· Cidade do Vaticano ·

Do “pequeno rebanho” uma lição para o Sínodo

07 setembro 2023

Chama-se Rufina Chamingerel, é uma agente pastoral que no sábado, 2 de setembro, dirigiu algumas palavras ao Papa Francisco durante o encontro na catedral de Ulaanbaatar. Disse: «Ainda não sei como traduzir a palavra “comunidade” na nossa língua... A nossa Igreja está naquela fase típica em que as crianças fazem constantemente perguntas aos pais... Somos deveras felizardos, pois não temos muitos livros de catequese na nossa língua, mas muitos missionários que são livros vivos. Gostaria de sublinhar a eficácia do Sínodo e da sinodalidade. Durante o Sínodo, os nossos fiéis, especialmente os agentes pastorais, conseguiram compreender ainda melhor a verdadeira natureza da Igreja e tiveram uma visão mais completa das nossas paróquias».

Do “pequeno rebanho” católico das estepes mongóis vem uma indicação preciosa para o Sínodo sobre a sinodalidade. O trabalho sinodal aqui vivido permitiu «compreender melhor a verdadeira natureza da Igreja».

Tomando a palavra depois de Rufina, no seu discurso aos católicos da Mongólia o Papa Francisco quis «frisar este termo: comunhão». Pois, explicou, «a Igreja não se compreende segundo um critério puramente funcional: não, a Igreja não é uma empresa funcional», mas «é outra coisa». A palavra “comunhão” explica bem no que consiste a Igreja: «Neste corpo da Igreja, o bispo não age como moderador dos diferentes componentes, talvez com base no princípio da maioria, mas em virtude de um princípio espiritual, segundo o qual o próprio Jesus se faz presente na pessoa do bispo para assegurar a comunhão no seu Corpo místico».

L’Eglise est une Communion é o título de um livro escrito no início dos anos 60 pelo dominicano Jérôme Hamer, futuro secretário da Congregação para a doutrina da fé e cardeal. A eclesiologia da comunhão, afirmava o Sínodo dos bispos de 1985, é «a ideia central e fundamental nos documentos do Concílio Vaticano ii ».

Francisco explicou muitas vezes que o princípio do jogo democrático de maiorias e minorias não é aplicável à vida da Igreja e não respeita a sua natureza. Na capital mongol, o Papa disse: «A unidade na Igreja não é questão de ordem e respeito, nem é uma boa estratégia para “fazer grupo”; é questão de fé e amor ao Senhor, é fidelidade a Ele. Por isso, é importante que todas as componentes eclesiais se unam em volta do bispo, que representa Cristo vivo no meio do seu Povo, construindo aquela comunhão sinodal que já é anúncio e que tanto ajuda a inculturar a fé».

O Sínodo já às portas é a ocasião para experimentar e fazer crescer na consciência o que significa viver a comunhão eclesial, não segundo as lógicas do mundo, não segundo “pseudoagendas” preconcebidas, individuais ou de grupo, mas redescobrindo a comunhão na oração e na escuta recíproca, permitindo que todos se deixem guiar pelo Espírito e assim pondo em prática uma dimensão constitutiva do ser Igreja. Uma dimensão presente na Igreja desde as origens.

Recebendo o prémio “É Jornalismo”, no passado dia 26 de agosto, o Papa Francisco disse: «Precisamente neste tempo, em que se fala muito e se ouve pouco, e em que o sentido do bem comum corre o risco de se debilitar, toda a Igreja empreendeu um caminho para redescobrir a palavra  juntos. Devemos redescobrir a palavra  juntos. Caminhar  juntos. Questionar-nos  juntos. Assumir  juntos o discernimento comunitário, que para nós é oração, como fizeram os primeiros Apóstolos: é a  sinodalidade, que gostaríamos de tornar um hábito diário em todas as suas expressões. Precisamente com este objetivo, daqui a pouco mais de um mês, bispos e leigos do mundo inteiro reunir-se-ão aqui em Roma para um  Sínodo sobre a sinodalidade:  escutar  juntos, discernir  juntos, rezar  juntos».

Assim do coração da Ásia, da Mongólia, de uma Igreja nascente, tão distante de Roma mas tão próxima do coração do Papa, vem uma lição para os padres e madres sinodais que daqui a poucos dias se reunirão em volta do Sucessor de Pedro para rezar, ouvir e discernir juntos o modo de anunciar o Evangelho às mulheres e aos homens do nosso tempo.

Andrea Tornielli