· Cidade do Vaticano ·

Em Marselha para promover vias de integração no Mediterrâneo

People attend the Pope's weekly Angelus prayer in The Vatican on September 17, 2023. (Photo by ...
21 setembro 2023

«Na sexta-feira irei a Marselha para participar na conclusão dos Rencontres Méditerranéennes, uma bonita iniciativa que se realiza em importantes cidades do Mediterrâneo, reunindo líderes eclesiais e civis para promover percursos de paz, colaboração e integração em volta do mare nostrum, com especial atenção ao fenómeno migratório». Com estas palavras, o Papa Francisco apresentou — domingo, 17 de setembro, no Angelus na praça de São Pedro, na presença de cerca de vinte mil peregrinos — o motivo da viagem apostólica que fará nos dias 22 e 23. Antes da recitação do Angelus, o Pontífice propôs esta meditação sobre o tema do perdão.

Estimados irmãos e irmãs bom dia!

Hoje o Evangelho fala-nos de perdão (cf. Mt 18, 21-35). Pedro pergunta a Jesus: «Senhor, se o meu irmão me ofender quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» (v. 21).

Sete, na Bíblia, é um número que indica plenitude, e por isso Pedro é muito generoso nas hipóteses da sua pergunta. Mas Jesus vai mais longe e responde-lhe: «Não te digo sete vezes, mas setenta vezes sete» (v. 22). Diz-lhe, portanto, que quando se perdoa não se calcula, que é bom perdoar tudo e sempre! Tal como Deus faz connosco, e como são chamados a fazer aqueles que administram o perdão de Deus: perdoar sempre. Digo isto aos padres, aos confessores: perdoai sempre como Deus perdoa.

Jesus ilustra então esta realidade através de uma parábola, que tem sempre a ver com números. Um rei, depois de ter sido implorado, perdoa a um servo a dívida de 10.000 talentos: é um valor exagerado, imenso, que varia entre 200 e 500 toneladas de prata: exagerado. Era uma dívida impossível de saldar, mesmo trabalhando toda a vida: mas aquele senhor, que recorda o nosso Pai, perdoa-lhe por pura «compaixão» (v. 27). É assim o coração de Deus: perdoa sempre, porque Deus é compassivo. Não esqueçamos como é Deus: próximo, compassivo e terno; este é o modo de ser de Deus. Mas depois este servo, ao qual a dívida foi perdoada, não tem piedade de outro servo que lhe deve 100 denários. Também esta é uma soma substancial, equivalente a cerca de três meses de salário — como se quisesse dizer que perdoar uns aos outros tem um preço! — mas não é de modo algum comparável à quantia anterior, que o patrão tinha perdoado.

A mensagem de Jesus é clara: Deus perdoa incalculavelmente, ultrapassando todas as medidas. Ele é assim, age por amor e por gratuidade. Deus não pode ser comprado, Deus é gratuito, é todo gratuidade. Não podemos retribuir-lhe, mas quando perdoamos ao nosso irmão ou irmã, imitamo-lo. Perdoar não é, portanto, uma boa ação que se pode fazer ou deixar de fazer: perdoar é uma condição fundamental para quem é cristão. Cada um de nós, de facto, é um “perdoado” ou uma “perdoada”: não esqueçamos isto, nós somos perdoados, Deus deu a vida por nós e de modo algum podemos compensar a sua misericórdia, que ele nunca retira do coração. Mas, correspondendo à sua gratuidade, isto é, perdoando-nos uns aos outros, podemos dar testemunho dele, semeando vida nova à nossa volta. Porque fora do perdão não há esperança, fora do perdão não há paz. O perdão é o oxigénio que purifica o ar poluído pelo ódio, o perdão é o antídoto que cura os venenos do ressentimento, é o caminho para desarmar a raiva e curar tantas doenças do coração que contaminam a sociedade.

Perguntemo-nos, então: acredito que recebi de Deus o dom de um perdão imenso? Sinto a alegria de saber que Ele está sempre pronto a perdoar-me quando peco, até quando os outros não o fazem, ou até quando nem eu próprio me consigo perdoar? Ele perdoa: acredito que Ele perdoa? E depois: sei perdoar, por minha vez, aqueles que me ofenderam? A este respeito, gostaria de vos propor um pequeno exercício: procuremos, agora, cada um de nós, pensar numa pessoa que nos ofendeu e peçamos ao Senhor a força para a perdoar. E perdoemo-la por amor ao Senhor: irmãos e irmãs, isso far-nos-á bem, restaurará a paz nos nossos corações.

Maria, Mãe de Misericórdia, nos ajude a aceitar a graça de Deus e a perdoar-nos uns aos outros.

No final da oração do Angelus, após ter concedido a bênção apostólica, o Papa, depois de ter falado da viagem a Marselha, saudou os grupos de peregrinos presentes na praça de São Pedro, convidando-os a rezar «pelo martirizado povo ucraniano e pela paz em todas as terras ensanguentadas pela guerra».

Queridos irmãos e irmãs!

Na sexta-feira irei a Marselha para participar na conclusão dos Rencontres Méditerranéennes, uma bela iniciativa que se realiza em importantes cidades do Mediterrâneo, reunindo líderes eclesiais e civis para promover caminhos de paz, colaboração e integração em volta do mare nostrum, com especial atenção ao fenómeno das migrações. Trata-se de um desafio que não é fácil, como vemos também nas crónicas destes dias, mas que deve ser enfrentado em conjunto, pois é essencial para o futuro de todos, que só será próspero se for construído na fraternidade, colocando em primeiro lugar a dignidade humana e as pessoas concretas, especialmente as mais necessitadas. Enquanto vos peço para acompanhar esta viagem com a oração, gostaria de agradecer às autoridades civis e religiosas, e a todos aqueles que estão a trabalhar para preparar o encontro em Marselha, cidade rica de povos, chamada a ser um porto de esperança. Desde já saúdo todos os habitantes, na expetativa de encontrar tantos irmãos e irmãs queridos.

E saúdo todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de vários países, especialmente os representantes de algumas paróquias de Miami, a Banda de Gaitas del Batallón de San Patricio, os fiéis de Pieve del Cairo e de Castelnuovo Scrivia, as Irmãs Missionárias do Santíssimo Redentor da Igreja Greco-Católica Ucraniana. E continuemos a rezar pelo martirizado povo ucraniano e pela paz em todas as terras ensanguentadas pela guerra.

E saúdo os jovens da Imaculada!

Desejo a todos bom domingo e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à próxima!