· Cidade do Vaticano ·

O cardeal Marengo fala da alegria pela chegada de Francisco ao país asiático

O pequeno rebanho e a “linda senhora”

 O pequeno rebanho e a “linda senhora”  POR-035
31 agosto 2023

Foi à “linda senhora” que os fiéis da Mongólia exprimiram um desejo: que chovam bênçãos sobre a tão esperada visita do Papa a este país da Ásia Oriental. Para enternecer o seu coração e pedir-lhe que estenda o seu manto de amor sobre a viagem que o Pontífice faz de 31 de agosto a 4 de setembro, não pouparam orações e recitações do santo rosário. Em todas as comunidades católicas para onde foi levada, foi a mesma coisa: as mesmas honras, os mesmos pedidos. Aliás, o nome da “linda senhora” foi escolhido pelo próprio Francisco: ele quis que ela se chamasse Mãe do Céu, criando assim uma ligação com a cultura mongol, que identifica precisamente no espaço sem limites do sol, da lua e das estrelas a sede do divino. E que história extraordinária por detrás daquela estátua de madeira bem esculpida com as feições da Virgem Maria, encontrada numa lixeira no norte da Mongólia por uma mulher, pobre e nem sequer cristã. Foi o cardeal Giorgio Marengo, missionário da Consolata e prefeito apostólico de Ulaanbaatar, capital da Nação, que contou esse acontecimento ao Papa. O mesmo que quis que a “linda senhora” fosse levada, antes do início da viagem de Francisco, numa longa peregrinação que chegou a todas as paróquias, até às mais remotas.

Talvez ainda poucos o saibam, mas a terra que dentro de poucos dias será pisada por um pontífice pela primeira vez foi consagrada à Mãe do Céu. Era a solenidade da Imaculada Conceição de 2022 quando, na catedral de Ulaanbaatar, diante daquela estátua coberta por um manto feito de pedaços de tecido de todas as cores ali colocados para representar as muitas diversidades humanas, o cardeal Marengo confiou toda a Mongólia a Maria. Um acontecimento extraordinário, como a visita do Papa, que se realiza trinta e um anos após o nascimento da Igreja no país e o estabelecimento de relações diplomáticas com a Santa Sé. Tudo isto no rescaldo do colapso do regime comunista. «Ter o sucessor de Pedro entre nós representa uma graça especial para toda a Igreja local», disse o cardeal Marengo numa entrevista aos meios de comunicação do Vaticano. O prefeito apostólico de Ulaanbaatar, no entanto, não ignora também o alto valor histórico, político e social da viagem de Francisco que, não por acaso, tem como tema Esperar juntos: «Idealmente, esta visita pode ser ligada a um evento que ocorreu há oitocentos anos, quando o Papa Inocêncio iv enviou o frei Giovanni da Pian del Carpine como seu mensageiro de paz aos mongóis que estavam às portas da Europa. Em síntese, os primeiros contactos entre os pontífices e os imperadores mongóis já existiam no século xiii ».

Neste Estado que faz fronteira com a Rússia e a China, que tem como fundador o líder Genghis Khan, com uma população de apenas três milhões e meio de pessoas espalhadas por um território de mais de um milhão e meio de quilómetros quadrados, com mais de 30 por cento de habitantes nómadas, os fiéis católicos são um pequeno rebanho. Mil e quinhentos batizados, distribuídos em oito paróquias e uma capela: cinco destes locais de culto situam-se em Ulaanbaatar e quatro em zonas bastante remotas da estepe distante. O cardeal Marengo não hesita em apresentá-la como «uma comunidade pequena, mas viva, empenhada sobretudo em projetos de promoção humana integral: da educação aos cuidados de saúde, passando pela assistência às pessoas mais frágeis». Não faltam caminhos de fé com o pré-catecumenato, o catecumenato, a vida litúrgica e a catequese permanente: «Uma pastoral que procura centrar-se na qualidade da opção de fé das pessoas», assim a define o cardeal. A este pequeno rebanho de fiéis juntam-se cerca de setenta missionários, entre os quais vinte e cinco sacerdotes, cerca de trinta religiosas e alguns leigos, provenientes de vinte e sete nações diferentes. E há ainda outro número que dá esperança ao prefeito: «Nesta estrutura eclesial articulada, devemos contar com dois sacerdotes locais; por enquanto são os únicos, mas estou certo de que aumentarão com o tempo».

Viver segundo o Evangelho, aproveitar plenamente a oportunidade da inculturação e melhorar a formação do clero, dos catequistas e dos agentes pastorais são alguns dos desafios que a Igreja da Mongólia enfrenta atualmente. Mas há outro ao qual o purpurado dedica uma atenção especial: o diálogo inter-religioso, numa nação onde a maioria da população afirma ser de fé budista. «Desde o início», diz ele, «o diálogo inter-religioso marcou profundamente a experiência eclesial na Mongólia. A Igreja católica tem uma necessidade absoluta de se relacionar com os fiéis de outras religiões, em particular com o mundo budista, com o mundo ligado à fé xamânica e com o Islão». É uma dimensão que tem vindo a crescer ao longo do tempo, a ponto que os encontros entre líderes religiosos passaram de uma cadência anual para uma bimensal. «Estes encontros têm lugar em Ulaanbaatar e servem para nos conhecermos melhor e partilharmos os nossos percursos de vida. Nunca poderíamos renunciar a eles», conclui o cardeal.

Federico Piana