· Cidade do Vaticano ·

ANGELUS — Novo apelo do Pontífice a favor do Médio Oriente

«Parai, parai!»

 «Parai, parai!»  POR-043
26 outubro 2023

E renovou o convite para o Dia de oração e jejum a 27 de outubro


«Irmãos, parai! Parai!». O Papa Francisco repetiu-o no Angelus de domingo, 22 de outubro, voltando mais uma vez com «o pensamento ao que acontece em Israel e na Palestina». Ao meio-dia, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, antes de recitar a oração mariana com os vinte mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, no dia da memória litúrgica de São João Paulo ii , o Pontífice comentou o Evangelho dominical, centrado no trecho de Mateus 22, 17. A seguir, a meditação do Santo Padre.

Amados irmãos e irmãs
bom dia!

O Evangelho da liturgia de hoje diz-nos que alguns fariseus se unem aos herodianos para armar uma cilada a Jesus. Estavam sempre a procurar fazer-lhe armadilhas. Aproximam-se d’Ele e perguntam-lhe: «É lícito ou não pagar o tributo a César?» (Mt 22, 17). É um engano: se Jesus legitima o imposto, coloca-se do lado de um poder político mal tolerado pelo povo, enquanto que, se diz para não o pagar, pode ser acusado de rebelião contra o império. Uma verdadeira armadilha. Mas ele escapa a esta cilada. Pede-lhes que lhe mostrem uma moeda, que tem a imagem de César, e diz: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (v. 21). O que significa isto?

Estas palavras de Jesus tornaram-se de uso corrente, mas por vezes foram mal utilizadas — ou pelo menos redutoras — para falar da relação entre a Igreja e o Estado, entre os cristãos e a política; muitas vezes são entendidas como se Jesus quisesse separar “César” e “Deus”, isto é, a realidade terrena e a realidade espiritual. Às vezes também pensamos assim: a fé com as suas práticas é uma coisa e a vida quotidiana é outra. E isso é errado. É uma “esquizofrenia”, como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política, etc.

Na realidade, Jesus quer ajudar-nos a colocar “César” e “Deus” cada um no seu devido lugar. A César — isto é, à política, às instituições civis, aos processos sociais e económicos — pertence o cuidado da ordem terrena; e nós, que estamos imersos nesta realidade, devemos devolver à sociedade o que ela nos oferece através do nosso contributo como cidadãos responsáveis, cuidando do que nos é confiado, promovendo o direito e a justiça no mundo do trabalho, pagando honestamente os impostos, empenhando-nos no bem comum, etc. Ao mesmo tempo, porém, Jesus afirma a realidade fundamental: que o homem pertence a Deus, o homem todo e todo o ser humano. E isto significa que não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum “César” de turno. Pertencemos ao Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. Na moeda, portanto, está a imagem do imperador, mas Jesus lembra-nos que na nossa vida está gravada a imagem de Deus, que nada nem ninguém pode ofuscar. A César pertencem as coisas deste mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não nos esqueçamos disso!

Compreendamos, então, que Jesus está a restituir cada um de nós à própria identidade: na moeda deste mundo está a imagem de César, mas tu — eu, cada um de nós — que imagem trazes dentro de ti? Façamos esta pergunta a nós próprios: eu, que imagem trago dentro de mim? Tu, que imagem trazes na tua vida? Lembramo-nos de que pertencemos ao Senhor, ou deixamo-nos moldar pela lógica do mundo e fazemos do trabalho, da política, do dinheiro os nossos ídolos a adorar?

Que a Virgem Santíssima nos ajude a reconhecer e a honrar a nossa dignidade e a de cada ser humano.

No final do Angelus, o Papa dirigiu um apelo a favor do fim das guerras, renovando o convite para a próxima sexta-feira, 27 de outubro, para um «Dia de jejum, oração e penitência», com uma hora de prece vespertina, às 18h00, em São Pedro, «a fim de implorar a paz no mundo». Recordou depois o Dia mundial das missões e saudou os grupos presentes.

Queridos irmãos e irmãs!

Mais uma vez o meu pensamento se volta para o que está a acontecer em Israel e na Palestina. Estou muito preocupado, aflito, rezo e estou próximo de todos aqueles que sofrem, os reféns, os feridos, as vítimas e as suas famílias. Penso na grave situação humanitária em Gaza e entristece-me que o hospital anglicano e a paróquia greco-ortodoxa também tenham sido atingidos nos últimos dias. Renovo o meu apelo para que os espaços sejam abertos, para que a ajuda humanitária continue a chegar e para que os reféns sejam libertados.

A guerra, todas as guerras no mundo — penso também na atormentada Ucrânia — são uma derrota. A guerra é sempre uma derrota, é uma destruição da fraternidade humana. Irmãos, parai! Parai!

Recordo que para sexta-feira próxima, 27 de outubro, proclamei um dia de jejum, oração e penitência, e que nessa noite, às 18 horas, em São Pedro, teremos uma hora de oração para implorar a paz no mundo.

Hoje celebramos o Dia Mundial das Missões, com o tema “Coração ardente, pés a caminho”. Duas imagens que dizem tudo! Exorto todos, nas dioceses e paróquias, a participar ativamente.

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos, especialmente as Irmãs Siervas de las Pobres hijas del sagrado Corazón de Jesús, de Granada; os membros do Centro Académico Romano Fundación; a Confraria do Señor de los Milagros, dos peruanos em Roma: e obrigado, obrigado pelo vosso testemunho! Continuai assim, com esta piedade tão boa.

Saúdo os membros do Movimento dos Leigos Missionários “Todos guardiães da humanidade”, o coro polifónico “S. Antonio Abate” de Cordenons e as associações de fiéis de Nápoles e Casagiove.

Saúdo também os jovens da “Casa Giardino” de Casalmaggiore, o grupo de jovens amigos da Comunidade Emmanuele, os diretores e professores da Escola Católica “Jean xxiii ” de Toulon, os alunos do Liceu “St. Croix” de Neuilly.

Desejo a todos bom domingo. Também a vós, jovens da Imaculada. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!