· Cidade do Vaticano ·

Angelus — Preocupação do Papa pela Terra Santa, a Ucrânia e o Nagorno-Karabakh

Não se derrame
mais sangue inocente

 Não se derrame  mais sangue inocente  POR-042
19 outubro 2023

«Por favor, que não se derrame mais sangue inocente, nem na Terra Santa, nem na Ucrânia, nem em lugar algum! Basta! As guerras são sempre uma derrota!». Este veemente apelo à paz foi relançado pelo Papa no Angelus de 15 de outubro, com um convite aos «crentes a fim de que se unam à Igreja na Terra Santa e dediquem» o dia 17 de outubro, «à oração e ao jejum» por esta intenção. Da janela do Palácio apostólico do Vaticano, ao meio-dia, antes da oração mariana, o Pontífice comentou o Evangelho de domingo para os vinte e dois mil fiéis presentes na praça de São Pedro e para quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, meditando sobre o episódio do rei que prepara um banquete de núpcias para o filho (Mt 22, 1-14). Eis a meditação de Francisco.

Amados irmãos e irmãs
bom dia!

O Evangelho de hoje fala-nos de um rei que prepara um banquete de núpcias para o seu filho (cf. Mt 22, 1-14). É um homem poderoso, mas é sobretudo um pai generoso, que convida a participar na sua alegria. Em particular, revela a bondade do seu coração no facto de não obrigar ninguém, mas convida todos, mesmo que este modo de agir o exponha à possibilidade de rejeição. Reparemos: ele prepara um banquete, oferecendo gratuitamente a oportunidade de se encontrar, de festejar. É isto que Deus prepara para nós: um banquete, para estarmos em comunhão com Ele e uns com os outros. E nós, todos nós, somos portanto os convidados de Deus. Mas um banquete de núpcias exige tempo e participação da nossa parte, requer um “sim”: ir, responder ao convite do Senhor, Ele convida, mas deixa-nos livres.

É este o tipo de relação que o Pai nos oferece: chama-nos a estar com Ele, deixando-nos a possibilidade de aceitar ou não. Não nos propõe uma relação de sujeição, mas de paternidade e de filiação, necessariamente condicionada pelo nosso livre consentimento. Deus é muito respeitador da liberdade, muito respeitador. Santo Agostinho usa uma expressão muito bonita a este respeito, dizendo: «Deus, que te criou sem ti, não te pode salvar sem ti» (Sermo clxix , 13). E certamente não porque não tenha capacidade para isso — Ele é omnipotente! — mas porque, sendo amor, respeita plenamente a nossa liberdade. Deus propõe-se, não se impõe, nunca.

Voltamos assim à parábola: o rei — diz o texto — «mandou os seus servos chamar os convidados para o casamento, mas eles não quiseram vir» (v. 3). Aqui está o drama da história: o “não” a Deus. Mas porque recusam os homens o seu convite? Será porventura um convite desagradável? Não, e, no entanto, — diz o Evangelho — «não se importaram e foram uns para o seu campo, outros para os seus negócios» (v. 5). Não se importaram, porque pensavam nos seus próprios assuntos. E aquele rei que é pai, Deus, o que faz? Não desiste, continua a convidar, aliás alarga o convite, até encontrar quem o aceite, entre os pobres. Entre eles, que sabem que não têm muito, vêm em grande número, até encherem a sala (cf. vv. 8-10).

Irmãos e irmãs, quantas vezes não atendemos ao convite de Deus porque estamos ocupados com os nossos assuntos! Muitas vezes lutamos para ter o nosso tempo livre, mas hoje Jesus convida-nos a encontrar o tempo que liberta: o tempo a dedicar a Deus, que alivia e cura o nosso coração, que aumenta em nós a paz, a confiança e a alegria, que nos salva do mal, da solidão e da perda de sentido. Vale a pena, porque é bom estar com o Senhor, dar-lhe. Onde? Na Missa, na escuta da Palavra, na oração e também na caridade, pois ajudando quem é fraco ou pobre, fazendo companhia a quem está só, escutando quem pede atenção, consolando quem sofre, estamos com o Senhor, presente em quem está em necessidade. Muitos, porém, pensam que estas coisas são “perda de tempo” e fecham-se no seu mundo privado; é triste. E isto gera tristeza. Quantos corações tristes! Porque estão fechados.

