· Cidade do Vaticano ·

Um ato desumano

EDITORS NOTE: Graphic content / A man reacts by one of the wrapped bodies of victims who died in an ...
19 outubro 2023

Omassacre de civis que teve lugar em Gaza na noite de 17 de outubro, atingindo o hospital anglicano al-Ahli Arabi e causando centenas de vítimas civis, incluindo muitas mulheres e crianças, é um ato desumano. Um ato que não é de modo algum justificável. Nos últimos dias, o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, entrevistado pelos meios de comunicação social do Vaticano, definiu desumano o ataque terrorista contra Israel de 7 de outubro e o massacre de civis, mulheres e crianças. O purpurado reiterou também o direito dos israelitas a defender-se e a lutar contra a ameaça terrorista representada pelos milicianos do Hamas, recordando ao mesmo que «a legítima defesa deve respeitar o parâmetro da proporcionalidade» e pedindo para que se evite o derramamento de sangue de civis em Gaza.

Nas últimas horas, assistimos a uma troca de acusações: as autoridades de Gaza e o Hamas atribuem a um bombardeamento israelita a destruição do hospital situado numa área da qual Israel tinha pedido que fossem evacuados os civis. Enquanto o exército israelita negou a responsabilidade, atribuindo o massacre ao mau funcionamento de um míssil lançado pela Jihad Islâmica, que por sua vez o nega.

Num momento dramático para a história da humanidade, com os “pedaços” da terceira guerra mundial de que fala o Papa Francisco, que se unem a uma velocidade inesperada, é necessário derrotar o terrorismo sem alimentar ainda mais o ódio e sem nunca esquecer o direito humanitário internacional. Enquanto esperamos saber mais sobre o ato criminoso de destruição de um hospital, onde o pessoal médico desprovido de meios e já no limite das forças tratava doentes e feridos, devemos apelar à comunidade internacional, a fim de que intervenha para evitar uma catástrofe humanitária e o eclodir de um conflito com consequências inimagináveis.

O secretário de Estado britânico para os negócios estrangeiros, James Cleverly, declarou nas últimas horas que «o Reino Unido trabalhará com os aliados para descobrir o que aconteceu» no hospital de Gaza e para «proteger os civis inocentes», reiterando que «a tutela da vida dos civis deve ser prioritária». Esperemos que outras vozes se unam à sua para exigir a verdade sobre o que se verificou.

A desumanidade do massacre terrorista perpetrado nos “kibutzim” israelitas contra vítimas inocentes e a desumanidade da matança de civis inocentes em Gaza nunca devem fazer-nos perder de vista a perspetiva de um futuro de paz e justiça para toda aquela região do Médio Oriente. Na mencionada entrevista, o cardeal Parolin afirmou: «Parece-me que a maior justiça possível na Terra Santa é a solução de dois Estados, que permitiria a palestinianos e a israelitas viver lado a lado, em paz e segurança, indo ao encontro das aspirações da maioria deles», explicando que, apesar de tudo, a Santa Sé continua a apoiar esta aspiração e este direito. E fez um apelo à libertação imediata de todos os reféns detidos pelo Hamas e ao pleno respeito do direito humanitário.

Andrea Tornielli