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O Sínodo é um espaço de diálogo e de oração onde não há lugar para a ideologia

 O Sínodo é um espaço de diálogo e de oração  onde não há lugar para a ideologia  POR-036
07 setembro 2023

No voo de Ulaanbaatar que o trouxe de volta para Roma, a 4 de setembro, o Papa Francisco respondeu às perguntas dos jornalistas acreditados, como é habitual no final das viagens internacionais. Na introdução do diálogo, o diretor da Sala de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, disse entre outras coisas: «Obrigado, Santidade, por estes intensos dias de encontro com um pequeno povo, rico de cultura numa grande terra, como Vossa Santidade a definiu; e também com uma comunidade cristã vibrante, que testemunha a sua fé com vigor». Publicamos a seguir, na íntegra, as palavras do Pontífice.

Papa Francisco — Bom dia a todos vós e obrigado pela vossa companhia. Obrigado pelo trabalho que realizaram. Mostrar, através dos meios de comunicação social, a cultura deste povo, a sua história. Muito obrigado!

Jargalsaikhan Dambadarjaa [The Defacto Gazete] — Muito obrigado por ter visitado a Mongólia, Santidade. Minha pergunta é: Qual era o principal propósito da visita, e está satisfeito com o resultado obtido?

Sim, a ideia de visitar a Mongólia surgiu ao pensar na pequena comunidade católica. Faço estas viagens para visitar as comunidades católicas e também para entrar em diálogo com a história e a cultura dos povos, com aquilo que é a mística própria [o espírito] de um povo. É importante que a evangelização não seja concebida como proselitismo, porque o proselitismo restringe sempre. O Papa Bento xvi disse que a fé não cresce por proselitismo, mas por atração. O anúncio do Evangelho entra em diálogo com a cultura. Há uma evangelização da cultura e também uma inculturação do Evangelho. Porque os cristãos também exprimem os seus valores com a cultura do seu próprio povo. E isto é o contrário do que seria uma colonização religiosa. Para mim, a viagem serviu para conhecer este povo, entrar em diálogo com ele, receber a sua cultura e acompanhar a Igreja no seu caminho com este povo, com muito respeito pela cultura do povo. E estou satisfeito com os resultados.

Ulambadrakh Markhaakhuu [ uls Suld Tv] — Os conflitos na nossa civilização, como atualmente muitos constatam, deveriam ser solucionados apenas através do diálogo, como Vossa Santidade afirmou. Poderia Ulaanbaatar ser a plataforma para um diálogo internacional entre Europa e Ásia?

Penso que sim. Há uma coisa muito interessante, que também incentiva este diálogo. Permitam-me que lhe chame a “mística do terceiro vizinho”, que vos mantém numa política de “terceiro vizinho”. Veja que Ulaanbaatar é a capital de um país muito longe do mar, e podemos dizer que a vossa terra está entre duas grandes potências: a Rússia e a China. E é por isso que a vossa mística é tentar dialogar também com os vossos “terceiros vizinhos”: não por desprezo por estes dois, porque tendes boas relações com ambos, mas por um desejo de universalidade, de mostrar os vossos valores ao mundo inteiro, e também de receber dos outros os seus valores, para que isso vos leve a dialogar. É interessante que, na história, sair em busca de outras terras foi muitas vezes confundido com colonialismo, ou com entrar para dominar. Em vez disso, vós, com a mística do terceiro vizinho, tendes esta filosofia de sair à procura para entrar em diálogo. Gostei muito desta expressão do “terceiro vizinho”. É uma riqueza vossa.

Cristina Cabrejas [ efe ] — Buenos dias, Papa Francisco! Esta é a pergunta do grupo de língua espanhola. Papa Francisco, ontem enviou uma mensagem ao povo chinês, e aos católicos pediu-lhes para serem bons cidadãos, após as autoridades do País não terem permitido aos Bispos vir à Mongólia. A respeito, como estão as relações com a China, neste momento? E existem novidades sobre a viagem a Pequim do cardeal Zuppi para a missão sobre a Ucrânia? Obrigado!

