Pela primeira vez um Pontífice celebrou uma missa em solo mongol. Foi no domingo, 3 de setembro, na Steppe Arena, em Ulaanbaatar, que o Papa Francisco presidiu à Eucaristia na presença de mais de dois mil fiéis vindos de toda a Mongólia e de outros países vizinhos. Este é o texto da sua homilia.
Com as palavras do Salmo, rezámos assim: «Ó Deus, (...) a minha alma tem sede de Ti, todo o meu ser anela por Ti, como terra árida, exausta, sem água» (63, 2). Trata-se de uma invocação estupenda que acompanha a viagem da nossa vida, no meio dos desertos que somos chamados a atravessar. E é precisamente nesta terra árida que recebemos uma boa notícia: no nosso caminho, não estamos sozinhos; a nossa aridez não pode tornar estéril para sempre a nossa vida; o grito da nossa sede não passa despercebido. Deus Pai enviou seu Filho para nos dar a água viva do Espírito Santo a fim de saciar a sede da nossa alma (cf. Jo 4, 10). E Jesus — acabámos de o ouvir no Evangelho — mostra-nos o caminho para ficarmos saciados: é o caminho do amor, que Ele percorreu até ao fim, até à cruz; e de lá chama-nos a segui-lo, perdendo a nossa vida para a reavermos nova (cf. Mt 16, 24-25).
Detenhamo-nos juntos a pensar nestes dois aspetos: a sede que nos habita e o amor que nos dessedenta.
Antes de mais, somos chamados a reconhecer a sede que nos habita. O salmista grita para Deus a sua secura, porque a sua vida se assemelha a um deserto. As suas palavras têm uma ressonância particular numa terra como a Mongólia: um território imenso, rico de história, uma terra cheia de cultura, mas caraterizado também pela aridez da estepe e do deserto. Muitos de vós estão habituados ao encanto e à fadiga de caminhar, atividade que recorda um aspeto essencial da espiritualidade bíblica, presente na figura de Abraão e, de forma mais geral, também no povo de Israel e em todo o discípulo do Senhor: com efeito, todos, todos nós somos «nómadas de Deus», peregrinos à procura da felicidade, viandantes sedentos de amor. Assim o deserto evocado pelo salmista refere-se à nossa vida: somos aquela terra árida que tem sede de água límpida, de água que mata a sede em profundidade; é o nosso coração que deseja descobrir o segredo da verdadeira alegria, aquela que nos pode acompanhar e sustentar mesmo no meio da aridez existencial. É verdade! Trazemos dentro de nós uma sede inextinguível de felicidade; andamos à procura de significado e orientação para a nossa vida, de motivação para as atividades que realizamos cada dia; e sobretudo temos sede de amor, porque só o amor nos sacia verdadeiramente, nos faz sentir bem — o amor faz-nos sentir bem — abre à confiança fazendo-nos saborear a beleza da vida. Queridos irmãos e irmãs, a fé cristã é resposta a esta sede; toma-a a sério; não a remove, não procura aplacá-la com paliativos ou substituintes. Não! Porque, nesta sede, reside o nosso grande mistério: ela abre-nos ao Deus vivo, ao Deus Amor que vem ao nosso encontro para nos fazer filhos seus e irmãos e irmãs entre nós.
