

Alessandro Gisotti