A missão do cardeal Zuppi é uma missão de paz que eu lhe conferi. E ele tinha o plano de visitar Moscovo, Kiev, os Estados Unidos e também Pequim. O cardeal Zuppi é um homem de universalidade e de grande diálogo: tem na sua história o trabalho feito em Moçambique pela paz e tudo aquilo (que fez), e foi por este motivo que o enviei. As relações com a China são muito respeitosas, muito respeitosas. Pessoalmente, tenho uma grande admiração pelo povo chinês, é muito aberto, digamo-lo assim... Para a nomeação dos bispos, existe uma comissão que trabalha com o Governo chinês e com o Vaticano, já há algum tempo: é um diálogo. E, além disso, há alguns padres católicos ou intelectuais católicos que são convidados para ensinar nas universidades chinesas. Nesse sentido, existe um discurso aberto. Penso que temos de aprofundar o aspeto religioso, para nos compreendermos melhor. Que os cidadãos chineses não pensem que a Igreja não aceita a sua cultura e os seus valores e está dependente de outra potência estrangeira. Este caminho amigável é bem feito pela comissão presidida pelo cardeal Parolin: fazem um bom trabalho, também do lado chinês, um bom trabalho; as relações estão — digamo-lo assim, numa palavra — a caminho. Tenho um grande respeito pelo povo chinês.

Depois, que mais perguntava?

Matteo Bruni — Era sobre se havia novidades a respeito da missão do cardeal Zuppi.

O que eu disse no início. Vamos em frente!

Gerard O’Connell [America Magazine] — Santidade, uma vez que as relações entre a Santa Sé e o Vietname são bastante positivas, tendo experimentado um notável avanço nos últimos tempos. Muitos católicos vietnamitas pedem-lhe que os visite, como fez na Mongólia. A minha pergunta é: existe agora a possibilidade de visitar o Vietname, existe um convite do governo para isso? E que outras viagens se planeiam? Obrigado!

O Vietname é uma das mais belas experiências de diálogo que a Igreja teve nos últimos tempos. Eu diria que..., não sei, penso que exista uma simpatia no diálogo. Ambas as partes tiveram a boa vontade de se compreenderem mutuamente e de procurarem formas de avançar. Houve problemas, mas no Vietname vejo que, mais cedo ou mais tarde, os problemas são superados. O Presidente do Vietname esteve aqui há pouco tempo e falámos livremente. A forma como vejo as relações com o Vietname é muito positiva. Há anos que se tem vindo a desenvolver um bom trabalho nesta questão. Lembro-me — penso que há quatro anos — que um grupo de parlamentares vietnamitas veio visitar o Papa: mantivemos um diálogo agradável com eles, muito respeitoso. Quando uma cultura é aberta, existe a possibilidade de diálogo; se existe fechamento ou suspeita, o diálogo é muito difícil. Com o Vietname diria que o diálogo é aberto, com os seus altos e baixos, mas é aberto e lentamente estamos a avançar. Houve alguns problemas, mas foram resolvidos.

Depois, as viagens ao Vietname: se eu não for, João xxiv irá certamente... É certo que ele irá, porque é uma terra que merece uma visita, que tem a minha simpatia. Outras viagens: Marselha...; e depois há uma num pequeno país da Europa que estamos a ver se conseguimos... Mas vou-lhe dizer a verdade, para mim fazer uma viagem agora não é tão fácil como era no início, há limitações para andar e isso condiciona. Mas vamos lá ver.

Fausto Gasparroni [ ansa ] — Santidade, faço esta pergunta em nome do grupo italiano. Recentemente, certas declarações que fez a jovens católicos russos sobre a grande mãe Rússia, o legado de figuras como Pedro, o Grande e Catarina ii , causaram debate. Trata-se de declarações que, digamos, irritaram muito, por exemplo, os ucranianos, tiveram também consequências na esfera diplomática e foram vistas quase como uma exaltação do imperialismo russo e uma espécie de apoio às políticas de Putin. Gostaria de lhe perguntar por que razão sentiu a necessidade de fazer estas declarações, se ponderou fazê-las, se as repetiria; e também, para que fique claro, se nos pode dizer o que pensa dos imperialismos e, em particular, do imperialismo russo?

