«O Evangelho é um sorriso, faz sorrir porque toca a alma com a Boa Nova»: eis a imagem evocativa sugerida pelo Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira, 15 de novembro, na praça de São Pedro. Com efeito, dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico, o Pontífice decidiu resumir o seu conteúdo «em quatro pontos, inspirados na exortação apostólica “Evangelii gaudium”, que este mês celebra o décimo aniversário». E o primeiro ponto não podia deixar de «dizer respeito à atitude de que depende a substância do gesto evangelizador», ou seja, a alegria.
Caríssimos irmãos e irmãs
bom dia!
Depois de ter encontrado várias testemunhas do anúncio do Evangelho, proponho-me resumir este ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico em quatro pontos, inspirados na Exortação apostólica Evangelii gaudium, que este mês completa dez anos. O primeiro ponto que hoje analisamos, o primeiro dos quatro, não pode deixar de se referir à atitude de que depende a substância do gesto evangelizador: a alegria. Como ouvimos nas palavras que o anjo dirigiu aos pastores, a mensagem cristã é o anúncio de «uma grande alegria» (Lc 2, 10). E a razão? Uma boa notícia, uma surpresa, um acontecimento agradável? Muito mais, uma Pessoa: Jesus! Jesus é a alegria! Ele é o Deus que se fez homem e que veio ao nosso encontro! Portanto, estimados irmãos e irmãs, a questão não é se o anunciar, mas como o anunciar, e este “como” é a alegria. Ou anunciamos Jesus com alegria, ou não o anunciamos, porque outra maneira de o anunciar não é capaz de comunicar a verdadeira realidade de Jesus.
Eis porque o cristão descontente, o cristão triste, o cristão insatisfeito ou, pior ainda, ressentido e rancoroso não é credível. Falará de Jesus, mas ninguém acreditará nele! Uma pessoa disse-me certa vez, falando destes cristãos: “Mas são cristãos com cara de bacalhau!”, ou seja, não exprimem nada, são assim, e a alegria é essencial. É essencial vigiar sobre os nossos sentimentos. A evangelização atua a gratuidade, porque vem da plenitude, não da pressão. E quando se pratica a evangelização — quer-se fazê-la, mas não assim — com base em ideologias, isso não é evangelizar, isso não é o Evangelho. O Evangelho não é uma ideologia: o Evangelho é um anúncio, um anúncio de alegria. As ideologias são frias, todas. O Evangelho tem o calor da alegria. As ideologias não sabem sorrir, o Evangelho é um sorriso, faz-nos sorrir porque toca a nossa alma com a Boa Nova.
O nascimento de Jesus, tanto na história como na vida, é o princípio da alegria: pensemos no que aconteceu aos discípulos de Emaús, era tanta a alegria que não podiam acreditar, e aos outros, depois, aos discípulos todos juntos, quando Jesus vai ao Cenáculo, era tanta a alegria que não podiam acreditar (cf. Lc 24, 13-35). A alegria de ter Jesus ressuscitado. O encontro com Jesus traz-nos sempre alegria, e se isto não nos acontece, não é um verdadeiro encontro com Jesus.
E aquilo que Jesus faz com os discípulos diz-nos que os primeiros que devem ser evangelizados são os discípulos, os primeiros que devem ser evangelizados somos nós, cristãos: somos nós. E isto é muito importante!
Com efeito, imersos no clima frenético e confuso de hoje, também nós poderíamos encontrar-nos a viver a fé com um leve sentido de renúncia, persuadidos de que para o Evangelho já não há escuta e que não vale mais a pena esforçar-se para o anunciar. Poderíamos até ser tentados pela ideia de deixar que “os outros” sigam o próprio caminho. Pelo contrário, precisamente este é o momento de voltar ao Evangelho para descobrir que Cristo «é sempre jovem e fonte constante de novidades» (Evangelii gaudium, 11).
Assim, como os dois de Emaús, volta-se à vida de todos os dias com o ímpeto de quem encontrou um tesouro: aqueles dois eram jubilosos, porque tinham encontrado Jesus, e isto mudou a vida deles. E descobre-se que a humanidade está repleta de irmãos e irmãs que aguardam uma palavra de esperança. O Evangelho é esperado até hoje: o homem de hoje é como o homem de todos os tempos, precisa dele, inclusive a civilização da incredulidade programada e da secularidade institucionalizada; aliás, sobretudo a sociedade que deixa vazios os espaços do sentido religioso, precisa de Jesus. Este é o momento favorável para o anúncio de Jesus. Por isso, gostaria de dizer novamente a todos: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, a alegria nasce e renasce sem cessar» (ibid., 1). Não nos esqueçamos disto. E se algum de nós não sentir esta alegria, que se pergunte se encontrou Jesus. Uma alegria interior! O Evangelho vai pelo caminho da alegria, sempre, é o grande anúncio. Convido cada cristão, em qualquer lugar e situação em que esteja, a renovar hoje o seu encontro com Jesus Cristo. Que cada um de nós, hoje, dedique um pouco de tempo para pensar: “Jesus, Tu estás dentro de mim: quero encontrar-te todos os dias. Tu és uma Pessoa, não uma ideia. Tu és um companheiro de caminho, não um programa. Tu és o Amor que resolve tantos problemas. Tu és o início da evangelização. Tu, Jesus, és a fonte da alegria”. Amém!
«Todos os dias, alguém dedique algum tempo a rezar pela paz», pediu o Papa — com o pensamento ainda voltado para o sofrimento das populações na Ucrânia, na Terra Santa, no Sudão e «onde quer que haja guerra» — saudando no final da catequese os fiéis de várias nacionalidades presentes na praça de São Pedro. A seguir, a saudação em português.
Saúdo cordialmente os fiéis de língua portuguesa, de modo especial os parlamentares vindos de Portugal e os grupos de Guarulhos e Recife. Lembremo-nos que um cristão triste é um triste cristão; por isso, procuremos sempre ser alegres no testemunho do Evangelho. Deus vos abençoe!