· Cidade do Vaticano ·

Cessem as armas e não se alargue o conflito no Médio Oriente

 Cessem as armas e não se alargue  o conflito no Médio Oriente  POR-046
16 novembro 2023

Sudão, Israel, Palestina e Ucrânia: onde quer que haja conflitos e violências, o Papa está próximo do sofrimento das populações vítimas, assegurou novamente o Santo Padre no Angelus de 12 de novembro, acrescentando o país africano «em plena guerra civil» às suas preocupações com o Médio Oriente e a Europa oriental. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, antes de recitar a oração mariana com os vinte mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, o Pontífice comentou o Evangelho de domingo, centrado na célebre parábola das dez virgens.

Amados irmãos e irmãs
bom domingo!

O Evangelho de hoje oferece-nos uma história que diz respeito ao sentido da vida de cada pessoa. É a parábola das dez virgens, chamadas a sair ao encontro do esposo (cf. Mt 25, 1-13). Viver é isto: uma grande preparação para o dia em que seremos chamados a sair ao encontro de Jesus! Na parábola, porém, dessas dez virgens, cinco são sábias e cinco insensatas. Vejamos em que consistem a sabedoria e a insensatez. A sabedoria da vida e a insensatez da vida.

Todas aquelas damas de honra estão ali para acolher o esposo, isto é, querem encontrá-lo, tal como nós também desejamos uma realização feliz da vida: a diferença entre a sabedoria e a insensatez não reside, portanto, na boa vontade. Nem na pontualidade com que se chega ao encontro: todas estavam lá. A diferença entre as sábias e as insensatas é outra: a preparação. O texto diz: as sábias «juntamente com as suas lâmpadas, levaram também o azeite» (v. 4); as insensatas não o fizeram. Eis a diferença: o óleo. E qual é uma das caraterísticas do óleo? O facto de não se ver: está dentro das lâmpadas, não dá nas vistas, mas sem ele as lâmpadas não dão luz.

Olhemos para nós próprios e vejamos que a nossa vida corre o mesmo risco: muitas vezes estamos muito atentos às aparências, o importante é cuidar bem da nossa imagem, causar uma boa impressão perante os outros. Mas Jesus diz que a sabedoria da vida está noutro lado: no cuidado com o que não se vê, mas, mais importante, no cuidado com o coração. O cuidado da vida interior. Trata-se de saber parar e escutar o coração, de vigiar sobre os pensamentos e os sentimentos. Quantas vezes não sabemos o que se passa dentro do nosso coração nesse dia. O que se passa dentro de cada um de nós? A sabedoria é saber dar espaço ao silêncio, é saber ouvir-nos a nós próprios e aos outros. É saber renunciar ao tempo passado diante do ecrã do telemóvel para fitar a luz nos olhos dos outros, no nosso próprio coração, no olhar de Deus sobre nós. Significa não nos deixarmos aprisionar pelo ativismo, mas dedicar tempo ao Senhor, à escuta da sua Palavra.

E o Evangelho dá-nos o conselho certo para não negligenciarmos o óleo da vida interior, “o óleo da alma”: diz-nos que é importante prepará-lo. De facto, na narração vemos que as virgens já têm as lâmpadas, mas devem preparar o óleo: devem ir aos negociantes, comprá-lo, colocá-lo nas lâmpadas... (cf. vv. 7.9). Assim é para nós: a vida interior não pode ser improvisada, não é questão de um momento, de uma vez por outra, de uma vez por todas; deve ser preparada dedicando um pouco de tempo todos os dias, com constância, como se faz para todas as coisas importantes.

Então podemos perguntar-nos: o que estou a preparar neste momento da vida? Dentro de mim, o que estou a preparar? Talvez esteja a tentar poupar, esteja a pensar numa casa ou num carro novo, em projetos concretos... São coisas boas, não são más. Mas será que estou também a pensar em dedicar tempo ao cuidado do coração, à oração, ao serviço dos outros, ao Senhor que é o objetivo da vida? Em suma, como está o óleo da minha alma? Perguntemo-nos, cada um de nós: como está o óleo da minha alma? Alimento-o, conservo-o bem?

Que Nossa Senhora nos ajude a conservar o óleo da vida interior.

Depois do Angelus, o Papa saudou, como habitualmente, os vários grupos presentes, fazendo um apelo à paz no Sudão, Palestina, Israel e Ucrânia, e recordando o aniversário da Plataforma de Ação Laudato Si’ e a Conferência de Dubai sobre as mudanças climáticas, Cop28, já próxima.

Queridos irmãos e irmãs!

Desde há vários meses, o Sudão está mergulhado numa guerra civil que não dá sinais de abrandar e que está a causar numerosas vítimas, milhões de deslocados internos e refugiados nos países vizinhos, e uma gravíssima situação humanitária. Estou próximo do sofrimento das queridas populações do Sudão e lanço um apelo sincero aos dirigentes locais para que facilitem o acesso da ajuda humanitária e, com o contributo da Comunidade internacional, trabalhem para encontrar soluções pacíficas. Não esqueçamos estes nossos irmãos que estão na provação!

E o nosso pensamento vai diariamente para a gravíssima situação em Israel e na Palestina. Estou próximo de todos aqueles que sofrem, palestinianos e israelitas. Abraço-os neste momento sombrio. E rezo muito por eles. Que cessem as armas, que nunca trarão a paz, e que o conflito não se alargue! Basta! Basta, irmãos, basta! Em Gaza, que os feridos sejam imediatamente socorridos, que os civis sejam protegidos, que cheguem mais ajudas humanitárias àquela população exausta. Libertem os reféns, entre os quais se encontram muitos idosos e crianças. Cada ser humano, seja ele cristão, judeu, muçulmano, de qualquer povo ou religião, cada ser humano é sagrado, é precioso aos olhos de Deus e tem o direito de viver em paz. Não percamos a esperança: rezemos e trabalhemos incansavelmente para que o sentido de humanidade prevaleça sobre a dureza dos corações.

Há dois anos, foi lançada a Plataforma de Ação Laudato Si’. Agradeço a todos os que aderiram a esta iniciativa e encorajo-os a prosseguir no caminho da conversão ecológica. A este propósito, rezemos pela Conferência de Dubai sobre as alterações climáticas, Cop28, já próxima.

Hoje, a Igreja italiana celebra o Dia de Ação de Graças, com o tema «O estilo cooperativo para o desenvolvimento da agricultura».

Saúdo com afeto todos vós, peregrinos de Itália e de outras partes do mundo, especialmente os sacerdotes da Arquidiocese de Szczecin-Kamień (Polónia) e os grupos paroquiais de Augsburg, Zara, Poreč, Pola, Porto e Paris. Saúdo os membros da Comunidade de Santo Egídio provenientes de alguns países asiáticos e encorajo-os no seu compromisso de evangelização e promoção. Em frente, coragem! E vós, ajudai também a fazer a paz.

Saúdo os fiéis de Volargne, Ozieri e Cremona. Acolho com afeto a peregrinação dos fiéis ucranianos e dos monges Basilianos — vejo ali as bandeiras ucranianas — que vieram de diversos países para celebrar o quarto centenário do martírio de São Josafat. Rezo convosco pela paz no vosso país atormentado. Irmãos e irmãs, não esqueçamos a Ucrânia martirizada! Não a esqueçamos.

E desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!