Consideremos as circunstâncias das declarações: um diálogo com jovens russos. No final do diálogo, dei-lhes uma mensagem, uma mensagem que repito sempre: tomem conta do vosso legado. Isto é o primeiro: tomar conta da própria herança. Digo o mesmo em todo o lado. E com esta visão tento também estabelecer o diálogo entre avós e netos: deixem que os netos assumam a herança. Digo isto em todo o lado, e tem sido esta a mensagem. Um segundo passo, para tornar a herança explícita: falei da grande Rússia, porque a herança russa é muito boa, é muito bonita. Pensem no domínio da literatura, no domínio da música, até chegar a um Dostoievski, que hoje nos fala de um humanismo maduro; ela (Rússia) assumiu esse humanismo, que se desenvolveu, na arte e na literatura. Este seria um segundo plano, quando eu falava do legado. O terceiro, talvez não tenha sido feliz, mas ao falar da grande Rússia, no sentido não tanto geográfico, mas cultural, lembrei-me do que nos ensinaram na escola: Pedro i , Catarina ii , e surgiu este terceiro aspeto, que talvez não seja muito correto, não sei... isto são os historiadores que devem dizer-nos, mas foi um acréscimo que me veio à cabeça porque o tinha estudado na escola. Mas o que eu disse aos jovens russos foi que tomassem conta do próprio legado, que assumissem a própria herança, o que não significa “ir comprá-la” a outro lado, sabem? Assumir a própria herança. E que herança? A da grande Rússia: a cultura russa é de uma beleza, de uma profundidade muito grande, e não deve ser apagada por causa de problemas políticos. Houve anos obscuros — refiro-me à política — na Rússia, mas a herança manteve-se sempre assim, disponível.

A seguir, fala do imperialismo. Na verdade, não estava a pensar no imperialismo quando disse isso, falei de cultura, e a transmissão da cultura nunca é “imperial”, nunca; é sempre um diálogo, e eu estava a falar disso. É verdade que há imperialismos que querem impor a sua ideologia. Eu defendo isto: quando a cultura é “destilada” e transformada em ideologia, esse é o veneno. (Neste caso) a cultura é instrumentalizada, destilada em ideologia. É preciso distinguir: quando falamos da cultura de um povo e quando falamos das ideologias que surgem de algum filósofo, de algum político desse povo. E digo isto a toda a gente, mesmo à Igreja: por vezes são colocadas ideologias no seio da Igreja, que afastam a Igreja da vida que vem da raiz e que vai para cima; afastam a Igreja da influência do Espírito Santo. Uma ideologia não é capaz de se encarnar, é apenas uma ideia. Mas quando a ideologia ganha força e se torna política, normalmente torna-se ditadura, torna-se incapaz de dialogar, de avançar com as culturas. E os imperialismos fazem-no. O imperialismo consolida-se sempre com base numa ideologia. Devemos distinguir, também na Igreja, entre doutrina e ideologia: a verdadeira doutrina nunca é ideológica, nunca; está enraizada no santo povo fiel de Deus; a ideologia, pelo contrário, está desligada da realidade, desligada do povo... Não sei se respondi.

Robert Messner [ dpa ] — Bom dia! Tenho uma pergunta sobre a atualização da sua Encíclica «Laudato si’». Queria perguntar se o seu envolvimento na proteção do ambiente e esta atualização podem ser entendidos talvez como uma demonstração de solidariedade para com grupos de ativistas ambientais como, por exemplo, “Última Geração” (Letzte Generation), estes que fazem protestos espetaculares. Poderá ser entendido como uma demonstração de solidariedade, e talvez haja também uma mensagem para os jovens ativistas nesta atualização, para os jovens que saem para a rua? Muito obrigado!

Falo em geral, sem me deter sobre extremistas. Mas os jovens estão preocupados, porque é o seu futuro! Um cientista muito competente, italiano, num encontro que tivemos na Academia [das Ciências], fez um bom discurso e terminou assim: “Não gostaria que a minha neta, que nasceu ontem, daqui a trinta anos vivesse num mundo tão feio”. Os jovens pensam no futuro. E, nesse sentido, gostaria que lutassem bem. Mas, vejamos: quando [nesta luta] se imiscui uma ideologia ou uma pressão política ou se instrumentaliza num determinado sentido, não resulta. A minha Exortação Apostólica, que sairá no dia de São Francisco, 4 de outubro, é um balanço do que aconteceu depois da Cop de Paris, que até hoje talvez tenha sido a mais frutuosa das Cops: há notícias sobre algumas delas e aspetos que ainda não foram resolvidos e há urgência nisso. Não é tão grande como a Laudato si’, mas dá-lhe continuidade a partir de novos dados. É também uma análise da situação.