Perguntemo-nos, então: como respondo eu aos convites de Deus? Que espaço lhe dou nos meus dias? A qualidade da minha vida depende dos meus negócios e do meu tempo livre ou do meu amor ao Senhor e aos irmãos, especialmente aos mais necessitados?

Maria, que com um “sim” abriu espaço para Deus, nos ajuda a não sermos surdos aos seus convites.

Após a recitação do Angelus, o Papa lançou um apelo a favor da paz não só na Terra Santa, mas também na Ucrânia e no Nagorno-Karabakh, falando depois da publicação da exortação apostólica sobre Santa Teresinha de Lisieux e manifestando também a sua proximidade à comunidade judaica de Roma, na véspera do 80º aniversário da perseguição nazista. Concluindo, saudou os vários grupos presentes, entre os quais os mais de quatrocentos jovens da comunidade Novos Horizontes, comprometidos na “Missão de rua” em Roma.

Queridos irmãos e irmãs!

Continuo a seguir com muita dor o que está a acontecer em Israel e na Palestina. Penso em muitos... especialmente nas crianças e nos idosos. Renovo o apelo pela libertação dos reféns e peço vivamente que as crianças, os doentes, os idosos, as mulheres e todos os civis não sejam vítimas do conflito. O direito humanitário deve ser respeitado, especialmente em Gaza, onde é urgente e necessário garantir corredores humanitários e socorrer toda a população. Irmãos e irmãs, já morreram tantos. Por favor, que não se derrame mais sangue inocente, nem na Terra Santa, nem na Ucrânia, nem em lado nenhum! Basta! As guerras são sempre uma derrota, sempre!

A oração é a força suave e santa para se opor à força diabólica do ódio, do terrorismo e da guerra. Convido todos os crentes a unir-se à Igreja na Terra Santa e a dedicar a próxima terça-feira, 17 de outubro, à oração e ao jejum. E agora rezemos a Nossa Senhora [Ave Maria...].

A minha preocupação pela crise no Nagorno-Karabakh não diminuiu. Para além da situação humanitária das pessoas deslocadas — que é grave — gostaria de fazer um apelo especial pela proteção dos mosteiros e dos lugares de culto da região. Espero que, a partir das Autoridades e de todos os habitantes, possam ser respeitados e protegidos como parte da cultura local, expressão da fé e sinal de uma fraternidade que torna possível a convivência nas diferenças.

Hoje está a ser publicada uma Exortação Apostólica sobre Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, intitulada «C’est la confiance»: de facto, como testemunhava esta grande Santa e Doutora da Igreja, a confiança no amor misericordioso de Deus é o caminho que nos conduz ao coração do Senhor e do seu Evangelho.

Exprimo a minha proximidade à comunidade judaica de Roma, que amanhã comemora o 80º aniversário da perseguição nazi.

Saúdo todas vós, romanos e peregrinos de Itália e de muitas partes do mundo, especialmente a Arquiconfraria do “Gonfalone” de Subiaco e o Clube “Fiat 500” de Roma.

Saúdo os mais de 400 jovens missionários de Novos Horizontes e de outras associações e comunidades, que desde ontem até ao próximo domingo estão empenhados na “Missão de Rua” aqui em Roma, indo aos lugares de encontro dos jovens, às escolas, aos hospitais, às prisões e às ruas para anunciar a alegria do Evangelho. São pessoas boas! Apoiemo-las com a oração no seu compromisso de escutar o grito de tantos jovens e de tantas pessoas que precisam de amor. Olho para as bandeiras da Ucrânia, não esqueçamos a Ucrânia atormentada.

Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à próxima!