· Cidade do Vaticano ·

O Papa em ligação vídeo com os participantes no décimo Encontro nacional dos jovens católicos da Rússia

Fazer germinar sementes de reconciliação neste inverno de guerra

 Fazer germinar sementes  de reconciliação neste inverno de guerra  POR-035
31 agosto 2023

Ser «artífices de paz» e «semeadores de reconciliação» neste «inverno de guerra»: foi a exortação confiada pelo Pontífice aos participantes no décimo Encontro nacional dos jovens católicos da Rússia, realizado em São Petersburgo de 23 a 27 de agosto sobre o tema: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39), o mesmo da Jmj celebrada recentemente em Lisboa. Na tarde de 25 de agosto, em ligação vídeo, o Pontífice dirigiu aos jovens russos as seguintes palavras.

Queridos jovens, que a paz e a alegria de Jesus estejam convosco!

Há três semanas, celebrámos a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa com jovens de todo o mundo. Hoje sinto uma grande alegria por estar aqui a partilhar convosco este momento de fé e de esperança. O lema desta Jornada Mundial da Juventude foi: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). Gostaria de propor três ideias à volta deste lema, para que as possais trabalhar mais aprofundadamente, numa reflexão que podereis fazer em grupo, cada um de acordo com a sua própria experiência.

Primeira ideia: Deus chama e em saída. Deus chama a caminhar, Deus envia-nos a caminhar. Cada um de vós, como Maria, é chamado por Deus. Sim, chamado por Deus, escolhido e chamado. Todos nós somos escolhidos e chamados. Perguntai-vos: «Eu, sou escolhido, sou escolhida? Sou chamado?» Sim, o Senhor chamou-vos desde o início da vossa vida, chamou-vos pelo nome! Chamados antes dos talentos que temos, antes dos nossos méritos, antes das nossas trevas e feridas, antes de tudo, fomos chamados. Chamados pelo nome, face a face. Deus não vai ao amontoado, não. Deus vai ao um-por-um.

Isabel, que era estéril, e Maria, a virgem: duas mulheres que se tornaram testemunhas, de quê?, do poder transformador de Deus. Deus transforma. É esta experiência do amor transbordante de Deus que não pode deixar de ser partilhada. É por isso que Maria se levanta e parte sem demora, imediatamente. Ela deve levantar-se rapidamente. Quando Deus nos chama, não podemos ficar sentados. Temos de nos levantar, e depressa, porque o mundo, o irmão, o sofredor, aquele que está ao lado e não conhece a esperança de Deus precisa de o receber, precisa de receber a alegria de Deus. Levanto-me com pressa para levar a alegria de Deus. Esta é a primeira ideia: somos chamados e em saída.

Segunda ideia: o amor de Deus é para todos e a Igreja é de todos. O amor de Deus pode ser reconhecido pela sua hospitalidade. Deus acolhe sempre, cria, cria espaço para que todos encontrem um lugar e sacrifica-se pelo outro, está atento às necessidades do outro. Maria ficou com Isabel durante três meses, ajudando-a nas suas necessidades. Estas duas mulheres estão a criar espaço para que nasçam vidas novas, João Batista e Jesus. Mas também criam espaço uma para a outra, comunicam uma com a outra. A Igreja é uma mãe de coração aberto, que sabe acolher e receber, sobretudo aqueles que precisam de mais cuidados. A Igreja é uma mãe amorosa, porque é a casa dos que são amados e a casa dos que são chamados. Quantas feridas, quanto desespero pode ser curado onde nos sentimos acolhidos. E a Igreja acolhe-nos. É por isso que sonho com uma Igreja onde ninguém seja supérfluo, onde ninguém seja a mais. Por favor, que a Igreja não seja uma “alfândega” para selecionar quem entra e quem não. Não, todos, todos. A entrada é livre. E depois, que todos ouçam o convite de Jesus para o seguirem, para verem como estão perante Deus; e para este caminho há os ensinamentos e os Sacramentos. Recordemos o Evangelho: quando o senhor do banquete manda chamar às encruzilhadas, diz: «Ide e trazei toda a gente» (cf. Mt 22, 9). Não esqueçais esta palavra: todos. A Igreja é para todos: jovens e idosos, sadios e doentes, justos e pecadores. Era isto que Jesus queria dizer: todos, todos.

E a terceira ideia: é fundamental que os jovens e os idosos se abram uns aos outros. Os jovens, ao encontrarem-se com os idosos, têm a oportunidade de receber a riqueza das suas experiências e das suas vivências. E os idosos, ao relacionarem-se com os jovens, encontram neles a promessa de um futuro cheio de esperança. É importante que vós, jovens, faleis com os idosos, que faleis com os vossos avós, que escuteis os vossos avós, que escuteis a experiência de vida que vai para além da dos vossos pais. O ponto de encontro entre Maria e Isabel são os sonhos. Ambas sonham. Os jovens sonham, os idosos sonham. Foi precisamente o sonho, a capacidade de sonhar, a visão do amanhã que manteve e continua a manter unidas as gerações, como nos recorda o profeta Joel: «Os vossos idosos sonharão, os vossos jovens terão visões» (cf. 2, 28). Assim, os idosos sonham muitas coisas: a democracia, a unidade das nações...; e os jovens profetizam, são chamados a ser artífices do meio ambiente e da paz. Isabel, com a sabedoria dos anos — era idosa — fortalece Maria, jovem e cheia de graça, guiada pelo Espírito.

Caros jovens, não quero fazer um longo sermão. Convido-vos a ser construtores de pontes. Construtores de pontes entre gerações, reconhecendo os sonhos daqueles que vos precederam no caminho. A aliança entre gerações mantém viva a história e a cultura de um povo. Desejo-vos, jovens russos, a vocação de serdes artífices da paz no meio de tantos conflitos, no meio de tantas polarizações de todos os lados, que assolam o nosso mundo. Convido-vos a ser semeadores, a lançar sementes de reconciliação, pequenas sementes que, neste inverno de guerra, não brotarão, entretanto, no solo gelado, mas florescerão numa futura primavera. Como eu disse em Lisboa: tende a coragem de substituir os medos com os sonhos. Substituí os medos com sonhos. Substituí os medos com sonhos. Não sejais administradores de medos, mas empresários de sonhos. Dai-vos ao luxo de sonhar em grande!

Queridos jovens, agradeço-vos o tempo que me dedicastes, por terdes querido partilhar comigo um pouco dos vossos sonhos e esperanças, dos vossos medos e sofrimentos. Agradeço à Varvara o seu testemunho de família. Agradeço ao Alexandre o seu testemunho de vida. Obrigado! E obrigado a todos pelo testemunho que estais a dar hoje, neste encontro.

Convido-vos a olhar para Maria, a encontrar o Senhor, a concebê-lo no coração e a levá-lo depressa, rapidamente, a quem está longe, a levá-lo a quem precisa. Sede um sinal de esperança, um sinal de paz e de alegria, como Maria, para que, com a mesma “humildade da sua serva”, possais também vós mudar a história em que viveis. Preparai-vos para o futuro, ancorados nas raízes dos vossos avós. Saúdo-vos com afeto. Estou feliz por ter falado convosco. Concedo-vos a minha bênção. Rezo por vós e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.