Étienne Loraillère [ kto Tv] — Bom dia, Santidade. O Senhor deseja, na Mongólia e no mundo, uma Igreja sinodal. A assembleia de outubro é já fruto do trabalho do povo de Deus. Como podemos envolver nesta etapa os batizados de todo o mundo? Como se consegue evitar a polarização ideológica? E, para caminhar com eles, os participantes poderão falar e compartilhar publicamente o que vivem? Ou o decorrer dos trabalhos será secreto? Obrigado!

Perguntou-me como evitar pressões ideológicas. Pois é isso mesmo: no Sínodo não há lugar para a ideologia, é outra dinâmica. O Sínodo é o diálogo entre os batizados, entre os membros da Igreja, sobre a vida da Igreja, sobre o diálogo com o mundo, sobre os problemas que hoje afligem a humanidade. Se se pensar ideologicamente, o Sínodo termina! Nele não há lugar para a ideologia: há espaço para diálogo, para a discussão entre irmãos e irmãs, e para um confrontar-se com a doutrina da Igreja. E para seguir em frente. Depois, quero sublinhar que isto do Sínodo não é uma invenção minha: foi São Paulo vi que, quando terminou o Concílio Vaticano ii , percebeu que no Ocidente, a Igreja Ocidental, digamos assim, tinha perdido a dimensão sinodal. A Igreja Oriental tem-na. Por isso, ele criou a Secretaria do Sínodo dos Bispos que, nestes sessenta anos, levou por diante a reflexão de forma sinodal, com progressos contínuos. No 50º aniversário desta decisão de São Paulo vi , publiquei e assinei um documento sobre o que é o Sínodo e sobre o que ele realizou. E agora avançou, amadureceu mais, e por isso achei que seria muito bom fazer-se um Sínodo sobre a sinodalidade na Igreja: que não é uma moda, é algo antigo que a Igreja Oriental sempre conservou. Como viver a sinodalidade e como a viver enquanto cristão... como disse antes, sem cair em ideologias. Não sei se respondi ou ainda havia mais alguma coisa...

Étienne Loraillère — O decorrer da assembleia será secreto ou não?

Há uma coisa que devemos salvaguardar: o ambiente sinodal. Não se trata de um programa de tv onde se fala de tudo. Não! Trata-se de um momento religioso, um momento de intercâmbio religioso. Considere que os discursos sinodais duram três a quatro minutos, seguidos de três a quatro minutos de silêncio para oração. Depois, outros três e a oração. Sem este espírito de oração não há sinodalidade, há política, há parlamentarismo. O Sínodo não é um parlamento. Sobre o segredo: há um departamento presidido pelo doutor Ruffini, aqui presente, que emitirá comunicados de imprensa sobre o andamento dos trabalhos. Num Sínodo, é necessário salvaguardar a dimensão religiosa e proteger a liberdade das pessoas que falam. Por isso existe uma comissão, presidida pelo doutor Ruffini, que fornecerá informações sobre o andamento do Sínodo.

Antonio Pelayo [Vida Nueva] — Santo Padre, o senhor acaba de falar do Sínodo e todos concordamos consigo no facto deste Sínodo suscitar muita curiosidade e interesse. Mas, infelizmente, também suscita muitas críticas, oriundas dos meios católicos: quero referir-me a um livro com prólogo do cardeal Burke, que diz que o Sínodo é a caixa de Pandora da qual surgirão todas as calamidades para a Igreja. O que pensa sobre esta posição? E acredita que será uma posição superada pela realidade ou condicionará o Sínodo?

Não sei se já o disse alguma vez, mas há alguns meses telefonei para um Carmelo: “Como estão as monjas, madre?”, perguntei à Priora que me atendeu e que no final me diz [um Carmelo não italiano]: “Santidade, temos medo do Sínodo” — “Mas porquê? Quer enviar alguma irmã para o Sínodo?”, disse eu a brincar. Responde: “Não, temos medo que nos mude a doutrina”. Foi o que o senhor disse: existe esta ideia. Mas, se se for à raiz destas ideias, o que se encontra são ideologias. Sempre, quando na Igreja se quer atacar o caminho da comunhão, é uma ideologia que sempre ataca. E acusam a Igreja disto ou daquilo, mas nunca a acusam do que é verdade: que ela é pecadora. Nunca dizem: “é pecadora”. Defendem uma “doutrina”, entre aspas, que é uma doutrina como a água destilada, não sabe a nada e não é a verdadeira doutrina católica, que se encontra no Credo. Na realidade, muitas vezes a verdadeira doutrina católica escandaliza, como escandaliza a ideia de que Deus se fez carne, se fez homem, que Nossa Senhora conservou a sua virgindade... Isto escandaliza. A doutrina católica às vezes escandaliza. Já as ideologias são todas destiladas, nunca escandalizam.

