«Todos somos chamados a criar comunidades prontas e abertas a acolher, promover, acompanhar e integrar quem bate às nossas portas», disse o Papa Francisco na conclusão do Angelus de domingo, 24 de setembro, Dia mundial do migrante e do refugiado. Após o seu regresso de Marselha — onde participou na sessão conclusiva dos “Rencontres Méditerranéennes” — da janela do Palácio apostólico do Vaticano, recitou a oração mariana com cerca de 18.000 fiéis congregados na praça de São Pedro, introduzindo-a com uma reflexão sobre o trecho litúrgico do Evangelho de Mateus (20, 1-16) dedicado à parábola dos trabalhadores enviados para a vinha.
Queridos irmãos e irmãs
bom dia!
O Evangelho da liturgia de hoje apresenta-nos uma parábola surpreendente: o dono de uma vinha sai de madrugada até ao fim da tarde para contratar trabalhadores, mas no fim paga a todos por igual, mesmo aqueles que só trabalharam uma hora (cf. Mt 20, 1-16). Pareceria uma injustiça, mas a parábola não deve ser lida através de critérios salariais; antes, quer mostrar-nos os critérios de Deus, que não calcula os nossos méritos, mas nos ama como filhos.
Detenhamo-nos em duas ações divinas que emergem da história. Em primeiro lugar, Deus sai a todas as horas para nos chamar; segundo, retribui a todos com a mesma “moeda”.
Em primeiro lugar, Deus é aquele que sai a todas as horas para nos chamar. A parábola diz que o senhor «saiu de madrugada a fim de contratar trabalhadores para a sua vinha» (v. 1), mas depois continua a sair a várias horas do dia, até ao pôr do sol, para procurar aqueles que ainda ninguém tinha levado para trabalhar. Compreendemos assim que, na parábola, os operários não são apenas os homens, mas sobretudo Deus, que sai sempre sem se cansar o dia inteiro. Deus é assim: não espera os nossos esforços para vir ao nosso encontro, não faz um exame para avaliar os nossos méritos antes de nos procurar, não desiste se tardamos a responder-lhe; pelo contrário, Ele próprio tomou a iniciativa e, em Jesus, “saiu” ao nosso encontro, para nos manifestar o seu amor. E procura-nos a todas as horas do dia, que, como diz São Gregório Magno, representam as diferentes etapas e estações da nossa vida até à velhice (cf. Homilias sobre o Evangelho, 19). Para o seu coração nunca é demasiado tarde, está sempre à nossa procura e à nossa espera. Não nos esqueçamos disto: o Senhor procura-nos e espera-nos sempre, sempre!
Precisamente por ser tão generoso, Deus — esta é a segunda ação — retribui a todos com a mesma “moeda”, que é o seu amor. Eis o sentido último da parábola: os trabalhadores da última hora são pagos como os da primeira, porque, na realidade, a justiça de Deus é superior. Vai mais além. A justiça humana diz para “dar a cada um o que merece”, ao passo que a justiça de Deus não mede o amor pela balança dos nossos resultados, dos nossos desempenhos ou dos nossos fracassos: Deus ama-nos simplesmente, ama-nos porque somos filhos, e fá-lo com um amor incondicional e gratuito.
Irmãos e irmãs, por vezes corremos o risco de ter uma relação “mercantil” com Deus, confiando mais nas nossas proezas do que na sua generosidade e na sua graça. Por vezes, mesmo como Igreja, em vez de sairmos a todas as horas do dia e estendermos os braços a todos, podemos sentir-nos como os primeiros da turma, julgando os outros que estão longe, sem pensar que Deus também os ama com o mesmo amor que tem por nós. E mesmo nas nossas relações, que são o tecido da sociedade, a justiça que praticamos não consegue por vezes sair da gaiola do cálculo, e limitamo-nos a dar de acordo com o que recebemos, sem ousar ir mais longe, sem apostar na eficácia do bem feito gratuitamente e do amor oferecido de coração aberto. Irmãos e irmãs, perguntemo-nos: eu, cristão, eu, cristã, sei ir ao encontro dos outros? Sou generoso, sou generosa para com todos, sei dar aquele “mais” de compreensão e de perdão, como Jesus fez e faz todos os dias comigo?
Que Nossa Senhora nos ajude a converter-nos à medida de Deus, a do amor sem medida.
No final do Angelus, o Pontífice falou do Dia mundial do migrante e do refugiado, recordando também a sua visita a Marselha nos dias 22 e 23 de setembro. Depois de saudar os grupos de peregrinos presentes, renovou o convite a participar na vigília ecuménica de oração prevista para sábado, 30 de setembro, na praça de São Pedro, em preparação da assembleia sinodal que terá início a 4 de outubro. Por fim, dirigiu o seu pensamento para a «martirizada Ucrânia», exortando os fiéis a rezar «por este povo que tanto sofre».
Caros irmãos e irmãs!
Hoje celebramos o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, com o tema «Livres de escolher se migrar ou ficar», para nos lembrar que migrar deveria ser uma escolha livre e nunca a única possível. De facto, hoje em dia, para muitos, o direito de migrar tornou-se uma obrigação, ao passo que deveria haver o direito de não migrar para ficar na própria terra. A todos os homens e mulheres é necessário que seja garantida a oportunidade de viver uma vida digna na sociedade em que se encontram. Infelizmente, a miséria, as guerras e as crises climáticas obrigam muitas pessoas a fugir. Por isso, todos somos chamados a criar comunidades prontas e abertas para acolher, promover, acompanhar e integrar aqueles que batem às nossas portas.
Este desafio esteve no centro dos Rencontres Méditerranéennes, que se realizaram há poucos dias em Marselha e em cuja sessão de encerramento participei ontem, indo a essa cidade, encruzilhada de povos e culturas.
Agradeço de modo especial aos Bispos da Conferência Episcopal Italiana que fazem tudo o que podem para ajudar os nossos irmãos e irmãs migrantes. Ainda há pouco ouvimos D. Baturi na televisão, no programa “A Sua Immagine”, a explicar isto.
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de muitos países, em particular o seminário diocesano internacional Redemptoris Mater de Colónia, na Alemanha. Saúdo também o grupo de pessoas que sofrem da doença rara conhecida como ataxia, com as suas famílias.
Renovo o convite a participar na Vigília Ecuménica de Oração, intitulada “Togheder — Juntos”, que terá lugar no próximo sábado, 30 de setembro, na Praça de São Pedro, em preparação para a Assembleia sinodal que começará a 4 de outubro.
Recordemos a Ucrânia atormentada e rezemos por este povo que tanto sofre.
Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!