· Cidade do Vaticano ·

Discurso do Papa à International Catholic Legislators Network

Uma alternativa de liberdade à tirania tecnocrática

 Uma alternativa de liberdade à tirania tecnocrática  POR-037
14 setembro 2023

Oferecer uma alternativa credível à «tirania tecnocrática» que hoje impede que o homem viva uma existência autenticamente livre: eis o «desafio que o Papa indicou aos participantes no 14º encontro anual da International Catholic Legislators Network, recebidos na manhã de 26 de agosto na sala Clementina.

Eminências
Excelências
Distintas Senhoras e Senhores
Queridas irmãs e irmãos em Cristo
sede bem-vindos!

Tenho o prazer de vos saudar por ocasião da vossa décima quarta reunião anual, em Frascati. Agradeço-vos a vossa visita.

O tema que escolhestes para o encontro deste ano, Great Power Struggle, Corporate Capture and Technocracy: A Christian Answer to Dehumanizing Trends, toca aspetos vitais da nossa existência. De facto, hoje em dia, o «paradigma tecnocrático dominante» levanta questões profundas «sobre o lugar do ser humano e da sua ação no mundo» (Enc. Laudato si’, 101).

Certamente um dos aspetos mais preocupantes deste paradigma, devido aos seus impactos negativos tanto na ecologia humana como na natureza, é a tentação insidiosa do espírito humano que leva as pessoas — e especialmente os jovens — a um uso distorcido da sua liberdade. Vemos isso quando homens e mulheres são encorajados a exercer mais o controle do que a custódia responsável de ”objetos” materiais ou económicos, dos recursos naturais da nossa casa comum ou até uns dos outros. Esta “coisificação”, que acaba por ter um impacto negativo nos membros mais pobres e mais frágeis da sociedade, pode ocorrer direta ou indiretamente, através de escolhas quotidianas que podem parecer neutras, mas que na realidade são «pertinentes para o tipo de vida social que se pretende desenvolver» (ibid., 107).

Enquanto procurais responder a esta questão e aos muitos desafios que lhe estão associados, promovendo uma doutrina social católica — em particular, sobre a centralidade do valor e da dignidade dada pelo próprio Deus a cada pessoa humana — gostaria de salientar que a própria estrutura da vossa organização pode oferecer-vos um quadro de referência. De facto, sois uma rede internacional e descreveis o vosso objetivo como o de “unir em comunidade uma nova geração de corajosos líderes cristãos”.

O objetivo de qualquer rede é ligar as pessoas, tornando-as conscientes de que pertencem a algo maior do que elas próprias. Este é, de facto, o objetivo declarado de muitas plataformas mediáticas, e certamente é muito bem produzido através destes meios de comunicação. Mas, ao mesmo tempo, é preciso estar atentos, porque, infelizmente, nestes canais de comunicação, também se podem encontrar práticas desumanizadoras de matriz tecnocrática, como a disseminação deliberada de fake news, o fomento de atitudes de ódio e divisão — propaganda “partidária” — a redução das relações humanas a algoritmos, para não falar do fomento de falsos sentidos de pertença, sobretudo entre os jovens, que podem levar ao isolamento e à solidão. Esta utilização distorcida dos encontros virtuais só pode ser superada por uma cultura de encontros autênticos, que implica um apelo radical ao respeito e à escuta recíproca, mesmo daqueles cujas opiniões divergem fortemente das nossas. Também aqui, a vossa rede pode ser um exemplo, pois procurais levar pessoas de todo o mundo a encontrarem-se sinceramente, com genuinidade.

Mas trabalhar em rede não significa apenas reunir pessoas, significa também permitir-lhes cooperar para alcançar um objetivo comum. Podemos pensar nos primeiros discípulos, chamados por Jesus a trabalhar em conjunto, lançando as redes para uma pesca abundante (cf. Lc 5, 1-11); e poderíamos definir as redes como instrumentos a utilizar de forma partilhada para alcançar um objetivo comum.

Estes dois aspetos — ligação e objetivo comum — caraterizam o vosso trabalho e, ao mesmo tempo, refletem a própria vida da Igreja, povo de Deus chamado a viver em comunhão e missão. São estas duas forças, uma “centrípeta” e outra “centrífuga”, que, sustentadas pela força do Espírito Santo, unem as pessoas em comunhão fraterna no interior e, ao mesmo tempo, as impelem para o exterior, na missão comum de anunciar alegremente o Evangelho. Assim, uma rede verdadeiramente cristã é já em si mesma uma resposta às “tendências desumanizadoras”, porque não só tende para as verdades que libertam a existência humana, mas também procura modelá-las nas suas atividades. Por isso, mantendo uma rede internacional genuinamente católica, indicareis com credibilidade uma alternativa à tirania tecnocrática que induz os nossos irmãos e irmãs a apropriarem-se simplesmente dos recursos da natureza e da existência humana, diminuindo a sua capacidade de decisão e de vida autenticamente livre (cf. Encíclica Laudato si’, 108).

Rezo para que o Espírito Santo inspire e guie os vossos esforços para formar uma nova geração de líderes, líderes católicos bem preparados e fiéis, dedicados a promover a doutrina social, a ética da Igreja na esfera pública. Deste modo, contribuireis certamente para o crescimento do Reino de Deus.

Que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e que Deus Todo-Poderoso abençoe os vossos esforços e os faça frutificar. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado.