· Cidade do Vaticano ·

Entrevista ao patriarca ortodoxo de Jerusalém Teófilo III

«O meu coração está amargurado pelos irmãos que sofrem»

 Entrevista ao patriarca ortodoxo de Jerusalém Teófilo  iii  POR-043
26 outubro 2023

Teve lugar na manhã de 22 de outubro, no “Catholicos” da basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, o funeral dos 18 cristãos assassinados no bombardeamento da igreja ortodoxa de São Porfírio, em Gaza. Na celebração, presidida pelo patriarca ortodoxo Teófilo iii , participaram também o núncio apostólico, D. Adolfo Tito Yllana, e o guardião da Terra Santa, padre Francesco Patton. No final do rito fúnebre, Teófilo respondeu a algumas perguntas de «L’Osservatore Romano».

Beatitude, qual é a situação dos cristãos que sobreviveram à terrível tragédia da bomba lançada sobre a vossa igreja em Gaza?

A trágica explosão da bomba sobre a nossa igreja de Gaza teve um profundo impacto na comunidade cristã local e do resto da Terra Santa. Os sobreviventes deste terrível explosão são resilientes e cheios do espírito de Cristo. Demonstraram fé após esta terrível provação. Unimo-nos como comunidade para ajudar uns aos outros, rezando pela cura e pela força, diante da adversidade. Como fiéis cristãos, somos chamados a ser construtores de paz e a procurar a justiça. A nossa resposta a este crime de guerra deve ser farol de esperança, mostrando o poder transformador da fé e a capacidade que o espírito humano tem de se elevar acima das trevas da guerra.

Quais são as iniciativas para os proteger e apoiar?

Neste momento difícil, temos o dever sagrado de estender a mão para apoiar e proteger aos nossos irmãos cristãos e quantos foram atingidos pela tragédia em Gaza. A comunidade cristã, através dos patriarcas e dos líderes da Igreja em Jerusalém, trabalha incansavelmente para oferecer ajuda humanitária e alívio aos que mais sofreram. As nossas organizações caritativas trabalham com parceiros locais para garantir que as necessidades essenciais, como alimentos, abrigo e cuidados de saúde, sejam satisfeitas da melhor forma possível, considerando a decisão de Israel de cortar o abastecimento de água, eletricidade, alimentos e remédios desde 7 de outubro. Através da oração, do apoio e da ajuda concreta, estamos determinados na nossa missão de proteger e ajudar as pessoas atingidas por esta tragédia, seguindo os ensinamentos de Cristo, que nos chamou a ser instrumentos de paz e agentes de cura num mundo carente de amor e compaixão.

Que sentimento prevalece entre o vosso povo em toda a Palestina e em Israel?

O sentimento entre as nossas comunidades cristãs é de esperança, resiliência e profundo compromisso na fé. Embora a região enfrente circunstâncias complexas e difíceis, os nossos irmãos e irmãs cristãos permanecem firmes na determinação de viver os ensinamentos de Cristo. Nesta terra diversa e muitas vezes conflituosa, continuamos a promover a paz e a coexistência. Participamos ativamente em diálogos interconfessionais e compromissos proativos, esforçando-nos por construir pontes entre povos de diferentes contextos e crenças. As nossas comunidades são testemunhas vivas da mensagem de amor, perdão e reconciliação, que está no cerne do Cristianismo. Ao mesmo tempo, não podemos negar as dificuldades e adversidades enfrentadas por muitos na região, especialmente por quem vive sob os horrores dos ataques aéreos e dos bombardeamentos de artilharia em Gaza. Essencialmente, a nossa mensagem é de fé inabalável, de compromisso a favor da paz e de convicção de que, como cristãos, somos chamados a ser construtores da paz nesta terra, encarnando a esperança de um futuro mais luminoso e harmonioso para todos os seus habitantes. Continuemos a rezar e a trabalhar pela paz, pela justiça e pelo bem-estar de todas as almas desta região sagrada e atormentada.

Podemos imaginar a sua dor e sofrimento pessoais, assim como a difícil situação em que se encontra neste momento. Quais são os seus sentimentos nesta hora trágica?

Como patriarca de Jerusalém, e com os outros chefes das Igrejas locais, carrego o peso da responsabilidade pelo bem-estar espiritual e pela serenidade das nossas comunidades cristãs nesta região, e também pela salvaguarda das peregrinações à Terra Santa em nome dos cristãos do mundo inteiro. Trata-se de uma posição que muitas vezes exige desafios enormes e decisões difíceis, especialmente em tempos de desordens e conflitos. Os nossos sentimentos pessoais em tais momentos radicam-se nos ensinamentos de Cristo, que nos levam a manter a fé, a esperança e a caridade. Com efeito, sinto profunda empatia pelo sofrimento do nosso povo, e o meu coração amargura-se por quantos padecem adversidades nesta Terra. Sinto também a profunda responsabilidade de guiar com o exemplo, mostrando a todos a mensagem cristã de compaixão, perdão e reconciliação. Perante os desafios e as dificuldades pessoais, lembro-me das palavras de São Paulo: «Tudo posso n’Aquele que me revigora» (Fl 4, 13). É com esta força e o apoio da nossa comunidade de fé que desempenho o meu complexo papel em busca da justiça, da paz e do bem-estar para todos os filhos de Deus nesta Terra Santa.

Roberto Cetera