E assim chegamos ao segundo aspeto: o amor que nos dessedenta. Primeiro pensámos na nossa sede, existencial, profunda, e agora pensemos no amor que nos dessedenta. Este é o conteúdo da fé cristã: Deus, que é amor, no seu Filho Jesus, fez-se próximo de ti, de mim, de todos, deseja partilhar a tua vida, as tuas fadigas, os teus sonhos, a tua sede de felicidade. É verdade que, às vezes, nos sentimos como terra deserta, árida e sem água, mas é igualmente verdade que Deus cuida de nós e nos oferece a água límpida e refrescante, a água viva do Espírito que, brotando em nós, nos renova, libertando-nos do perigo da secura. Esta água é Jesus quem no-la dá. Como afirma Santo Agostinho, «se nos reconhecermos no sedento, reconhecer-nos-emos também no dessedentado» (Coment. ao Salmo 62, 3). Embora tantas vezes na nossa vida experimentemos o deserto, a solidão, o cansaço, a esterilidade, contudo nunca nos devemos esquecer disto: «Para que não desfaleçamos neste deserto — acrescenta Agostinho — Deus irriga-nos com o orvalho da sua Palavra (...). É verdade que nos faz sentir a sede, mas depois vem saciá-la. (...) Deus teve misericórdia de nós e abriu-nos um caminho no deserto: nosso Senhor Jesus Cristo», e é este o caminho no deserto da vida. «E proporcionou-nos uma consolação no deserto: os pregadores da sua Palavra. Ofereceu-nos água no deserto, enchendo de Espírito Santo os seus pregadores para que neles se formasse uma fonte de água que jorra para a vida eterna» (ibid., 3.8). Estas palavras, queridos amigos, recordam a vossa história: nos desertos da vida e nas limitações por serdes uma comunidade pequena, o Senhor não vos deixa faltar a água da sua Palavra, especialmente através dos pregadores e missionários que, ungidos pelo Espírito Santo, a semeiam em toda a sua beleza. E a Palavra sempre, sempre nos remete para o essencial, para o essencial da fé: deixar-se amar por Deus para fazer da nossa vida uma oferta de amor. Porque só o amor sacia verdadeiramente a nossa sede. Não esqueçamos: só o amor verdadeiramente dessedenta.
É o que Jesus, no Evangelho de hoje, diz em tom forte ao apóstolo Pedro. Este não aceita o facto de Jesus ter que sofrer, ser acusado pelos chefes do povo, passar pela paixão e, depois, morrer na cruz. Pedro reage, Pedro protesta, queria convencer Jesus que estava no erro, porque, segundo ele (e, muitas vezes, pensamos assim também nós), o Messias não pode acabar derrotado, nem de forma alguma morrer crucificado, como um malfeitor abandonado por Deus. Mas o Senhor repreende Pedro, porque este modo de pensar é dos homens, diz o Senhor, e não o de Deus (cf. Mt 16, 21-23). Se pensamos que, para dessedentar a aridez da nossa vida, bastem o sucesso, o poder, as coisas materiais, isso é uma mentalidade mundana, que não leva a nada de bom, antes pelo contrário deixa-nos mais áridos do que antes. Mas Jesus indica-nos o caminho: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há de encontrá-la» (Mt 16, 24-25).
Irmãos, irmãs, o melhor caminho de todos é este: abraçar a cruz de Cristo. No coração do cristianismo, temos esta notícia impressionante, esta notícia extraordinária: quando perdes a tua vida, quando no serviço a ofereces generosamente, quando a pões em risco comprometendo-a no amor, quando fazes dela um dom gratuito para os outros, então a vida volta para ti em abundância, derrama dentro de ti uma alegria que não passa, uma paz do coração, uma força interior que te sustenta. E temos necessidade de paz interior.
Esta é a verdade que Jesus nos convida a descobrir, que Jesus quer desvendar a todos vós, nesta terra da Mongólia: para ser feliz, não serve ser grande, rico ou poderoso. Não! Só o amor nos dessedenta o coração, só o amor cura as nossas feridas, só o amor nos dá a verdadeira alegria. E este é o caminho que Jesus nos ensinou e abriu para nós.
Então também nós, irmãos e irmãs, ouvimos a palavra que o Senhor disse a Pedro: segue atrás de mim (cf. Mt 16, 23), ou seja, torna-te meu discípulo, segue o mesmo caminho que sigo Eu e deixa de pensar segundo o mundo. Então, com a graça de Cristo e do Espírito Santo, poderemos caminhar pelo caminho do amor. Mesmo quando amar significa renunciar a si mesmo, lutar contra os egoísmos pessoais e mundanos, correr o risco de viver a fraternidade. Pois, se é verdade que tudo isto custa fadiga e sacrifício e por vezes significa ter de subir à cruz, é ainda mais verdade que, quando perdemos a nossa vida pelo Evangelho, o Senhor no-la dá em abundância, cheia de amor e alegria, por toda a eternidade.