· Cidade do Vaticano ·

Conferência no Vaticano sobre a «Laudate Deum»

Quanto tempo perdido sem intervir

 Quanto tempo perdido sem intervir  POR-041
12 outubro 2023

É importante que a exortação apostólica Laudate Deum seja dirigida não só aos fiéis, mas a todos os homens e mulheres indiscriminadamente, uma vez que os governos não estão preocupados com as alterações climáticas. Foi o que sublinhou Giorgio Leonardo Parisi, Prémio Nobel da Física 2021, durante a conferência reservada aos jornalistas acreditados na Sala de Imprensa da Santa Sé, intitulada «Laudate Deum: vozes e testemunhos sobre a crise climática». O encontro teve lugar na manhã de quinta-feira, 5 de outubro, nos Jardins do Vaticano.

Pode parecer estranho, sublinhou Parisi, que o incipit da exortação seja científico, mas isso serve para se opor a certas opiniões desdenhosas e irracionais. É por isso que a Laudate Deum está escrita numa linguagem clara, simples, compreensível a todos. De facto, por mais que se tente esconder e relativizar, os sinais de mudança são cada vez mais evidentes. O problema do negacionismo, explicou, é que há muita gente, sobretudo políticos, que tentam esconder estes factos que estão à vista de todos.

Outro ponto fundamental do texto do Papa, sublinhou Parisi, é a necessidade de acabar com a ridicularização da questão ambiental por interesses económicos. Pelo contrário, é preciso admitir que se trata de um problema humano e social a todos os níveis. Há décadas, acrescentou, que a ciência alerta para estes efeitos, mas nada foi feito. A este respeito, o Papa sublinhou que é preciso agir, porque existe um problema enorme que necessita de passos decisivos.

Não há dúvida, disse Parisi, que travar as alterações climáticas tem custos financeiros e sociais que afetam a vida de todos. Por outro lado, salientou, é necessário atuar de forma justa e solidária entre todos os países. E os países com maior impacto na mudança devem fazer mais.

Numa ligação online da Índia, Vandana Shiva, cientista, ativista e ambientalista, sublinhou que o Papa nos recorda que estamos todos ligados e que o paradigma tecnocrático nos separa. Existe, acrescentou, uma arrogância destrutiva que não vê o poder e a importância de trabalhar a terra em paz. Carlo Petrini, gastrónomo, sociólogo e ativista, fundador do Slow food, sublinhou que os traços fortes da exortação são o drama e a consciência do momento histórico. Na sua opinião, é preciso ter em conta que passaram oito anos desde a publicação da Laudato sì’, aquando da Cop21 em 2015. Já chegámos à Cop28 em Dubai, que terá lugar entre novembro e dezembro. São oito anos em que a sensibilidade política para a situação ambiental não avançou, aliás, em alguns aspetos, a governação internacional revelou-se insuficiente e criou as condições para que uma parte significativa do sistema ambiental esteja hoje irreversivelmente comprometida.

O Papa, sublinhou Petrini, constata que a situação é difícil de governar a nível político e institucional. Na sua exortação, condena o negacionismo, não só pelos seus aspetos anticientíficos, mas porque cria uma barreira contra a mudança.

O escritor e ensaísta norte-americano Jonathan Safran Foer salientou que a Terra narra uma história que não se consegue aceitar. Há uma falta de vontade de fazer sacrifícios hoje para evitar uma catástrofe futura. O escritor salientou que, tal como existe negacionismo em relação aos acontecimentos da segunda guerra mundial, também existe negacionismo face à emergência climática.

Ligada à distância, Ridhima Pandey, protagonista do filme «A Carta: uma mensagem para a nossa Terra», dedicado à Laudato si’, salientou que, no que diz respeito às mudanças climáticas, é difícil resolver os problemas causados até agora, não há como voltar atrás completamente; mas a exortação apostólica do Papa é uma fonte de inspiração para aqueles que querem fazer alguma coisa.

Luisa-Marie Neubauer, líder das «Fridays for Future» na Alemanha, sublinhou que o que assusta não é apenas a crise, mas a forma como os líderes reagem à mesma. Nos últimos anos, a grande maioria deles deu um passo atrás e começou a fazer de tudo para agradar aos interesses dos combustíveis fósseis e impedir uma verdadeira mudança.

Yann Arthus-Bertrand, cineasta e embaixador da onu para o clima, sublinhou num vídeo que, através do seu trabalho, testemunha o drama das alterações climáticas, documentando os seus efeitos nas pessoas e na natureza.