Cindy Wooden [ cns ] — Bom dia, Santidade. Gostaria de ir no encalço da pergunta do colega francês sobre o Sínodo e a informação. Muitos fiéis leigos dedicaram tanto tempo, oração e envolvimento no falar e na escuta. Querem saber o que se passa durante o Sínodo, a assembleia. E o senhor falou da sua experiência do Sínodo sobre os religiosos, durante o qual alguns membros do Sínodo disseram “não meta isto”, “coloque aquilo”, “isto não se pode dizer...”. Por exemplo, nós jornalistas, se não tivermos acesso pelo menos à assembleia e às sessões gerais, como podemos ter a certeza de que é verdade o que nos é dado como “papa”? Não existe a possibilidade de uma maior abertura aos jornalistas?

Pelo contrário, está abertíssimo, abertíssimo! Há uma comissão presidida por Ruffini, que dará notícias todos os dias: mais aberto que isso não sei... E o importante é que esta comissão respeitará muito o contributo de todos, e procurará não fazer bisbilhotice, mas dizer as coisas que são construtivas para a Igreja, precisamente sobre o andamento do Sínodo. Se alguém quer que a notícia seja: “Este implica com aquele por isto ou por aquilo...”, isto é bisbilhotice política. Não! A comissão tem uma tarefa difícil, ou seja, dizer: “Hoje a reflexão vai neste sentido, segue deste modo”, e transmitir o espírito eclesial, não o espírito político. Um Sínodo é diferente de um parlamento. Não esqueças que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. E como transmitir isto... deve ser transmitido o ritmo eclesial. Mas obrigado, muito obrigado pela coragem de o dizer!

Vincenzo Romeo [ rai tg 2] — Bom dia, Santidade! O senhor é o Papa das periferias e, neste momento, especialmente em Itália, as periferias sofrem muito. Tivemos episódios muito preocupantes de violência e degradação. Perto de Nápoles, por exemplo, onde um pároco, Don Patriciello, inclusive já o convidou a visitar; depois em Palermo... Portanto, o que se pode fazer? O senhor tem experiência nisto, porque costumava visitar as “villas miserias” em Buenos Aires. A nossa primeira-ministra também esteve de visita a uma destas periferias. Bem, discute-se muito. Na sua opinião, o que pode ser feito? O que podem fazer tanto a Igreja como as instituições e o Estado para superar esta degradação e garantir que as periferias sejam verdadeiramente parte de um país?

Sim, com tudo isso o senhor fala das periferias, dos bairros mais pobres... É preciso avançar, ir até lá e trabalhar ali, como se fazia em Buenos Aires com os padres que trabalhavam naquelas zonas: é uma equipa de padres sob a orientação de um bispo auxiliar, que trabalha ali. Temos de ter abertura para esta realidade, os Governos têm de estar abertos, todos os Governos do mundo. Mas há periferias cuja situação é trágica. Recordo de novo uma periferia escandalosa que se procura ocultar: a dos Rohingyas. Os Rohingyas sofrem: não são cristãos, são muçulmanos, mas sofrem porque foram transformados numa periferia, foram expulsos. Temos de ter em conta os diferentes tipos de periferia; e também aprender que na periferia a realidade humana é mais evidente e menos sofisticada. Momentos horrendos. Não quero idealizar, mas percebe-se melhor. Uma vez, um filósofo disse algo que realmente me impressionou: “A realidade compreende-se melhor nas periferias”. Aí é possível entender bem a realidade. Devemos interagir com as periferias, e os Governos devem pôr em ato uma verdadeira justiça social nas diversas periferias sociais e também nas ideológicas. Ir lá para interagir, porque muitas vezes são as periferias ideológicas que originam as periferias sociais. O mundo das periferias não é fácil.

Obrigado!